DOIS TEMPERAMENTOS
Nádia era uma menina muito bonita fisicamente. Acontecia, porém, haver nela duas Nádias - a de casa e a da escola. O seu comportamento em casa deixava a mãe muito desapontada, triste e infeliz, porque bem sabia que na escola a filha era meiga, boa, amiga das colegas e da professora.
Analisando bastante essa situação para ela tão amarga, a mãe concebeu uma idéia que decidiu colocar em prática, a fim de experimentar uma possível mudança em Nádia. Antes, porém, de dar os primeiros passos na efetivação do plano, ela pediu a Deus que a ajudasse para que os resultados fossem positivos, modificando o caráter e a personalidade da filha.
A garota tratava muito bem a sua professora. Apreciava agradá-la, oferecendo-lhe flores, bombons, bijuterias e outras coisas; e a mestra, que só conhecia a Nádia da escola, a tinha no mais alto conceito.
Certa tarde a menina chegou de volta da escola e, como sempre, logo se transformou. A mãe, notando a sua presença, a chamou dizendo:
- Nádia, quer fazer o favor de ir à confeitaria próxima comprar algumas pequenas coisas que preciso para já?
- Estou cansada e sem vontade, mamãe. Você não notou que estou acabando de voltar da rua? Sinto muito, mas agora eu não vou.
Fazendo valer sua autoridade, a mãe exigiu que ela fosse e nisso chegou a visita esperada, que se sentou na sala. Nádia voltou da rua resmungando e mal percebeu a presença de alguém na sala; avisou à mãe que agora iria falar com a colega. Entretanto, atarefada como estava, a mãe lhe pediu:
- Nádia, preciso da sua ajuda agora. Pelo menos prepare a mesa para nosso lanche e depois veremos o que lhe será possível fazer.
- Não há coisa mais aborrecida... - disse a menina, batendo o pé.
Ajeitou tudo muito mal e já ia saindo, quando de novo a mãe a chamou:
- Filha, temos visita para o lanche. Antes de sair, pelo menos, faça-a entrar e tomar lugar à mesa. Ela está sentada na sala.
A garota empalideceu e mudando de tom se desculpou, dizendo que a mesa não fora posta para visitas; contudo, foi para a sala e deparou com a sua professora. Pôs-se a chorar enquanto ela lhe falava do seu desapontamento. Valeu a experiência e Nádia se corrigiu daquele dia em diante.
Tem-se classificado algumas vezes de dupla personalidade aquela pessoa que muda de comportamento de acordo com as conveniências. Entretanto, percebe-se que nem sempre se trata desse fato, mas sim de um temperamento que se divide conscientemente. Não cremos ser muito simples a convivência com tais pessoas. Vê-se nelas, claramente, o cultivo de uma falsa moderação e bondade, além de um relacionamento parcial e hipócrita. Se alguém sabe ser má, grosseira, indelicada, é porque, na realidade, ainda não aprendeu nada sobre a docilidade, respeito e delicadeza.
Autor não mencionado
Enviado por Paulo Barbosa - Reflexões
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