História
do Desenvolvimento Regional |
Fonte:
Jornal Cidade (Ano1-nº19) 04 de Abril de 2004 < www.jornalcidade.com
>
Artigo
de: Júlio
Cesar Collaço Sani
professor e pesquisador da Cultura e História Regional.
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Ciclo
do Algodão em Araçoiaba da Serra |
Benefício e industrialização dessa importante matéria-prima
(ouro branco) |
No Brasil, desde o início
da época colonial, o algodão era cultivado em pequena escala, nos
grandes latifúndios pelo interior das capitanias. |

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Como havia leis rigorosas impostas por Portugal sobre a
implantação de indústrias no Brasil, objetivando a importação de
produtos da Europa, principalmente da Inglaterra, o algodão arbóreo era
apenas utilizado para a confecção de sacarias para produtos agrícolas
(café e açúcar) e também vestimentas grosseiras do enorme contingente
de escravos, empregados no árduo trabalho agrícola e da mineração. |
No correr do século XIX,
a Coroa Britânica incentivou a implantação de indústrias têxteis,
alimentadas com o algodão cultivado em suas colônias na África, Ásia e
principalmente na América do Norte. |
Os estados agrícolas dos Estados Unidos produziam
cereais, tabaco e principalmente o algodão herbáceo à custa de mão-de-obra
escrava. O algodão americano, após descaroçado e penteado era enfardado
e enviado às industrias inglesas, ávidas pela matéria-prima,
transformada em tecidos de boa qualidade. |
Porém a Guerra Civil (Secessão) assolou por anos a fio
os estados cujas fontes econômicas embasavam-se na agricultura, havendo a
interrupção na produção de exportação de algodão, para a poderosa
Inglaterra, de forte economia sustentada pela industrialização e comércio
de produtos. |
Sentindo as conseqüências abalarem as estruturas das indústrias
têxteis, os grandes empresários ingleses resolvem implantar indústrias
no Brasil, principalmente na província de São Paulo durante a 2ª metade
do século XIX. Assim vieram os Speers, Oetterer, Kenworthy, Mailasky, de
procedência inglesa, empresários com o objetivo de montarem grandes indústrias
têxteis na região de Sorocaba e incentivarem o plantio em larga escala
do algodão arbóreo, fornecendo sementes, financiando os agricultores,
comprando toda a produção, fornecendo ferramentas, etc. |
Dessa maneira, localidades como Sorocaba, Araçoiaba da
Serra, Sarapuí, Itapetininga, Tatuí e Salto de Pirapora se dedicaram
inteiramente na produção do "ouro branco", para abastecerem de
fibra as prósperas tecelagens, onde milhares de operários ganhavam a
vida no dia a dia. |
Capitalistas brasileiros tais como Pereira Inácio,
Fonseca, Scarpa e Pereira da Silva também investiram no setor têxtil em
Sorocaba. |
Sorocaba, devido à isso, foi denominada de
"Manchester Paulista", em razão à famosa Manchester no país
britânico.
Após esse resumo histórico abordando o Ciclo do Algodão
e as indústrias têxteis, suas origens e etc, agora vamos nos convergir
para a antiga Campo Largo (atual Araçoiaba da Serra), grande produtora e
beneficiadora de algodão do tipo herbáceo.
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A Zona Rural era uma significativa produtora do algodão
herbáceo, principalmente nos Bairros do Jundiacanga, Cercado, Aparecida,
Jundiaquara e Campininha. Além do algodão, em menor escala produziam
milho, arroz, feijão e mandioca. |
O município era de economia estritamente embasada na
agricultura.
Na pequena povoação de campo Largo havia alguns
estabelecimentos voltados ao benefício do algodão. Dois se destacaram
como os ricos empresários Antonio Mursa Rosa (Antonio Turco) e o português
Manoel Machado de Oliveira, ambos residentes na área central da pequenina
cidade.
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Das áreas produtoras (sítios e fazendas), a safra de
algodão era transportada até as "máquinas" de beneficiar,
através de carroças puxadas a burros, carretas e carros de bois, em
bombo de muares (burros e mulas) nas cangalhas e mais tarde em pequenos
caminhões. |
Nas
beneficiadoras, as máquinas retiravam as sementes
(caroços), limpavam as fibras e depois as prensas enfardavam o algodão.
Esses fardos pesavam, em média, seis arrobas (90kg).
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As sementes eram descartadas, pois aqui não se utilizava
o sistema de óleo dos caroços do algodão, como um subproduto para gerar
renda. |
No Bairro Jundiacanga (que no tronco lingüístico tupi,
significa cabeça de bagre), existe uma estreita estrada de terra
conhecida como estrada da máquina. Essa estrada liga a estrada vicinal
asfaltada (principal), partindo das proximidades da escola municipal,
passando pelo Indaiazal, chegando novamente na estrada asfaltada perto do
Posto de Saúde do bairro. |
Na baixada, existe um pequeno córrego, atualmente
assoreado pelo areião das enxurradas. Na beira, havia, bem antigamente
uma velha caldeia motriz a vapor que impulsionava uma máquina de descaroçar
algodão. |
Os agricultores das redondezas negociavam suas safras com
o dono da máquina. Tropas cargueiras transportavam os fardos de algodão
bruto de diversos pontos do município para suprir a beneficiadora da
preciosa fibra. |
Até do distante
Guaxinduva, às margens do Rio Pirapora
havia fornecedores de algodão para a "máquina" do Jundiacanga. |
Outra máquina de beneficiar algodão muito antiga
localizava-se numa propriedade rural, situada às margens do ribeirão
Iperó, no Bairro da campininha, onde como testemunha muda da época,
ainda existe um velho casarão já bem desgastado pela ação destruidora
das intempéries. |
Toda essa imensa quantidade de algodão, procedente das
safras em solo Campolarguense, após descaroçada e enfardada, seguia para
as diversas fábricas de Sorocaba, onde era transformada em tecidos de vários
padrões visando atender várias classes sociais. |
Fica confirmada, a importante participação do antigo
município de Campo Largo (Araçoiaba da Serra), no Ciclo do Algodão, na
época denominada "ouro branco", que gerou uma economia sólida,
engrandecendo e destacando significativamente a cidade de Sorocaba, cujas
origens estão fundamentadas através dos heróicos bandeirantes, dos
tropeiros, dos ferroviários e operários das grandes indústrias têxteis.
Infelizmente, hoje tudo isso faz parte da memória histórica e cultural
de um povo que construiu essa nossa pujante nação. |
*** |
Nossos
agradecimentos ao Prof.Júlio
Cesar Collaço Sani, |
Pesquisador
da Cultura e História Regional e Artesão conceituado. |
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