A VIGÉSSIMA QUINTA HORA
 
Uma Lenda conta que alguns anjos, preocupados, disseram ao Criador 
que os homens quase não rezavam mais. Um grupo deles foi, então, 
encarregado de investigar melhor o problema, para descobrir suas 
causas. 
A comissão fez pesquisas e chegou à conclusão de que os homens 
reconheciam, sim, a importância da oração. Faltava-lhes, contudo, 
o tempo necessário para rezar, absorvidos que estavam em mil 
outras ocupações.

Um dos anjos propôs, como solução, uma diminuição forçada da agitação 
da vida moderna: outro, que os homens fossem castigados, para que 
assim aprendessem a respeitar os direitos do Criador. A idéia aceita, 
contudo, surgiu quase no final do encontro: 
"Já que homens e mulheres diziam não ter mais tempo, que Deus 
acrescentasse uma hora extra a seus dias, e essa hora devia ser 
totalmente dedicada à oração". 
A proposta foi aprovada pelo Senhor e o dia passou a ter vinte e cinco 
horas.

Transcorrido um bom tempo, e para surpresa dos anjos, não havia 
chegado ao céu mais orações. Foi formada uma nova comissão para 
estudar o inesperado fenômeno. Os anjos vieram, viram e constataram 
que as reações à hora extra eram diferentes, de pessoa para pessoa, de 
grupo para grupo.

Os homens de negócio, gratos pelo dia mais longo, disseram que ainda 
não tinham se acostumado a tal mudança: os lucros maiores e as 
preocupações com o pagamento das horas extras a seus funcionários não 
lhes possibilitavam tempo para rezar. Um anjo foi ao sindicato e ali o 
receberam gentilmente. Explicaram-lhe, porém, que tal hora era uma 
antiga reivindicação dos trabalhadores, que há muito estavam querendo 
mesmo mais tempo para lazer. Os intelectuais, por sua vez, argumentavam 
que não ficava bem determinar a pessoas adultas o que fazer com seu 
tempo. Alguns teólogos disseram ao anjo que essa vigésima quinta hora 
tinha vindo no momento certo: estavam mesmo querendo escrever sobre a 
oração, mas faltava tempo para isso. Agora, quem sabe, o livro sairia...

Enfim, cada qual tinha sua desculpa para não dedicar a hora extra à 
oração. Os anjos constataram, porém, que algumas pessoas tinham 
acolhido com alegria esse dom de Deus e rezavam mais. Contudo, eram as 
mesma que antes já encontravam tempo para rezar.

Conclusão: a oração não é uma questão de tempo, mas, sim, de amor. O 
tempo, por si só, não produz homens de oração. Quem nunca reza nunca 
encontra tempo para rezar, mesmo que seus dias sejam longos. Quem ama 
sempre encontra tempo para fazê-lo. Por isso, os anjos pediram ao 
senhor que fosse revogada a vigésima quinta hora e cancelada a sua 
lembrança na mente dos homens. 

E assim aconteceu.    


Dom Murilo Krieger
Enviado por Regina Suppi - Visitante de Fonte para reflexão


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