Morte de Francisco Solano López*
Tradução: Eduardo Galvão
A estratégia de Francisco Solano López, durante a Guerra do Paraguai, para compelir seus homens a lutar desesperadamente até a morte, foi um sucesso enquanto pôde manter um comando central de forma a vigiá-los de perto. Os soldados eram treinados para obediência cega ao cumprimento de ordens, mesmo que a morte fosse inevitável. Mesmo antes do início da guerra, a regra no exército paraguaio era: "não argumentar, nem saber a razão ou o porquê". Quando os soldados eram designados para batalha sabiam de antemão que não teriam outra opção além da "vitória ou morte". Eles seguiam para o combate na condição de que cada homem era responsável pela conduta de dois outros camaradas. Cada homem na frente de combate sabia que não podia falhar, hesitar ou fugir, pois, caso contrário, seus companheiros deveriam matá-lo no ato ou eles mesmos seriam mortos. O oficial em posto imediatamente superior de comando era responsável por todos eles e se algum elemento de seu destacamento desertasse, este oficial poderia ser açoitado ou fuzilado após a batalha. Nessa hierarquia de responsabilidades, o capitão, o tenente ou sub-oficial respondiam pelos seus subordinados, assim como o comandante mais graduado era responsável por todos eles. Deserção, nesse esquema, era quase impossível. A rendição, mesmo que inevitável, era consiederado deserção e a família dos considerados desertores sofreriam as consequências. Com o peso dessas ameaças, os homens lutavam num total desespero, pois sabiam que sua única chance de vida, para eles e suas famílias, era a vitória: o grande perigo não estava na frente de combate, mas na retarguarda. O medo e a desconfiança era tão universal, que no caso de um esquadrão ou companhia se encontrar completamente cercado pelo inimigo e isolado do exército principal, ninguém imaginaria sugerir rendição mesmo que estivessem anciosos para fazê-lo. A ordem era lutar até a morte e se alguns soldados de um destacamento fossem capturados, os que retornassem para o acampamento não tinham dúvidas de que seriam cruelmente acoitados e, as vezes, executados. No início da guerra a punição para aqueles que lutavam bravamente, mas não podiam evitar ou prevenir a deserção próxima deles, eram geralmente açoitados. Aliás, durante todo o período da guerra, no lado paraguaio, os fuzilamentos eram punições comuns para quaisquer delinquências.
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*O seguinte episódio foi extraído do Livro "The History of Paraguay, whith Notes of Personal Observations, and Reminiscences of Diplomacy Under Difficulties" , de Charles Ames Washburn, Embaixador americano no Paraguai, acreditado naquele país nos anos de 1861 a 1868, capítulo XL. Lee and Shepard, Boston, New York, in 1871.
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