CONDENAÇÃO
 
Um homem, sentado no banco dos réus, olhava atenta e firmemente para o juiz. 
Entretanto, esse seu olhar firme não revelava súplica, nem um pedido de 
compaixão propriamente.

Eram velhas recordações que começavam a brotar na mente do criminoso e, de 
súbito, seu subconsciente lhe deu garantias da certeza: aquele juiz não era 
outro senão Benevides, seu antigo companheiro de escola. Haviam, os dois, 
tantas vezes estudado juntos e feito pesquisas no mesmo grupo. Nos bons 
tempos de estudos preliminares, tinham sido bons amigos.

Fizeram-lhe muito bem essas gloriosas lembranças do passado e por um momento 
esqueceu-se até da sua triste situação de réu.

De qualquer maneira essa descoberta, assim de última hora, lhe deu um novo 
alento. Depois de tanta insegurança, sentia-se agora mais confiante. Para ele, 
uma coisa estava muito clara: o seu velho amigo e companheiro jamais o 
condenaria. 

Com todas estas evidências, começou até a elaborar planos para sua vida de 
completa e imediata liberdade, mas infelizmente eles duraram muito pouco... 
Foi quase no ápice dos planos quando, de repente, o juiz se levantou e com 
toda calma e frieza leu a sentença que condenava o réu a pagar uma alta multa 
ou permanecer encarcerado por mais dois anos.

Aquilo lhe pareceu demais! Inacreditável mesmo! Como é que um amigo de longos 
anos pode fazer uma coisa dessas? - pensava o condenado.

E, naquela situação desesperadora, brotou célere no seu coração uma ponta de 
ódio contra o amigo desalmado.

Levado para uma sala à parte, ali encontrou o juiz que o esperava com certa 
ansiedade. Esboçou-lhe um sorriso franco e amigo. Antes que o réu lhe atirasse 
no rosto a sua indiferença e a falta de interesse pela liberdade de um amigo, 
foi logo dizendo:
- Sei exatamente o que você está pensando a meu respeito. Mas peço-lhe que me 
compreenda antes de mais nada. Como juiz, eu não poderia deixar de condená-lo. 
Todas as acusações elaboradas pelas testemunhas acompanhadas de provas eram 
irrefutáveis e eu precisava comunicar a punição. Agora, entretanto, como amigo, 
conhecendo-o tão profundamente, reconheço que, apesar de todas as evidências 
do seu erro, há muito de bom dentro desse réu e quero ajudá-lo. Aqui está um 
envelope contendo o valor da multa. Pague-a e daqui em diante goze com 
sabedoria da sua liberdade.


Autor não mencionado
Enviado por Meire Michelin - Novos Mensageiros


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