CONFIAR.

Era um dia daqueles que de tão quente podia-se, literalmente, fritar um ovo no asfalto. Também, estamos em Dallas, bem no meio do deserto.

Timothy Smith estava sentado em sua confortável sala, atento à leitura de um livro.

Era agora um homem bem sucedido. Mas nem sempre fora assim. Timothy tinha origem pobre, muito pobre. Mas bem dotado fisicamente, na juventude arrumou emprego como estivador no cais de uma cidade litorânea. Assim, além da altura (2,17 m), ganhou muita força. Era um jovem que gostava de futebol americano e auxiliado pela estrutura física, se tornou um bom jogador. Isto lhe rendeu um convite para jogar em um time de uma determinada universidade e, de quebra, fazer um curso superior.

Formou-se advogado. Mudou-se para Dallas. Casou-se e tinha um filho.

De repente, uma onda mais forte de calor, acompanhada de um estranho brilho, lhe chamou a atenção. Era a escola que funcionava na casa em frente. Estava em chamas.

Timothy correu para lá. Viu que quase todas as crianças tinham saído sem nenhum problema. Mas um grupo estava preso no andar superior.

Timothy, após analisar bem toda a situação, viu que quebrando e subindo em uma janela e aproveitando-se de sua altura e força, poderia socorrer as crianças. E assim fez.

Uma a uma, oito crianças se atiraram nos braços do forte Timothy. Mas eram nove crianças ao todo.

As crianças resgatadas gritavam:
- Pule Tim! Pule!

Timothy reforçava:
- Venha Tim, não tenha medo. Pule logo!

Mas o pequeno Tim não conseguia coragem para pular. Morreu intoxicado.

Os bombeiros chegaram e depois de muita luta debelaram o incêndio. Um dos bombeiros viu Timothy chorando copiosamente à beira da calçada. Foi até ele e disse,
- Senhor, és um herói! Hoje oito famílias estarão sorrindo aliviadas. Hoje oito crianças poderão abraçar suas mães com mais força.

- Não. Respondeu Timothy. - Não sou nenhum herói. Não consegui salvar meu próprio filho.

Sim. Tim, ou Timothy Júnior, não se salvou por não ter confiado nos braços de seu pai. E nós? Quando envoltos pelas chamas dos turbulentos incêndios da vida, temos fé e nos atiramos, sem medo, aos braços do Pai?

Essa história, não sei se verídica ou não, não sei quem é o real autor, nos foi contada pelo Maurício, em uma de suas palestras. Nessa mesma palestra, Maurício nos contou ainda um outro fato que vale a pena relatar:

Havia sido convidado para falar sobre suicídio. E lá foi ele.
Durante a palestra, observou que uma jovem na platéia o olhava fixamente. E foi assim durante todo o tempo. Maurício falava e a moça a olhar-lhe fixamente.

Terminada a palestra, Maurício sentou-se à mesa e a moça levantou-se, foi até ele e disse:
- Você tinha que ter-me dito isto há quatro anos atrás.

E, como fumaça, desapareceu. Isso mesmo: desapareceu!

Maurício, ao voltar para casa não conseguia esquecer aquilo.
- Eu converso com espíritos. Eu até vejo espíritos. Mas isso foi demais.

Passou a noite rolando pela cama, sem conseguir dormir. No dia seguinte procurou suas velhas agendas nas gavetas. Encontrou. Agenda de 1992. Leu e releu, procurou e procurou. Até que encontrou.

Sim. Tinha havido, exatos quatro anos atrás, um convite para um palestra. O tema: suicídio. Agora Maurício se lembrava. Não foi fazer a palestra. Não deixou furo pois pediu à um amigo que fosse em seu lugar. E o amigo foi. Só que falou sobre outro tema,enquanto Maurício ficava em casa para ver seu time disputar a final do campeonato.

Não importa se a moça realmente apareceu ou se foi uma criação da mente de Maurício. Não importa, agora, se a moça realmente existiu e se ela estava presente àquela palestra que não aconteceu.

Importa, isso sim, que por um prazer temporário um compromisso deixou de ser cumprido. E, por causa disso, provavelmente uma jovem deixou de ter recebido uma ajuda inestimável. E a possibilidade dessa ajuda, por si só, já dá ao tal compromisso a importância devida.

E Maurício aprendeu e nos ensina: Não fuja jamais à suas responsabilidades e compromissos.

SergioBarros

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