QUANDO O PRÍNCIPE VOLTAR
O rosto de D. Helena revelava grande preocupação. Qual seria o motivo? O esposo era todo dedicação e a filha tão carinhosa; portanto, não lhe faltavam os temperos da vida! É que naquele dia a esposa do jardineiro queixou-se de que Consuelo, a carinhosa filha da patroa, zombara das roupas de sua filhinha na presença de pessoas. Ela não escondia o desagrado que tal ação lhe causara, e disse não mais permitir que a filha brincasse com Consuelo. "Eles eram pobres mas não para serem escarnecidos" - dizia a infeliz mulher, com grande amargura.
D. Helena preocupou-se com a atitude da filha e desejou encontrar um meio de fazê-la reconhecer o erro. Lembrou-se então que ela apreciava histórias e naquela mesma noite, quando Consuelo tomou seu lugar ao lado da mãe que tricotava na poltrona, ela começou sua história:
"Houve um príncipe muito bondoso e respeitado, porque ele fazia justiça e se interessava pela sorte de todos. Não fazia diferença entre ricos e pobres, bonitos ou feios, instruídos ou ignorantes. Mas, para a tristeza do povo, um dia ele anunciou que partiria. Deu ordens acerca do reino e escolheu homens capazes para governá-lo. Prometeu recompensas aos que fossem bons e fiéis, mas não marcou a data da sua volta. O povo, que o amava tanto, obedecia em tudo as suas recomendações. Havia um casal, que foragrandemente beneficiado por ele. Possuía uma única filha e a ensinava a preparar-se para a volta do príncipe. Mas um dia descobriram que ela não estava obedecendo à mais importante lei do reino - a de tratar com amor as crianças mais humildes também. Antes, até ela zombava dos pobres... Que faria o príncipe ao chegar e saber do fato?" Uma visita inesperada interrompe a história e Consuelo foi para a cama pensativa. Alta madrugada, a mãe acordou ouvindo soluços. Foi ao quarto da filha. Tentando sufocar o choro, ela abraçou a mãe dizendo:
- Sonhei o resto da sua história. O príncipe chegava e sorria para todos. Distribuía recompensas, mas... ai... ele não sorria para mim, só me dizia palavras de censura... Eu procurava fugir do seu olhar de reprovação e me esconder mas não podia. Foi então que ele ordenou que tirassem de mim tudo de que eu mais gostava: brinquedos, roupas, adornos e até nossa casa e entregassem à Lolita, a filha do jardineiro.
Consuelo, impressionada com o sonho, apegava-se à mãe, repetindo:
- Mamãe, eu nunca mais hei de criticar, humilhar ou desprezar ninguém, por ser mais pobre e humilde. Reconheço agora o quanto a minha conduta entristeceu o Príncipe. Quero ser amiga de Lolita e ser boa e leal para com todas as demais crianças.
- Tranqüilize-se, filha. O Príncipe a fez sentir seu olhar de reprovação porque a ama e espera a lição, pois ele repreende e corrige aqueles a quem ama. Estou feliz por vê-la reconhecer o quanto foi feia e mesquinha a sua ação.
Autor não mencionado
Enviado por Paulo Barbosa
<< Boneca de pano
Um teste >>