QUEM DISTRIBUI O MAL
 
Josefa era uma jovenzinha de 15 anos, que ao perder seus pais na Espanha 
acompanhou uma família que emigrara para Cuba. Em Havana a garota foi 
trabalhar na casa de um rico negociante também espanhol. Este possuía uma 
filha única, talvez mais jovem do que Josefa e que se chamava Ester. Era 
sobremaneira pretensiosa e cheia de vontade.

A pobre Josefa, que havia crescido numa pequena aldeia onde todos se conheciam e 
cultivavam a mais perfeita amizade, certo dia, ingenuamente, dirigiu-se a Ester. 
Nem houve resposta, mas a menina rica demonstrou em seu semblante todo o 
desprezo possível.

Entretanto, Josefa era simples e não compreendeu o gesto da garota. Voltando 
outra vez a dirigir-lhe novamente a palavra, foi duramente repreendida sob 
acusação de ousadia e atrevimento em falar com a filha dos patrões. Daí em 
diante, a mocinha, embora continuasse trabalhando naquela casa, jamais se dirigiu 
a qualquer deles.

Um dia, varrendo a entrada da casa, conheceu um jovem mecânico espanhol. 
Chamava-se Otávio e trabalhava ali por perto. Depois de algum tempo entre namoro 
e noivado, casaram-se. Agora Josefa possuía um lar e também um esposo amigo com 
quem dividia as suas experiências. Ele era batalhador econômico e muito 
conceituado na grande fábrica de chocolate onde trabalhava. Servindo honestamente 
e ajudado pela esposa, Otávio chegou a possuir, num dos bancos de Havana, uma 
soma respeitável. Indo aos EUA a serviço da fábrica, ali se encontrou com um 
senhor idoso, dono de vários lotes de terra onde construíra casas modernas para 
famílias nobres, no término da guerra hispano-americana. Mas agora estava velho e 
não desejava voltar a Cuba. Assim vendeu suas propriedades a Otávio por um preço 
quase simbólico, só por se encontrarem em Havana.

Aqueles solares haviam valorizado muitíssimo e o moço, ao vendê-los, foi se 
tornando dono de uma grande fortuna. Voltaram ricos para a Espanha e se 
instalaram em Madri. Enquanto isto o pai de Ester foi perdendo o que tinha. O 
banco onde era depositante faliu; sua esposa enferma, não resistindo ao choque 
da decadência econômica, morreu, e o desafortunado comerciante suicidou-se. Ester 
estava então só e pobre. Voltou à Espanha para viver com a tia também em Madri. 
Ao perceber a situação difícil da tia foi trabalhar numa mansão, no centro 
daquela capital.

A dona da mansão era uma senhora bondosa e paciente que procurava ser amiga e 
falar com ela. Um dia, ela contou a Ester que havia morado em Havana, onde 
trabalhara como doméstica na casa de um negociante. Foi aí que Ester descobriu 
que sua patroa era nada menos que Josefa. Que dura verdade ela precisou admitir: 
"Tudo o que o homem semear, isso também ceifará".


Autor não mencionado
Enviado por Paulo Barbosa - Novos Mensageiros


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