MOEDAS CAÍDAS DO CÉU

Segundo a tradição popular, a pobre garota se vira só na casa vazia, depois que os vizinhos levaram o pai para ser sepultado. Ele partira pouco depois da mãe. Era tão pobre que não tinha cama, comida e nem roupa, além daquela que vestia. Não ia longe o dia quando ela saiu caminhando e tendo nas mãos o último pedaço de pão que ganhara de véspera. Contudo, era uma menina cujo coração parecia ocupar todo o seu corpinho, de tão grande e generoso que era. Sentia-se muito só e abandonada, por isso pôs-se a vagar na esperança de que lhe descortinasse um destino mais promissor e feliz, pois que a si mesmo se confiava à guarda do bom Deus. Depois de haver caminhado uma jornada significativa, encontrou um mendigo à beira da estrada que, estendendo-lhe a mão trêmula, disse com uma voz fraca:

- Tenha pena de mim, pequena menina, e dá-me alguma coisa para comer, porque estou aqui torturado pela fome que me devora...

A garota, cheia de compaixão, sem sequer pensar em si, deu-lhe o seu naco de pão, dizendo delicada e alegremente:

- Deus o ajude e o guarde - e continuou o seu caminho.

Um pouco mais além ela deparou com duas crianças, menores do que ela, que choravam desalentadas. A menorzinha aproximou-se, dizendo:

- Tenho dor nos ouvidos e frio na cabeça. Cubra-me com o seu gorro...

Prontamente a menina fez isso; e vendo a outra também cheia de frio, imediatamente despiu o seu único jalequinho, agasalhando-a. Seguiram as três, embrenhando-se na floresta enquanto a noite caía. Chegaram ao pé de um carvalho, se acomodaram entre as folhas caídas e ali se aqueceram.

Quando o dia raiou, ela começou a ver uma série de coisas que não pôde ver quando chegou a noite. Pouco além do carvalho havia uma cabana abandonada de onde, pelo ruído que se ouvia, dava para notar que a cidade não estava distante. A boa menina, ao se levantar muito antes das outras duas crianças, notou que o tronco do carvalho era cheio de profundas reentrâncias nas suas raízes e, observando mais de perto uma delas, a pequena viu um certo amontoado de pedras e começou a removê-las. Uma a uma as pedras foram afastadas e bem no fundo estava um potezinho cheio de moedas. Levou-o juntamente com as duas crianças para a cabana.

Instalaram-se ali e depois de recomendar às menores que não se afastassem dali, a menina, tomando duas moedinhas, seguiu em direção à cidade. Era necessário encontrar alimentação para si e para suas companheirinhas. Logo na entrada ela deparou-se com uma feira, onde podia encontrar de tudo, mas o que mais surpreendeu a bondosa criança foram as muitas manifestações de amor e carinho que ia recebendo de todos. Voltou para sua casa improvisada e a partir dali viveram felizes, sem jamais serem molestadas. E sempre que lhes perguntavam sobre como conseguiam sobreviver, a pequenina dizia:
"Temos moedinhas caídas do céu".


Autor não mencionado
Enviado por Paulo Barbosa - http://www.oocities.org/br/tprobert_geo

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