Rua do Sol

www.oocities.org/br/esquinadaliteratura

Início > Autores > Ester Lindoso >
Página relacionada: Seu Lunga


A fantástica construção do nordestino Seu Lunga
1 Introdução

de: Ester Lindoso

A idéia desse trabalho surgiu depois de uma entrevista que eu e minha turma de faculdade fizemos com Joaquim dos Santos Rodrigues, o seu Lunga, quando vislumbrei, numa disciplina de Cultura Brasileira, a interessante possibilidade de estudar o tema cearensidade. No começo a idéia estava pouco clara, e jamais previra que o resultado seria o que agora apresento.

O objetivo dessa monografia é avaliar como se dá o processo de construção da identidade cultural, analisando especificamente a personagem seu Lunga. Minha intenção não é, nem de longe, traçar um perfil de seu Lunga, mas tão somente identificar nele os mecanismos de construção de identidade social, que num primeiro momento são vislumbrados num contexto maior, que é o Nordeste.

Para isso, eu me utilizei de duas fontes principais: a nona edição da revista Entrevista, produzida pelos então estudantes de sétimo semestre de 98.1 do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará, entre os quais eu também; e dois cordéis sobre seu Lunga, ambos escritos por um conterrâneo seu, Abraão Batista.

Além da visita feita a seu Lunga por ocasião da entrevista publicada em Entrevista, uma outra visita a ele e a Abraão Batista em novembro de 99 forneceu pistas importantes para as conclusões a que cheguei.

A simples menção da palavra Nordeste traz à mente uma série de imagens. São imagens textuais, visuais, sonoras, olfativas e gustativas. É a identidade nordestina. Embora elas sejam tidas como um retrato da região, esse trabalho examina os processos através dos quais essa identidade é formada, e através dele é possível verificar que identidade não é descrição da natureza de algo, mas a construção dessa descrição. Construção implica em partir de um terreno vazio, para, a partir de materiais variados, chegar a um edifício, que terá a forma que der aquele que o constrói. Esse processo exige a criatividade de um arquiteto e das mãos construtoras dos pedreiros. A construção tem uma finalidade definida, ela não é levantada despropositadamente.

Assim também acontece na construção do Nordeste, ou como denomina Durval Muniz de Albuquerque Jr., na "invenção do Nordeste." Tijolo sobre tijolo, essa construção foi crescendo e formou o que eu chamo no primeiro capítulo de "a construção fantástica." A finalidade é legitimar e tornar o Nordeste reconhecível diante da nação enquanto região. Essa construção é fundamental para nordestinos e não-nordestinos, como delimitação de território cultural, de poderes e deveres dentro do contexto maior do Brasil.

É sobre a necessidade desse processo de construção e seus mecanismos que trata o primeiro capítulo. Nele eu faço um mergulho no Nordeste, identifico as marcas identitárias que se ligam a ele e a mim, que sou nordestina. A única subdivisão desse capítulo fala sobre o sujeito nordestino, ou melhor, sobre a construção que define o típico nordestino. O objetivo desse capítulo é contextualizar seu Lunga, objeto principal desse trabalho, além de ser importante para a comparação e explicação da própria construção dessa personagem.

Particularmente, Nordeste: a construção fantástica, foi o capítulo mais prazeroso de ser escrito. O processo de feitura desse capítulo não podia ter sido mais próximo à minha própria realidade; a cada dia havia um exemplo novo que me fazia compreender melhor a importância e as estratégias usadas nessa composição.

Em seguida, vem o capítulo que traz o suporte teórico desse trabalho. Nele exponho os quatro pilares sobre os quais discuto a construção da identidade de seu Lunga: imaginário, identidade, estereótipo e humor. Inicialmente esses quatro conceitos pareciam ser independentes e terem apenas um ponto de ligação com o objeto. Mas ao longo da escritura do capítulo, tornou-se clara a ligação que tinham entre si e as múltiplas maneiras como se ligavam ao objeto. Utilizo-me nestes capítulos dos seguintes teóricos: François Laplantine e Liana Trindade (imaginário); Durval Muniz de Albuquerque Jr. e Maura Penna (identidade); J. Maisonneuve (estereótipo) e Vladímir Propp (humor).

O terceiro capítulo é o que mais diretamente inclui o principal objetivo desse trabalho. O capítulo inicia-se com o fantástico mundo do Juazeiro, que abre as portas para uma construção tão fantástica quanto o Nordeste: seu Lunga. Nele eu analiso seu Lunga sob várias perspectivas: o homem, o nordestino, a personagem, ele por ele mesmo, ele pelos outros, e, finalmente, a análise da Revista Entrevista e dos cordéis.

A entrevista é importante fonte de observação de como se dá a construção da identidade da personagem seu Lunga, e como se dá o agenciamento desse texto. Mostra que "invenção" é o imaginário em ação, elemento sempre presente nessa estratégia construtiva e que não tem a ver com veracidade ou não, mas com o objetivo que se quer ter com essa imagem. É possível observar também que esse imaginário é importante para a humorização, já que caricaturar é justamente pegar um elemento qualquer e exagerá-lo. Esse exagero abre portas para o que o imaginário quer dizer, e, depois, vem a rotulação estereotípica, que simplifica e marca a identidade do seu Lunga nas mentes do povo.

Da mesma forma como na Revista, procuro nos cordéis todos os elementos utilizados na construção dessa personagem. Tanto em um como em outro, houve um exercício de reconhecimento das estratégias presentes nesse processo.

Este trabalho é mais elucidativo que conclusivo. Ao longo dele é possível ver todos esses mecanismos em ação, como, de maneira prática, essas estratégias de construção de identidade são usadas e como essas imagens construídas são agenciadas.

 

Índice

0 Sobre o trabalho (créditos e bibliografia)
1 Introdução
2 Nordeste: a construção fantástica
2.1 O sujeito nordestino
3 Identidade Nordestina: de imaginário, estereótipos e humor
4 Seu Lunga ( Juazeiro; o homem seu Lunga; a personagem seu Lunga)
4.4 O nordestino seu Lunga ( 4.5 Seu Lunga por ele mesmo; 4.6 Seu Lunga pelos outros; 4.7 A revista Entrevista; 4.8 Os cordéis)
5 Conclusão

Topo

 


Início | Autores | Escolas Literárias
1998-2007 Esquina da Literatura - InfoEsquina