Conta-se que certo homem tinha o péssimo e feio hábito de ver defeitos em todas as
coisas.
Para ele o mundo estava errado e a natureza não funcionava a contento. Certa tarde
de forte verão, monologando ele sob a agradável sombra de uma jabuticabeira, pensava
consigo mesmo:
- E não tenho razão quando digo que a natureza precisa ser mesmo corrigida? Aqui
está uma prova contundente: Essa enorme jabuticabeira sustentando frutos tão
insignificantes, enquanto perto daqui vejo uma colossal abóbora presa ao frágil
caule de uma planta rasteira. Não seria mais do que lógico que se fizesse exatamente
o contrário? Ora, se as coisas houvessem sido organizadas por mim, eu inverteria os
papéis, passando as jabuticabas para a aboboreira e as abóboras para a jabuticabeira.
E se eu fizesse isto, tenho certeza, seria aplaudido nessa e em muitas outras
inversões... Mas já que não posso mesmo acertar as coisas, o melhor é tirar uma
soneca nesta sombra - concluiu ele, estirando-se de costas embaixo da jabuticabeira,
onde dormiu tranqüilamente.
Dormiu e sonhou com um mundo todo modificado por ele. Inteirinho reformado pelas suas
mãos. Uma beleza! Mas eis que de repente, no melhor do sonho, uma jabuticaba viçosa e
saudável desprende-se do galho e lhe acerta em cheio o nariz. O homem desperta e de
um salto põe-se de pé, esfregando o nariz dolorido. Sentando-se de novo, ele passa a
meditar detidamente na experiência e acaba por reconhecer que de fato o mundo não era
mal construído como costumava afirmar.
Autor não mencionado
Enviado por Paulo Barbosa
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