O Mal da Pesquisa no Brasil
(por: Erica Rocha e Renato
Araújo)
O investimento em ciência
e tecnologia, que se dá através do incentivo à
formação de pesquisadores, bem como através do fortalecimento
da educação em todos os níveis, é de vital
importância para o desenvolvimento de um país.
Trata-se de um investimento
a longo prazo, porém de retorno garantido. Investindo na formação
de pesquisadores, o Brasil exportou quase 2 bilhões de dólares
em aviões a jato e 3 bilhões em soja o ano 2000.
No ano de 2001, a União
teve uma arrecadação muito superior àquela dos anos
anteriores. A despeito disso, descontada a inflação, a verba
destinada ao ensino superior vem sendo drasticamente reduzida. As
despesas com instalações, laboratórios e equipamentos
tiveram uma queda de 82% no período de 1995 a 1998. A verba total
investida pelo CNPq apresentou uma redução de 16 % de 1995
a 2001, em virtude dos cortes de bolsa de mestrado e doutorado, principalmente,
e do congelamento de todas as bolsas há mais de 7 anos. Esse congelamento
vergonhoso inibe a capacidade de criação de nossos pesquisadores
e é a principal razão do descontentamento geral.
Apenas 2475 dos 50.000 estudantes da
USP têm bolsa de iniciação científica, agora
também negada àqueles com mais de 24 anos. Pelo visto, o
governo quer se ver livre da obrigação de investir em pesquisa
e, com uma visão ingênua de economia de fluxo de caixa,
aos poucos vai permitindo a invasão de empresas do setor privado
para fazer “parceria” com a Universidade. Em outras palavras, a universidade
entra com a infra-estrutura, os recursos humanos e sai sem nada, uma vez
que esse investimento não é a fundo perdido, mas sim, exige
troca e, no mais das vezes, lucro pesado. Observa-se significativas disparidades
de remuneração entre os pesquisadores, resultado das pressões
do mercado. Porém, a pesquisa aplicada, em um futuro não
muito distante, também ficará comprometida pela falta de
investimento em pesquisa de base. Além disso, a pesquisa de base
é deixada de lado, uma grande parte dos trabalhos fica engavetada,
a fim de favorecer a pesquisa aplicada - a verdadeira universidade é
esmagada pelo mercado.
Mesmo aqueles pesquisadores que encaixam nessa
malha fina e que resistem a todas essas provações têm
seu trabalho muito prejudicado, apesar de demonstrarem grande perseverança.
Aquele que é pesquisador ou aspira a um lugar ao sol, não
pode manter-se unicamente com o que recebe pela sua pessquisa, a não
ser que sua família possa contribuir com seu sustento, e então
procura outras atividades não relacionadas a seu interesse profissional.
Com o sucateamento do ensino fundamental e médio gratuito, o ingresso
nas universidades fica praticamente restrito a estudantes de classe
média alta. Estudantes economicamente auto-suficientes. A elitização
da universidade é muito interessante para o governo que gradualmente
vai desviando a verba destinada à universidade para geralmente aplicá-la
em obras que rendam votos e também onde o FMI determina.
É indispensável que os estudantes,
pesquisadores e toda a sociedade notem o quão destoada e faltosa
tem sido a política do atual governo para com a educação
e a pesquisa, contribuindo para a manutenção da dependência
do país, que terá de continuar comprando tecnologia do primeiro
mundo.