DE QUE ADIANTA

Era uma vez um jequitibá enorme, o mais imponente da floresta, porém, orgulhoso ao extremo. Certo dia, vendo a seus pés uma tábua, disse:

- Que vida miserável você leva. Pequena, sempre vivendo no charco entre rãs, saracuras e peixes sem significância... Qualquer ventinho a dobra. Um colibri que pouse em sua haste já a verga toda. Que diferença entre você e eu. Minha copa chega às nuvens e as folhas cobrem o sol. Quando anuncia tempestades, rio-me dos ventos e cá do alto me divirto a contemplar o seu desespero.

- Obrigada - disse a tábua com humildade. - Mas não me lamento e aqui onde estou vivo como as circunstâncias permitem. Se o vento me dobra, em compensação não me quebra e, cessado o temporal, ergo-me ereta como antes. Mas será que com você...

- Eu, o quê? Miserável plantinha inútil - adiantou-se o jequitibá.

- Você, jequitibá presunçoso, tem até agora resistido aos vendavais, mas resistirá para sempre sem nunca ser abatido? - perguntou a tábua.

- Ora, rio-me dos ventos assim como zombo de você - falou a árvore.

Na estação das chuvas, certa noite, sobreveio uma tremenda tempestade. Raios riscavam o céu e o ribombar dos trovões estremecia a terra. A fúria dos ventos ia destruindo tudo quanto se lhe opunha à passagem. Apavorada, a tábua parecia fechar os olhos e na sua fragilidade curvou-se rente ao chão. E assim, encolhidinha entre o charco, ela permaneceu até que o furor da tempestade se acalmasse, dando lugar a uma fresca manhã de céu claro, que contrastava com a noite de tormentas.

Ao calor dos primeiros raios do sol, a tábua ergueu-se para contemplar a desolação causada pela tempestade. Viu inúmeras árvores por terra arrancadas e condenadas à destruição. Entre as vítimas constava o jequitibá orgulhoso, agora desarraigado e com a colossal raiz à mostra... Tão superior! Tão presunçoso! Porém impotente diante da soberania do Criador.


Desconheço o autor
Enviado por Angela Crespo - http://users.iron.com.br/~acrespo/amorepaz

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