Numa tarde quente de um forte verão, transpirando demasiadamente e com
muita sede, bateu à porta de uma casa humilde um pobre moço que vendia
livros, a fim de se manter nos estudos. Queria oferecer alguns dos livros
que levava. Veio atendê-lo uma mocinha com ares ingênuos, porém muito
educada, atenciosa e meiga.
- Minha mãe não está em casa. Foi à cidade fazer uma pequena compra, mas
não creio que pudesse comprar qualquer livro, o que é uma pena...
- Está bem, garota. Mas será que você poderia me dar um copo d'água?
- Oh, sim, claro que posso. Temos água bem fresquinha, mas o senhor não
prefere um copo de leite frio?
- E como prefiro, filha. Não terei tempo de tomar qualquer refeição antes
da primeira aula, que terá início daqui a uma hora. Portanto, se isso não
for muito trabalhoso, eu bem que aceito com muito prazer!
- Nenhum trabalho... Minha mãe nos tem ensinado a tratar bem as pessoas.
Dizendo isto, a mocinha foi à copa buscar o leite que o pobre estudante
sorveu avidamente, já pela sede e já pela fome.
Depois desse dia, muitos anos se passaram. A garota cresceu e se tornou
uma moça respeitável, simpática e dedicada.
Num quarto de hospital, entretanto, certo dia a jovem estava em observação
e convalescendo de séria enfermidade.
- Amanhã você terá alta - disse-lhe a enfermeira naquela tarde. - O médico
lhe dará alta nesta noite ou logo de manhãzinha. Terá de continuar com o
repouso e usando os medicamentos por mais duas semanas, mas é possível
fazer tudo isso em sua própria casa. Gostou da notícia?
- Gostei muito! Há tantos dias venho esperando por isto, mas estou
seriamente preocupada com a conta do hospital. Onde vou conseguir os
recursos necessários para pagá-la? Não tenho dúvidas que será alta, e tudo
o que temos representa o mínimo...
- Não fique assim tão angustiada. Toda essa tensão lhe fará mal, creia. Vou
à tesouraria verificar a conta e volto já com a informação, mas fique calma,
por favor.
Dentro de aproximadamente um quarto de hora retornou a enfermeira, trazendo
a conta numa das mãos.
- Minha vida! - exclamou a moça antes de examinar o papel. - O que será de
mim para liquidar esse débito?
A essa altura a enfermeira a tranqüiliza e, após a verificação da conta, ela
aponta uma frase que o médico havia escrito na parte inferior da conta, com
a sua própria letra:
"Tudo está pago por um copo de leite que foi oferecido a um pobre estudante,
numa tarde quente de verão."