1.2.. Ementa:
Este curso se destina a que as
pessoas conheçam, reconheçam e se aprofundem no rol das Histórias em
Quadrinhos (HQs), que, embora muito pouco pesquisadas e em sua grande maioria
desconhecidas pelo público adulto brasileiro, atualmente têm seu uso
recomendado nas escolas de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
a exemplo do que já acontece há anos na Europa e Japão. As HQs, além de
serem ótimas como leituras prazerosas, desenvolvem a imaginação e podem
servir de ferramenta interdisciplinar de conscientização geral (ecológica,
política, estética e artística, etc.), para todas as faixas etárias, incluso
aí os universitários, tanto alunos como professores, auxiliando-os
na construção de valores e respeitos humanos mútuos, numa incessante ação
transformadora social.
1.3.identificação
dos ministrantes:
Gazy Andraus – Doutor pela ECA-USP, Mestre em Artes Visuais
pelo IA da UNESP/SP e arte educador pela FAAP/SP.
R.
Jacob Emmerick, n. 458/ap. 805, centro, tel. (013) 3468-5944 CEP. 11310-070, São Vicente/SP.
e-mail: gazyandraus@yahoo.com
2.Público-alvo:
Público:
universitários (alunos e professores de cursos de Artes Visuais, Administração
de Empresas, Turismo, Sistemas de Informação, Pedagogia e Comunicação
Social)
3.Local
e data:
mini-curso de 15:00 de duração, a se realizar na entidade promotora.
4.Material:
sala, projetores de slides (diapositivos) e de transparência,
televisão e vídeo-cassete, lousa.
3.Justificativa:
Tanto
o grande público como os profissionais da área (desenhistas, roteiristas,
editores), bem como os críticos especializados ou não, desconhecem as HQs
(Histórias em Quadrinhos), ou Arte-Seqüencial (como foram rebatizadas
pelo autor norte-americano de HQs adultas, Will Eisner), como veículos
de cunho artístico, e também direcionadas ao público adulto, servindo ao propósito
de propagar idéias, e acabam por conseqüência de tal desinformação,
subestimando o real valor desta já chamada 9a Arte.
Se na
literatura e no cinema temos produções de caráter exclusivamente comercial,
é verdade que também as temos como obras artísticas (mais apuradas e que
requerem uma bagagem cultural maior do usuário).
As
Histórias em Quadrinhos, também carregam várias nomenclaturas, dependendo dos
países onde são publicadas: no Brasil são chamadas de HQs, e as revistas que
as publicam são alcunhadas de Gibis (gibi é um menino de cor negra. E, talvez
a isto atribua-se o fato de se associar estas publicações geralmente à
leitura infantil.). Já na França, chamam-se Bande Dessiné, o que
significa literalmente banda desenhada, tal como em Portugal (que também as
reconhece como histórias aos quadradinhos).Na Espanha Tebeo, na Itália Fumetti
(fumacinha: uma alusão aos balões de fala das personagens), Manga no Japão, Historieta
na Argentina e Comics nos EUA.
De
acordo com Henrique Magalhães em seu livro O que é fanzine?, publicado
pela ed. Brasiliense, o termo que mais se aproxima da verdade é o nosso. Mas
ainda cremos que a palavra quadrinhos tem um tom pejorativo, o que enfraquece o
conceito real desta 9a arte.
A
questão é que as HQs podem ser comparadas ao cinema, exemplificadamente, tendo
duas divisões qualitativas:
- A 1a
diz respeito à alusão ao conceito quadrinhos: são histórias feitas para o
lazer infantil ou juvenil, e até adulto, ou feitas também com intuito
educativo (o qual já tem suscitado muitas críticas, infundadas até, no meio
educacional). Comparativamente, lembremo-nos dos desenhos animados, ou filmes
comerciais que servem a este intento.
- A 2a
divisão tem um aspecto que não tem sido reconhecido devidamente em alguns países
(principalmente no Brasil), o qual denota um cunho adulto (artístico e/ou filosófico)
nas HQs. Pode-se entender melhor isto, comparando-as às produções cinematográficas,
das quais reconhecem-se autores (diretores) de posições pessoais, o qual
categoriza as obras filmadas como de arte (de autor).
Expõem-se
aqui, que as HQs podem ser consideradas em duas distintas categorias: como veículo
de expressão objetivamente comercial, como os são, por exemplo, os super-heróis
e personagens Disney, ou como veículo autoral, onde se propaga o ideário e o
senso estético e artístico pessoal do autor, independente de laços
subordinativos externos a ele, como é o caso de artistas como Will Eisner
(EUA), Caza e Moebius (França), Alan Moore (Inglaterra), ou Lourenço Mutarelli
e Edgar Franco (Brasil). Estas duas distinções existem e, raramente são
percebidas no Brasil. O mesmo se detecta na literatura (poesias, por exemplo)
onde os livros são autorais (o autor é reconhecido e sua obra consumida graças
à sua fama), ou na música também com seu segmento comercial (fm) ou autoral
(clássicas, instrumentais, etc.)
Enfim,
as histórias em quadrinhos, ou arte-seqüencial, ou ainda literatura da imagem,
foram já elevadas ao status de Arte, principalmente na França e Bélgica,
países que dispõe de museus destinados a manter o padrão elevado, sempre
mantendo exposições permanentes ou temporárias das Artes-Seqüenciais,
em seus museus e/ou galerias. Deve-se ressaltar que em Angoulême, na França
existe o CNBDI: museu inteiramente dedicado aos quadrinhos que realiza
anualmente um evento internacional de HQs, além de manter as já mencionadas
exposições. Mesmo o Brasil, na década de 50 realizou a 1a exposição
mundial de HQs. Famosos artistas já se enveredarem pelos caminhos desta também
chamada 9a arte. Dentre os quais, o pintor espanhol Goya que chegou a
pintar uma seqüência de seis quadros a óleo narrando uma luta entre um padre
e um bandido: uma autêntica arte seqüenciada!
Ainda pode-se mencionar Picasso que quadrinhizou uma viagem sua a Paris,
o cineasta Fellini que roteirizou uma HQ com Milo Manara, autor italiano de
"fumetti", entre outros. Isto, sem mencionar a arte religiosa da Idade
Média que se utilizava das filacteras (falas escritas que saiam das bocas das
figuras pintadas nas paredes das catedrais, caracterizando assim a gênese dos
balões de fala atualmente utilizados pelos quadrinhos).
Muitos movimentos artísticos e científicos tiveram
seu paralelo nos quadrinhos, principalmente o Expressionismo, que seria o estilo
mais freqüente das HQs. Nos anos 70, muitas revistas de super-heróis
norte-americanos, publicadas no Brasil também, traziam embutidos em seus
roteiros noções da ciência cartesiana e física geral: nas HQs do
Super-Homem, Flash, Lanterna Verde e outros, a gravidade, a fricção (o atrito)
criada, por exemplo, entre os pés de Flash e o solo quando se punha em
movimento mais rápido que um jato, pedia que ele concebesse botas que
reduzissem o tal atrito para que não pegasse fogo; o som não se propaga no
espaço por causa do vácuo, etc. É claro que
em meio às lógicas científicas usadas para escusar algumas atitudes
dos heróis, tentando aproximar suas existências do mundo real, falhas enormes
punham em cheque tais conceitos: se Super-Homem tinha uma visão de raio-x, ele
poderia causar até câncer nas pessoas!
Por outro lado, as criações e exageros científicos, por serem originais se tornam vanguardistas, com possibilidade de existir: Alex Raymond, que criou Flash Gordon na década de 30, concebeu a mini-saia antes de qualquer estilista haver pensado nisso. Mas, o mais inusitado foi que a NASA viu em seus desenhos de foguetes, arrojos que poderiam ser empregados na realidade para melhorar a aerodinâmica das naves espaciais.
Muitos autores atuais despontaram, ora refletindo, ora vaticinando fatos novos, como artistas que são. Autores de HQs como o britânico Alan Moore e Grant Morrison, põem a descoberto muito da ciência quântica e fractal. Na obra Watchmen, Alan Moore desenvolve um roteiro rico de elementos da ciência fractal, onde a própria obra serve como compêndio a qualquer curso de física em universidades, sem falar do tom ecologista que permeia toda sua obra, como nas HQs do brasileiro Edgar Franco que questiona a transgenia e posições éticas atuais. É mister ressaltar que as HQs têm trazido de ante-mão conceitos científicos que, só agora começam a penetrar no ensino fundamental de nossas escolas.
Enfim, cremos que, com cursos como estes, contribuímos para a divulgação
verdadeira das muitas faces das HQs, em especial as criadas por mentes
individuais,que corroboram com a linha evolutiva da espécie humana, deixando
impressas suas marcas para que outros possam se enriquecer com mais um ponto de
vista, com mais uma abordagem, seja na área da arte aliada a imaginação, da
pura ou não filosofia, ou da crítica social.
5.Conteúdo programático
Ø
Introdução (resumo suscinto) com a história da narrativa pictográfica
seqüenciada (os primórdios da HQ e o significado do Gibi).
Ø
definição: quadrinho de autor X quadrinho comercial.
Ø
definição: quadrinho adulto, infanto/juvenil e infantil.
Ø
Diferenças entre HQs,
Caricaturas, Charges e Cartuns: exemplos
Ø
HQs
como veículo didático e aglutinador social;
Ø
gênero: humor, ação/aventura,
terror, crítico social, filosófico, erótico, super-herói, underground, etc,
paralelos com o cinema,
Ø
as HQs no mundo e suas
idiossincrasias ético-estéticas inerentes a cada país;
Ø
principais HQs
de autores de vários países do mundo, como EUA, Europa, Brasil, tais
como Passageiros do Vento de Bourgeon
mostrando a África na escravidão, Alan Moore
(Inglaterra) em Watchmen (ciência fractal), Monstro do Pântano
(ecologia holística), Grant Morrison (física quântica e koan-zen) e a defesa
do vegetarianismo nas HQs do Homem-Animal, A ética e moral nas HQs do Surfista
Prateado de Stan Lee e suas HQs de cunho existencialista,
“O Sistema”: uma HQ crítica sem texto de Peter Kuper ( o efeito “
borboleta” da ciência fractal).
Artistas da HQ contemporânea do Líbano, Tyli-Tyli
( atual Mandala), a revista de quadrinhos filosóficos do Brasil e arte
underground: panorama dos quadrinhos subterrâneos e seus estilos no Brasil (fanzines
como veículo unificador comunicacional), Mort Walker e o Recruta Zero: dilemas
entre obrigação e respeito, Quadrinhos e Ecologia de Lucca Novelli e SuperEco,
A História de Inês de Castro com D. Pedro I em Portugal ; A vida no reino
animal através das tiras de Fernando Gonzales (formado em veterinária), a
extinta revista Kripta e suas HQs reflexivas, Caza (França) na obra
Arkhè, e outras histórias filosóficas, passando por suas quatro fases
evolutivas, O gênero brasileiro Fantasia-Filosófica: Edgar Franco e Flávio
Calazans: autores filósofos brasileiros atuais, O Tao e o Zen em Quadrinhos,
etc.
Ø
vídeos opcionais ("A Vida de
Crumb"; “Confidential Comic
Books”; e/ou Capra, etc);
Ø
avaliação geral do curso,
concluindo junto aos alunos os novos rumos que a chamada 9a arte vem
tomando, comparando as obras de décadas
passadas, com as atuais sem senso moral dos super-heróis (como exemplo).
O papel das HQs em novos veículos de divulgação como a Internet, por exemplo,
mudando paradigmas que até então jamais se pensara, tais como um novo suporte
eletrônico para as HQs. Realização
de uma hq ou texto (monografia) pelo aluno.
OBS:
Todas as despesas, como transporte, estadia e alimentação serão custeadas pelo órgão responsavel do evento.
6.Bibliografia Básica:
ADAMS, Scott. O príncípio
Dilbert. Ed. Ouro. Rio de Janero.
ANDRAUS, Gazy. Uma análise Básica
psicanalítica da Obra Gráfica em Quadrinhos de Alan
Moore: A
Small Killing. IX Congresso Nacional da Federação de
arte-Educadores do Brasil, na
PUCCAMP, Campinas/SP,1996.
BOFF, Leonardo. A águia e a
galinha. Vozes: Petrópolis, RJ, 1997, p. 90.
CALAZANS,Flávio
e outros autores. As histórias em quadrinhos no Brasil: Teoria e prática.
Apoio
Intercom/UNESP.1997.
___. Propaganda Subliminar
Multimídia. Ed: Summus: São Paulo, 1993.
CAPRA, Fritjof. O
Tao da Física. Um Paralelo entre a Física Moderna e o
Misticismo
Oriental.
Cultrix: São Paulo, 1990.
DORFMAN,
Ariel e Mattelart, Armand. Para ler o Pato Donald. Paz e Terra: Rio de Janeiro,
1980.
FEIJÓ, Mário. Quadrinhos em ação:um
século de história. Ed. Moderna, São Paulo. 1997.
GEANDRÉ.
O Marketing comics. Global.
McCLOUD,
Scott. Desvendando os quadrinhos. Makron Books, São Paulo. 1995.
MOORE,
Alan. A Small Killing. Dark Horse: New York.
___.
Brought to Light.
___. Watchmen. Abril: São
Paulo, 1999.
OLIVEIRA,
Ivan Carlo de Andrade. A Divulgação
Científica nos Quadrinhos: análise do caso
Watchmen. Dissertação
de Mestrado. Universidade Metodista do Estado de São Paulo: São
Bernardo
SACCO,
Joe. Palestine. New York.
TOBEN,
Bob e Wolf, Fred Alan. Espaço-Tempo e Além. Cultrix: São Paulo, !982.