Porto
Alegre, 05 de fevereiro de 2002. Estimado(a)s
companheiro(a)s: O
mundo assistiu, em 11 de setembro de 2001, o ato de terrorismo que
atingiu o símbolo do poderio econômico dos EUA e, na seqüência, a
reação do "império", como se fosse a polícia do planeta,
arrasando o miserável Afeganistão, até então dominado pelo
fundamentalismo talibã. É mais um episódio na esteira de violência
que vitima milhões de seres humanos, produzindo morte, seja por
sofisticados equipamentos eletrônicos, seja pela agonia lenta da fome e
da doença. A
vizinha Argentina entrou em colapso econômico e em profunda crise
institucional após ter aplicado a receita completa da política
neoliberal, desconstituindo o país e suas riquezas, lançando o povo na
miséria, no desemprego e na desesperança. No Brasil, os partidos da
ordem excludente pregam abertamente o ódio ao Partido dos Trabalhadores
e aos seus governos, criando uma atmosfera subjetivamente propícia para
a violência física contra nossos militantes e filiados. As classes
dominantes reagirão violentamente à possibilidade de perderem os seus
ricos privilégios atentando contra a nossa frágil e insuficiente
democracia e colocando em risco as saídas constitucionais para a crise
que se vive. Nosso país também vem aplicando, há dez anos, essa mesma
política neoliberal e sofre com as conseqüências – embora sem a
dramaticidade argentina. Exemplo gritante dos prejuízos causados por
este processo é o caso da holding americana Exxon e seu braço gigante da energia, a Enro, que
aplicou um golpe econômico de 60 bilhões de dólares, influenciou os
governos latino-americanos para a privatização da energia elétrica e
do saneamento e, depois, faliu. No Brasil, vemos as conseqüências da
privatização da energia com os "apagões". Chile, Argentina
e Bolívia, por sua vez, sofrem com os danos da privatização das águas
– o que, aliás, o governo FHC quis impor no ano passado, no Brasil,
mas não obteve sucesso graças à mobilização popular. Para romper em
definitivo com este ciclo é preciso eleger Lula Presidente do Brasil e
inaugurar, pela primeira vez na história republicana, um governo de
esquerda com compromissos de mudar radicalmente a economia, a política
e a cultura dominante através da participação dos cidadãos e da
distribuição dos bens socialmente construídos. Esta possibilidade, se
realizada, mudará decisivamente os rumos das nossas vidas e militâncias.
Este
é um quadro complexo e, muitas vezes, atordoante. Temos compartilhado
esperanças e sonhos, vivido momentos de alegria e frustrações. A
convicção de que somos construtores da nossa própria história nos
deu a energia necessária para a luta e foi assim que ajudamos a
construir o primeiro governo do PT em Porto Alegre e suas sucessivas vitórias.
E, depois de 20 anos, a militância petista e toda uma geração de
lutadores sociais elegeram o primeiro governo de esquerda no nosso Rio
Grande. Esta experiência, com seus limites, erros e acertos, estará em
debate e em julgamento pelo povo gaúcho em 2002. Para que possamos
enfrentar este desafio, defendo a luta pela unidade do nosso partido em
torno do nome que reúna, neste momento, as melhores condições para
vencer as eleições para o governo do Estado e reeleger nosso projeto
político. Recolho, de tudo o que tenho visto e ouvido, que este nome é
o do prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro. Estou empenhado na construção,
se possível, de um consenso em relação à sua candidatura e quero
contribuir na campanha eleitoral.Tenho me dedicado à atividade política
desde os tempos em que ainda morava na minha cidade natal, Santa Maria.
Foi lá que iniciei minha militância, mais propriamente na Universidade
Federal, onde me formei em engenharia elétrica. Vivo em Porto Alegre
com minha família desde 1986, quando coordenei a campanha do meu amigo
e companheiro Tarso Genro para Deputado Federal Constituinte. Sua
candidatura, naquele ano, conseguiu 48 mil votos! Nestes últimos 17
anos, ajudei a eleger o primeiro governo petista da Capital, com Olívio
Dutra como prefeito e Tarso Genro como vice. Fui conhecendo e aprendendo
sobre esta grande cidade. Quando Tarso Genro se elegeu prefeito, em
1992, fui nomeado Secretário Municipal de Obras e Viação. Permaneci
nesta condição também no governo do companheiro Raul Pont. Foram,
portanto, oito anos de intenso trabalho e dedicação à cidade e à
atividade pública executiva como secretário. Orgulho-me,
profundamente, de ter feito um trabalho que foi reconhecido e de ter
conquistado tantos amigos e companheiros neste rico período da minha
vida. Tamanha honra só se iguala ao sentimento de dever cumprido e à
satisfação de ver que quase a totalidade das grandes intervenções e
obras urbanas de Porto Alegre, nestes últimos 12 anos, estiveram sob a
minha coordenação. Muitas delas, aliás, ainda hoje estão em execução,
como é o caso da III Perimetral e da Av. Juca Batista. Em
2000, fui estimulado por um conjunto de companheiros a concorrer ao
cargo de vereador. Paralelamente, buscaríamos eleger novamente Tarso
Genro prefeito de Porto Alegre, para dirigir, então, o quarto governo
consecutivo do PT e da Frente Popular. Foi uma campanha emocionante e
vitoriosa, onde vi companheiros de todas os setores sociais e pontos da
cidade apoiando minha candidatura. O trabalho foi recompensado com a
terceira votação da legenda do PT: obtive 9.539 votos, distribuídos
uniformemente em todas as zonas eleitorais e regiões do Orçamento
Participativo. No primeiro ano de mandato, fui escolhido Líder da
Bancada do PT e do Governo na Câmara Municipal. Dirigi, neste período,
uma bancada com muitos vereadores estreantes – inclusive eu – e com
uma composição ricamente heterogênea. No entanto, isto não impediu
que tivéssemos uma atuação unificada e bem sucedida. Com nove
vereadores, o governo e a bancada tiveram importantes vitórias em 2001.
É o caso da aprovação da previdência pública para os servidores, da
emenda que consagrou a água como bem público na Capital, da manutenção
das regras para abertura do comércio aos domingos, do plurianual, da
lei do orçamento 2002, do debate sobre a planta de valores e as alíquotas
progressivas para o IPTU – projeto que acabou não sendo votado –,
etc. Isto só foi possível graças ao trabalho, à capacidade de
negociação, ao diálogo, à unidade da bancada e aos enfrentamentos
travados quando necessários. A
ação conjunta da bancada e do governo foi decisiva para o bom
desempenho na Câmara. Adeli Sell, Helena Bonumá, Sofia Cavedon,
Marcelo Danéris (vice-líder), Aldacir Oliboni (vice-líder), Maria
Celeste, Maristela Maffei e Juarez Pinheiro foram desprendidos
colaboradores. Destaco, em reconhecimento, que os quatro últimos
vereadores citados foram os que me incentivaram a apresentar o meu nome
para substituir o de José Fortunati (hoje no PDT) como candidato da
Frente Popular (PT, PSB e PCdoB) a Presidente da Câmara Municipal, em
respeito ao acordo que foi, posteriormente, traído pelo PMDB, PSDB e
PFL. Esta honrosa distinção devo à compreensão e ao estímulo destes
dedicados companheiros e à aprovação da bancada e dos partidos da
Frente. Portanto,
o ano de 2002 será muito importante para as nossas vidas e nos reserva
grandes desafios, dos quais pretendo participar decisivamente.
Importantes nomes do nosso partido, que hoje são deputados estaduais,
estarão concorrendo à Câmara Federal. Este fato abre um leque de boas
alternativas – desde que bem trabalhadas. Vou sustentar, dentro das
minhas possibilidades políticas, as candidaturas para deputado federal
da corrente PT Amplo e Democrático. Devemos apostar na eleição de, no
mínimo, um deputado federal. Minha disposição a respeito da tática
que devemos adotar durante a campanha relaciona-se com as opiniões políticas
que defendo e, em grande
medida, com o futuro do PT
no Estado. O
mandato de vereador, neste breve período, foi construído com muito
trabalho, muita dedicação e extrema seriedade política. O
reconhecimento e a visibilidade adquiridos consolidou e ampliou minhas
relações sociais em Porto Alegre e avalio que repercutiu positivamente
no Estado. A minha trajetória como dirigente nacional do PT por três
mandatos consecutivos, a minha ação como um dos fundadores e atual
coordenador estadual da corrente PT Amplo e Democrático, a minha
intensa atividade pública na Prefeitura Municipal de Porto Alegre,
agora complementada e qualificada com a experiência no Legislativo, fez
com que eu tomasse importantes decisões para este ano. Toda a experiência
acumulada durante minha militância quero colocar a serviço, mais uma
vez, do PT para a sustentação do nosso projeto nacional e estadual.
Para isto, em 2002 vou, primeiramente, dedicar-me a eleger Lula
Presidente do Brasil e reeleger o nosso segundo mandato no governo do
Estado. E, em razão do que, resumidamente, foi exposto neste documento
e após discussão com vários companheiros, decidi apresentar o meu
nome para compor a nominata do PT como candidato a deputado estadual. Sinto-me
preparado e motivado para esta nova etapa da minha militância política
e gostaria de, nesta caminhada, contar mais uma vez com o inestimável
apoio e contribuição dos amigos e companheiros. Receba
um fraterno abraço e as minhas considerações de estima pessoal. Cordialmente,
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