BONECA DE PANO


Laura desejava muito possuir uma boneca, mas os pais eram tão pobres que não podiam satisfazer o seu sonho. Conversando com o pai certa noite, ela lhe falou quase suplicante:

- Papai, como gostaria de ter uma boneca para brincar com ela!

O pai ficou triste por não poder atendê-la no seu desejo tão natural. A mãe, que ouvia tudo, resolveu fazer-lhe uma bonequinha de pano. Com uma meia fez o corpo da boneca; com tecido xadrez coseu uma saia rodada. Bordou os olhinhos e uma boca bem risonhacom linhas coloridas; e com lã amarela fez o cabelo, que foi repartido em duas tranças, rematadas com lacinhos de fita. A bonequinha ficou uma graça!

O pai, entusiasmado, entregou-a à filhinha. Laura, porém ao vê-la pôs-se a chorar e tomada de revolta foi dizendo:

- Não quero boneca de trapos... O que eu quero é uma boneca de verdade!

E assim falando, ela foi desmanchando, zangada, a pobre bonequinha, até reduzi-la a um monte de panos. Os pais, desapontados e aborrecidos, decidiram que a melhor correção haveria de vir por si mesma. A garota foi se deitar ainda soluçando, mas adormeceulogo. O sono foi agitado, porém, enquanto dormia, teve um sonho muito confuso e esquisito: Ela via a cesta de costura da mãe abrir-se e dela saírem linhas e a agulha falando:

- Que garota malcriada... Quanta ingratidão - disse a linha.

- É verdade - acrescentou a agulha. - Quase costurei aquela boca falante!

E as duas foram refazendo a bonequinha. De repente, ela criou vida e foi na direção de Laura, falando atenciosamente:

- Vamos passear no reino das bonecas de pano? Venha comigo, eu a levarei.

Chegando lá, viram as bonecas arrumando suas roupas em caixas.

- Por que elas estão arrumando suas malas? Vão viajar? - indagou Laura.

- É que elas já conseguiram suas donas. Amanhã a fada costureira terá de costurar novas bonequinhas que, certamente, serão solicitadas...

Surpreendida, Laura viu que a fada era a sua própria mãe! Depois, virando-se para a bonequinha cicerone, viu-a triste e perguntou:

- E você, não vai embora comigo?

- Não, você não me aceitou. Voltarei já para a caixa de retalhos...

- Não! Não! Eu a quero sim. Venha comigo, por favor. Quero ser sua dona!

Era tarde. A bonequinha já estava desfeita em retalhos. Desesperada, Laura começou a chorar e... acordou em lágrimas. Mas que surpresa! Lá se encontrava a bonequinha, deitada ao seu lado. No dia seguinte, a mãe lhe contou que, enquanto ela dormia, pacientemente recosturou a bonequinha. Depois, passando carinhosamente sua mão nos cabelos da filha, disse:

- Não podemos desejar coisas além da nossa capacidade. Temos de nos acomodar àquilo que é simples, mas que também representa amor. Foi com carinho que seu pai e eu lhe preparamos a surpresa - o melhor que pudemos.


Autor não mencionado
Enviado por Paulo Barbosa - Sábio

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