CAPÍTULO IX
Continua
a narração da missão de Jesus. No
presente colóquio, irmãos meus, continuaremos com a exposição de minha missão. Durante
sua curta aparição como Messias no meio dos homens, Jesus teve de renunciar de
dar-se a conhecer porque seu poder residia no título de filho de Deus, titulo
cheio de promessas, porém cheio também de obscuridade do desconhecido, do qual
se servia como motivo para adquirir ascendente sobre as massas. Mas em suas
conversações particulares Jesus deixava compreender que a filiação de que se
honrava, honraria também a todos os espíritos chegados à emancipação da alma em
meio da natureza carnal. A
unidade de Deus jamais se viu comprometida por Jesus. Os que ‘fizeram os
milagres foram os que converteram Jesus em Deus. Distribui
a cada um a força e a inteligência na proporção das honras ganhas na luta dos
Instintos da matéria com as emanações divinas da imortalidade espiritual. A
imortalidade da alma, ao pôr em evidência ante o espírito o objetivo de suas
existências sucessivas na matéria, o impele ao desprezo de toda a dependência
carnal, elevando-o em compensação para a glória da missão divina. Agora
posso falar assim, porém antes era necessário que me rodeasse de prestígio,
para o qual não convinha que se explicasse o principio sobre que descansam as
honras de Messias. Era necessário dilatar o sentido moral da humanidade e não
convinha proporcionar-lhe a possibilidade de discutir meus direitos de filho de
Deus. Era necessário conseguir o resultado sob proporções fora do comum, sob
pena de ser impedido aos primeiros passos. Apesar
disso, repetidamente me repreendi a mim mesmo por essa tortuosidade de caminho
e, quando me encontrava a sós com algum de meus discípulos, se se me
apresentava como uma ocasião favorável para lançar em um espírito perspicaz o
germe da verdade, eu me confiava por partes, pronunciando frases misteriosas,
de cujo significado esperava que, talvez, o porvir tirasse algum proveito para
a verdade. Dizia-me o confidente dos profetas e dos mártires, surpreendidos
pela morte; em seguida, chamado pelo sentimento de minha posição, reprimia
manifestações e recomendava aos que haviam sido testemunhas de minhas expansões
entusiastas, guardarem o maior segredo a respeito do que tinham ouvido (1). Em
minhas conversações procurava associar a crença nos dogmas estabelecidos com a
doutrina das encarnações sucessivas dos espíritos, falando ao mesmo tempo do
inferno e da santidade de meus direitos de filho de Deus. Mas no dilatado
horizonte que se estendia diante de meus pensamentos os fatos viam-se
justificados pelos propósitos. Eu dirigia minhas esperanças para o porvir e
colocava as deliciosas emoções de minha alma diante das harmonias com que sonhava,
vendo-se elas justificadas ainda neste mesmo momento em que volto para
completar minha obra, valendo-me novamente de Deus. Eu
misturava a lei antiga com a nova, das quais resultavam essas parábolas que
freqüentemente careciam de clareza, essas contradições aparentes, envoltas na
rapidez de minhas exposições e mal advertidas pela pouca perspicácia do
auditório, e essas apreciações sobre a justiça divina, cheias ao mesmo tempo de
misericórdia e de eterna vingança. ____________________________________________________________ (1) Compreende-se
como devia ser delicada a posição de Jesus, abandonado às suas próprias forças
no meio de um povo inculto, inteiramente materializado, e nada disposto para as
inovações. A Bíblia era para ele o código infalível de toda a sua sabedoria e
nada havia acima de seus profetas e da palavra de Jeovah, de quem aqueles
constituíam o porta-voz obrigado. Era necessário pois revestir-se de multa
autoridade e sabê-la fazer valer, a despeito da condição humilhante do meio em que atuava o Mestre, para poder ser escutado e seguido. Algo devia haver
de superior, sem dúvida alguma, no filho do carpinteiro de Nazareth para que
tal sucedesse, fazendo triunfar a doutrina de devolver bem por mal em oposição
à do olho por olho e dente por dente de Moises. Mas, tendo que valer-se de meios
puramente humanos, como Conseguir esse prestígio que lhe era tão indispensável?
Eis aí a causa destes conflitos que vemos surgir a cada passo no espírito desse
ser excepcional, que foi mártir desde seu nascimento pelo simples fato de ter
que viver em um mundo tão atrasado. — Nota do Sr. Rebaudi. __________________________________________________________ Irmãos
meus, inclinemos-nos perante a majestade de Deus e confessemos a pobreza de
nossa natureza. Eu dizia
a meus discípulos: “Vós
todos sois filhos de Deus e o último de vós “terá que trabalhar para chegar a
ser grande e forte. “Faz-se
mais festa na casa de meu pai quando entra nela um espírito recém-convertido
do que pela perseverança de dois justos. “A
vontade e a emulação livram o espírito das humilhações da carne, O amor de
Deus inspira o amor das criaturas, que são a obra de Deus". “Convertei-vos
em depositários de minha lei; ela é uma lei de amor. A lei de amor não diz:
dente por dente, olho por olho; ela diz: perdoai a vossos inimigos; oral pelos
que vos caluniam; levai, sem fazer alarde, vossa esmola à casa do pobre. Se
vos esbofetearem uma face, apresentai a outra, porque os homens cedem antes à
ternura da virtude do que à justiça das represálias". “Habitai
com os inimigos de Deus e não eviteis as mulheres de má vida, posto que o dar
exemplo é uma obrigação para os que trabalham na vinha do Senhor, e a
proximidade do vício não pode manchar o justo.” Eu
apresentava exemplos favoráveis para as inteligências daqueles a quem eles iam
dirigidos e atraia com conversações familiares, nas festas, encontrando com
freqüência aí em que aplicar meus preceitos. Lembro-me
de um fato que teve lugar em uma casinha da montanha que domina o vale de Sichem. Estava
cansado e enquanto repousava esperando meus discípulos que tinham ido renovar
nossas provisões, comecei a elogiar a limpeza que se observava no meio de tanta
pobreza, com o propósito de entabular conversação com uma mulher que se
mantinha respeitosamente de pé diante de mim. Para
estes lados de Jerusalém havia muita população samaritana , desprezada pelos
hebreus. “Senhor,
disse-me essa mulher, já que és profeta, ensina-me a mim também, porque a lei
de Deus está encerrada no templo de Jerusalém, ao passo que nós temos que
adorá-lo aqui". “Mulher,
lhe respondi, Deus não tem mais que um templo e esse templo está em toda a
parte". “Os
homens adorarão a Deus em espírito e em verdade: a hora não chegou ainda; mas
a luz dará origem à verdade, e eu vou predicando a luz". ‘Crede-me, sobre esta montanha,
como templo de Jerusalém, Deus vê os corações e
favorece os justos. Sabre esta montanha, como no templo de Jerusalém não há uma
fibra de erva que passe inadvertida aos olhos de Deus. A lei de Deus não
está encerrada em um templo, ela resplandece em todos os corações.” Irmãos
meus, a melhor prova de vossa aliança com Deus é a de reconhecer dita lei em todas
as partes, inclinando-vos sob a prova como em presença de suas bênçãos,
adorando o pai com os pensamentos e com as obras, louvando-o tanto no meio dos
sofrimentos como no meio da prosperidade. Demonstrai
a lei de Deus com a retidão de vossa vida; convertei os homens em justos,
fazendo-os felizes, e sede felizes vós mesmos mediante a fé. Recordo-me ainda
de uma festa em que a abundância e a alegria reinavam entre os presentes,
esquecendo-se todos dos cuidados e dos sofrimentos da vida. A alegria
desenhava-se em todos os semblantes e a mesa colocada no meio de um pátio que
formava jardim, era banhada por alguns raios de sol, apesar da abóbada
verdejante que a cobria. Os jovens dirigiam-me tímidos olhares, os homens,
as mulheres e as crianças rodeavam-me e todos queriam dar-me o lugar de honra.
Eu aceitei, assentando-me à cabeceira da mesa, indo meus discípulos, que me
haviam acompanhado em número de quatro, ocupar o outro extremo. Demonstrei-me
amável e conversador nessa noite. Meus olhares e meus sorrisos se dividiam
entre os comensais, iluminando-se com o brilho da geral alegria. Assim
procedi sempre, tomando as atitudes que correspondiam às circunstâncias em que
me encontrava e jamais em uma festa ou em uma reunião de amigos me viram
desejoso de silêncio ou distraído por penosas preocupações. Acostumado
à vida nômade, renegava da família e da pátria para melhor honrá-las, na
elevada expressão destas palavras: — família de homens — Pátria universal! Eu
tinha fanatismo pelos direitos da alma até à renúncia completa das esperanças
humanas; porém nos casos de minha presença entre os homens, dava as seguranças
do apoio divino para os que soubessem dirigir bem suas famílias e para a justa
e amorosa direção das mães. Minha
doutrina baseava-se na fraternidade humana e as massas comprimiam-se ao meu
derredor para ouvir estas palavras, das quais eram pródigos meus lábios: “Eu
vim para alegrar aos tristes e para dizer aos felizes: Sede os servos dos
pobres, que o Deus de amor e de justiça vos recompensará". “Vós
todos sois Irmãos e o servo vale tanto como o senhor na casa de meu pai". “O
que se humilha será elevado". Umilhai-vos para servir a Deus; tão-somente os
humildes serão glorificados". “Chamai,
e responder-se-vos-á; batei, e abrir-se-vos-à. Aprendei minha lei e divulgai meus mandamentos por toda a terra, amando-vos uns aos outros. Não
procedais
como os hipócritas que se prosternam diante de Deus para serem observados
pelos homens, que oram com o coração cheio de cólera e ciúmes; colocai diante
das portas do templo de Deus, vossos desejos de fortuna terrestre, vossas
esperanças de alegrias mundanas, vossas fraquezas de amor próprio, vossos
pensamentos impuros, vossas baixas concupiscências, para que a graça desça sobre
vós com a prece" “Amparai
a viúva e o órfão". “Livrai
ao pecador de sua vergonha, mostrando-lhe os braços sempre abertos para
recebê-lo". “Descobri
o vicio, desmascarai a impostura, mas fazei penetrar em todos os culpados as
palavras de misericórdia, a promessa de perdão". “A
esmola feita com ostentação não é agradável ao Senhor, nosso Pai, e o óbolo da
viúva tem mais valor aos seus olhos do que os milhões do rico". “A
esmola não é proveitosa para o que a dá, senão quando se a rodeia do maior
mistério. Guardai portanto o secreto respeito das misérias que tiverdes
aliviado, e que vossa mão esquerda não saiba o que a vossa direita tenha
distribuído". “Dizei:
creio e obrai. A atividade está para a fé, assim como o calor está para o
amor; um sinal de vida". “Medital
sobre minhas palavras e não lhe deis um sentido diferente daquele que têm". “O
fervor não consiste na abundância das palavras e na petulância da ação, senão
na. modéstia da caridade. Ele honra o espírito sem fazê-lo brilhar entre os
homens. Ele dá à alma um terno ascendente sobre as almas; porém, não a impele
para a opressão, para a dominação, para a prepotência do mando. Faz florescer
a sabedoria, não arrasta o espírito para a perturbação
do orgulho e do poder, para as paixões tumultuosas da grandeza humana, na
temeridade da ambição das honras humanas". — 134 — “Pregal
em meu nome e garanti minha presença, porque
meu espírito continuará ainda em vosso meio. “Permanecei fiéis à minha palavra
e consolai-vos dizendo: O Senhor está conosco. “Tomai-me
como exemplo; sou pobre, permanecei pobres; sou perseguido, sofrei
perseguição, e que o Deus de paz dite vossas palavras". “Esquecei
os ultrajes, praticai o amor e oral com um coração puro". “O
ferro e o fogo, o abismo e o espírito das trevas não prevalecerão contra vós". “Eu
sou aquele que Deus enviou para dizer a verdade aos homens". “Sou
o laço de amor". “Sou
a porta da pátria feliz e as portas do inferno “não prevalecerão contra mim". “Sou
aquele que foi, que é e que será". “Não explico estas palavras porque vós não as compreenderíeis; mas dia virá em que
todos os homens poderão compreender a verdade". “Permanecei
fortes no amor. Sou vosso Senhor e vosso pai e estarei convosco durante todos
os séculos mediante o poder de Deus e por efeito de minha vontade". “Não desembainheis jamais a espada; quem fizer uso
da espada perecerá sob seus golpes". “Melhor
seria que não tivésseis jamais nascido do que esquecer meus ensinamentos,
porque a justiça de Deus pesa com maior rigor sobre os pais do que sobre “os
filhos; sobre os ministros infiéis do que sobre a massa dos pecadores". “Ide
por toda a terra e anunciai a palavra de Deus, proclamando-vos seus profetas.
Perdoai os pecados". “Tudo o que vós perdoardes aqui, perdoado será no céu, e a
graça acompanhar-vos-á enquanto seguirdes minha lei.” A
justiça de Deus quer todavia que Jesus seja vossa estrela condutora em meio dos
erros e perigos, porém manda que as palavras de outros tempos sejam arrancadas
da treva que as envolvia para resplandecerem de luz divina e para iluminarem os
espíritos que se encontram agora mais bem dispostos para receber a
luz do que na época em que Jesus vivia como homem entre os homens. A
doutrina de Jesus demonstrava a igualdade entre os espíritos ao sair da mão do
Criador, sendo a diferença que se estabelece depois entre eles o resultado do
adiantamento mais ou menos rápido de cada um de acordo com a irradiação do amor
para com a família universal, cujos membros são todos irmãos e devem ajudar-se
por meio da caridade e da abnegação. Quanto maior é o progresso dos espíritos,
tanto mais sentem os deveres da fraternidade. Quanto mais adiantados são os
espíritos, tanto mais sentem a tendência generosa e o ardor do sacrifício em
favor de seus irmãos como expressão do amor fraternal. Com a palavra caridade
eu não entendo tão-somente a esmola e a falta dos sentimentos do ódio senão a
compaixão íntima da alma por todo o sofrimento. Com a palavra devoção não quero
designar unicamente a exaltação passageira da alma em busca de Deus, impelida
talvez por um sofrimento momentâneo, senão o sentimento da prece na associação
contínua com todos os sofrimentos e a tendência permanente de participar de
todas as misérias, todas as vergonhas, todos os conflitos da alma. A palavra
amor não encerra a explicação das ternuras entre os aliados terrestres, senão
que impõe o bem por meio da palavra, das obras, do esquecimento de si mesmo em
benefício dos demais mediante a firmeza na proteção de nossos semelhantes e o
cumprimento de todos os nossos deveres fraternos, humanos. A
doutrina do amor, baseada na igualdade e na fraternidade; eis aí a causa do
prestígio de Jesus no meio da humanidade. Veio trazer a lei de Deus a um mundo
muito novo para podê-la compreender, porém lançou os alicerces de sua obra, que
seria imortal, e essa obra continua seu desenvolvimento. Ele veio para ensinar
a lei de sacrifício, e, se bem que os sucessores de seus apóstolos, que estavam
na obrigação de caminhar entre a humildade e a pobreza, para honrar a lei e
obedecer ao mandamento, não respeitaram a palavra do mestre, virão discípulos
mais dedicados que saberão cumprir ditos ensinamentos, repetindo suas palavras,
as quais não terão jamais contraditores. Irmãos
meus, eu sou o Messias e o fundador da Igreja Universal. Retorno
agora para repetir tudo o que já disse, imprimindo o cunho da grandeza divina
às palavras humanas. “A
presença do espírito resplandecerá no meio das trevas e as trevas serão
dispersadas. A luz ilumina a todo homem de boa vontade". “Os
homens não me conheceram porque não possuíam a verdadeira luz, porém me
reconhecerão ao adquirir
mais luz, iluminados pelas claridades do enviado
pelo Senhor". “Felizes
os que acreditarem, porque caminharão minha
lei; felizes os que seguirem meus mandamentos, porque verão a Deus". “E’
um erro fatal afirmar que Jesus veio trazer espada
pois eu sou o laço de amor, tendo dito: Amai-vos uns aos outros e meu Pai vos
amará”. Erros
realmente fatais são os que têm dado lugar a alegrias sacrílegas no meio do
sangue e dos horrores das hecatombes oferecidos
ao Deus dos exércitos, quando não são mais que delírios pela possessão de bens
efêmeros no meio do triunfo das baixas paixões e da própria submissão ao império
da maldade e dos gozos vergonhosos do vicio! Eu
disse: “Permanecei
humildes; não vos deixeis dominar ambição
dos bens terrenais, nem pelo desejo de mundanos. “Os
que se apegam à terra não me podem seguir. “Meu reino não é deste mundo". “Apoiai-vos
em mim e eu vos conduzirei à vida, vos
darei a vida, porque a vida sou eu. “Eu
sou o bom pastor; quando uma ovelha se eu
procuro-a e conduzo-a ao rebanho". “Minhas
ovelhas são os filhos dos homens; como
eu faço e reine a alegria na casa do patrão quando uma ovelha extraviada volta
ao redil". “Deixai
vir a mim as crianças e também os pobres, os pecadores e as mulheres de má
vida (2), porque se a Infância precisa de luz e de apoio, os pobres meus
preferidos, os pecadores pedem auxílio para poder
entrar na nova vida, e as mulheres de má conduta apegam-se a um vaso de
argila, quando têm ao alcance
um vaso de ouro. O vaso de argila é o amor
dos homens, e o vaso de ouro é o amor de que
não perece". ____________________________________________________________ (2)
Não compreendo o porque desta diferença entre as culpas do homem da
mulher. sendo afinal o espírito, que não tem sexo, o que delinqüe. Quando o dos
homens é falso, são os homens os que delinqüem; quando as mulheres provocam falsidade
no amor, são elas as que delinqüem; mas é bom não esquecer que, se há de
má vida, é porque existem homens que as excitam, porque por si sós não levar
essa má vida. Em realidade é na intenção que Consiste o mal e a julga-se
com demasiado rigor o que não é mais do que uma fraqueza na mulher, passo
que desculpa-se a mesma fraqueza no homem, chamando-a necessidade. — do
Sr. Rebaudi. ____________________________________________________________ “Permanecei
fiéis à minha doutrina e propagai-a por toda a terra para que os homens não
estejam divididos e só exista uma religião e um templo". “Fazei
o que vos digo, arrancai a erva má, lançai ao fogo a planta seca, separai o
trigo do joio e caminhai pelo meio das ruínas edificando de novo". “Mas
cumpri a lei com doçura e amor. E’ preciso compadecer-se da pobre avezinha e
recordar também que, como ela, tudo o que vive depende de Deus". “Caminhai
e repeti minhas palavras. O céu e a terra passarão, porém minhas palavras não
passarão, porque a voz do espírito deve repercutir em todo tempo". “Façamos
resplandecer minha identidade, irmãos meus, com o paciente encadeamento dos
pensamentos e a franca exposição de minhas obras. Humilhemo-nos juntos.
Aceitai-me como mediador, posto que me vos ofereço e venho para libertar-vos
dos homens de má vida". “Rompei
a cadeia que vos liga ao egoísmo, ao orgulho, ao vício, à tibieza, ao desalento,
porque venho libertar-vos do pecado e da morte.” Eu
sou sempre aquele que conduzo para a vida e vos digo: “Vinde
a mim, os que chorais, pois eu vos consolarei". “Vinde
a mim, pobres e pecadores, humildes e abandonados, e eu vos darei a paz e o
calor.” Meus
discípulos estavam cada vez mais convencidos da grandeza de minha missão, e a
familiaridade de nossas conversações particulares não diminuía o respeito de
suas demonstrações diante dos homens. Imitadores de minhas maneiras e de meus
gestos no modo de falar, eles recebiam honras de todas as partes, refletindo-se sobre minha pessoa, a quem não perdiam as continuas oportunidades que se
lhes apresentavam para designarem-me com os qualificativos de Senhor e de
Mestre, querendo com Isto demonstrar o lugar que me reservavam no meio deles. Eu
resignei-me à honra desse cargo de mestre para dirigi-los, porém empregava
todos os argumentos para fazer-lhes compreender a divina essência da palavra irmão, reconhecer a elevação da alma no meio das mais humildes posições do
espírito e a saber adquirir toda a força necessária para suportar todas as
humilhações presentes com a celeste esperança da glória futura. — 138 — “Eu
sou vosso pai espiritual, porém este caráter me obriga, mais que a vós mesmos,
o emprego de maior paciência e doçura". “Sou
vosso Senhor, quero dizer, vosso diretor, vosso defensor; mas se alguém entre
vós me julgasse Indigno destes títulos, estaria no dever de advertir-me,
porque o discípulo vale perante Deus tanto como o mestre, e porque é indispensável
que exista entre nós uma confiança ilimitada, para poder alcançar o objetivo
que nos temos proposto". “Oremos
juntos para que Deus nos ampare, mas seria preferível que o discípulo
perecesse antes que o mestre, porque a cabeça é mais útil do que o braço e
porque a ruína do senhor produziria também a ruína de seus servos". “Honrai-me,
porém não me prodigalizeis juramentos que se refiram ao porvir, porque o
espírito está pronto, porém a carne é fraca". "Eu vos digo: muitos de vós
me
abandonarão no caminho do sacrifício". “Os
dispersos não se reunirão senão para tornarem-se a dispersar. Tão-somente a
cabeça é forte. A cabeça sou eu, os membros sois vós, Não
temais. A prova que está para chegar suportai-a como a rajada de um furacão". “Os
messias ressuscitarão em espírito e este espírito brilhará no meio das trevas,
guiará vossa nau por cima das agitadas ondas, sua voz dominará a tempestade e
sua palavra anunciará o novo dia". “Vós
percebereis o espírito pela influência de doces esperanças que se filtrarão em
vossa alma e pela força que duplicará vossas forças". “Percebereis
o espírito pelo sopro divino que passará por cima das vossas cabeças e pelo
calor que penetrará em vossos corações. Vereis o espírito no meio dos
resplendores, que iluminarão vossas almas e ninguém poderá enganar-se". “Mas
escutai-me e preparai o reino de Deus praticando a dedicação e o amor, a
prudência e o desprezo pelas honras". “O
mundo encher-vos-á de escárnio e muitos vos odiarão, porém sofrei-o por meu
amor, dizendo sempre: o Senhor está conosco e nós somos seus membros. Tenho
ainda outros membros: são os pobres e quando vejais aos pobres, lembrai-vos
destas minhas palavras". — 139 — “Não
acuseis ninguém por minha morte. Meu pai me mandará o cálix da amargura e eu o
exaurirei até o fim". “Mas
ponde em prática, depois de minha partida, o que até agora temos praticado juntos,
e espalhai minhas palavras como as tenho dito, sem substituir- lhes nada nem
acrescentar-lhes nada". “A
terra se renovará e minhas palavras serão compreendidas através dos séculos;
eu vos repito: o espírito ajudará ao espírito e o reino de Deus se
estabelecerá, por obra do poder do espírito". “O
espírito lançará a palavra e a palavra será semente". “Muitos
de vós verão o reino de Deus". “Estas
palavras não podeis compreendê-las e tenho que deixar-vos na Ignorância,
porque o momento não chegou para que vos sejam explicadas; porém muitos as
comentarão e eu voltarei devido a isto e a outras cousas, porquanto meu dia
não está concluído e deixarei, morrendo, erros e dúvidas que meu Pai me permitirá
dissipar". “A
verdade semeia-se em um tempo e os frutos da verdade recolhem-se como
colheita, em outro tempo. Mas a palavra de Deus é eterna, e todos os homens a
receberão, porque a justiça de Deus é também eterna e porque sua presença
manifesta-se em todos os tempos”. Aprendamos
hoje, irmãos meus, a justiça destes ensinamentos e honrai-me com a mesma
atenção que prestavam meus discípulos. Avancemos pelo caminho do
engrandecimento e deixemos divagar os pobres de espírito, convertendo
entretanto a palavra de Deus em nosso alimento espiritual. Deus manda a todos
os mundos Instrutores, mas a cada mundo lhe estão destinados como instrutores
espíritos do mesmo mundo. Os Messias são Instrutores avançados, cujos
ensinamentos parecem utopias. Minha missão não podia impor uma regra de
conduta em um século de ignorância, tendo que limitar-se a fazer nascer idéias
de revolução nos espíritos e prepará-los para a renovação do estado social
futuro. Meus apóstolos não deviam ser homens de gênio, nem homens do mundo. Era
necessário que eu os escolhesse entre a gente simples e trabalhadora, para instruí-los
e imprimir-lhes unia direção justa, sem ter que obrigá-los à
renúncia dos gozos do espírito e das comodidades Minha
resolução Inabalável de sacrificar minha vida com o martírio, parecia-me uma
ordem á qual devia obedecer sob pena de me ver retirado o título de apóstolo, o
patrocínio de Messias e esse prestígio de Salvador e de Filho de Deus, com que
o Pai me havia agraciado e do qual a humanidade esperava especiais benefícios. Meus
conhecimentos de apóstolo concentravam-se para o porvir, e a miúdo, enquanto
falava aos homens do presente, dirigia-me indiretamente aos homens do porvir. Minha
voz tornava-se então profética e meus discursos sofriam a
influência da difusão de meus pensamentos quando atingiam as alturas
da verdade e que esta verdade tinha que ser levada com a
rigidez dos dogmas estabelecidos. As
perguntas que tinham o objetivo de fazer-me cair em contradição, eu respondia
de maneira tal como que para desconcertar ao que perguntava, procurando ao
mesmo tempo Infundir respeito nas multidões com a autoridade do olhar, do gesto
e da palavra, sempre resoluta e incisiva. Atacando
de frente todos os poderes e todos os prejuízos sociais, do nascimento e das
riquezas, haveria facilitado a revolta, se ao mesmo tempo não tivesse predicado
a glória que se encontra nas humilhações diante da felicidade eterna. Pobre e
livre, eu falava com firmeza, impelido por um entusiasmo indescritível ao
referir-me às liberdades espirituais. “Dai
vossos bens aos pobres e segui-me. E’ mais difícil um rico entrar no céu do que
um camelo passar
pelo fundo de uma agulha.” As
figuras atrevidas, as comparações de colorações fortes eram apropriadas para um
povo mais fácil de comover-se do que compreender razões, por cujo motivo a
miúdo tinha eu que lançar mão destes meios poderosos para abrir brecha no
espírito de meus ouvintes. Meus
discursos, que sempre terminavam com uma citação apropriada ao caso ou com uma
sentença, ficavam como que estampados, e minhas formas de linguagem em nada se
pareciam com as dos outros oradores. Eu
fazia denúncia perante a Divindade de todos os vícios que descobria. O
castigo do mau rico inspirava-me quadros sombrios e eu lançava anátemas contra
a exploração do homem sobre o homem; mas Os
puros gozos de minha alma tinham sua manifestação exclusivamente em meio dos
amigos, e as conversações tranqüilas e afáveis faziam-se-me cada vez mais
necessárias. Irmãos
meus, santas companheiras minhas, tornai a ser novamente nestes momentos a fonte
das alegrias retrospectivas do espírito. Sede o descanso em meio de minhas
agitadas recordações, para que as imagens consoladoras, ao apresentarem-se
diante de meus olhos conjuntamente com as sombras pavorosas, evitem o esforço
para abreviar a narração sob a influência do dissabor e das passadas amarguras,
a qual seria uma deficiência histórica e um ponto negro para a luz do meu
espírito. Irmãos
meus: Oxalá possais compreender o valor de minhas palavras e ligar-me a vós,
como irmão vosso na adoração de um só Deus; como irmão vosso na reforma de
vossos hábitos e nas meditações de vosso espírito. Como Irmão vosso no desejo e
esperança de vossa parte para a aquisição das conquistas do espírito de que,
com felicidade, eu desfruto, e como irmão pelo perfeito acordo de vossas
vontades com a minha, podendo-se assim imprimir à marcha das cousas uma direção
mais conforme com a natureza humana dignificada por uma emanação divina. Não
ignoro que esta minha fraternal demonstração terá o efeito, no primeiro
momento, de uma pura ilusão de meu espírito, mas conto com Deus para dissipar
este erro. Deus não me deu o poder de manifestar-me hoje para abandonar-me
logo, deixando-me na impotência de dar provas de minha revelação. Deus vos olha
e espera nossos olhares. Homens
dominados pela vertigem e pela cegueira pedem a continuação das honras e
riquezas de que desfrutam e o direito de cuja posse se originam faltas e
delitos. Homens devorados pelas paixões brutais e egoístas afirmam que nada existe
além da matéria (3) e
que as crenças religiosas não constituem mais que mentidas aparências ou
ridículas aberrações do espírito. A luta é a que distribui as honras. A luz do
dia e a escuridão da noite envolvem O crápula embriagado e a criança que morre
de fome (4) . Que demonstra tudo isso senão o horrível transtorno da dignidade
dos espíritos dada pelo Criador dos espíritos? — Senão a decadência do espírito
inteligente que deprime ao espírito novo! (3)
No “Congresso Universal do Livre Pensamento” afirmei que estes homens são de
cérebro deficiente, pelo menos sob o ponto de vista da falta de uma consciência
clara a respeito de sua personalidade e sua própria espiritualidade, comparando-os
aos daltonianos, que confundem as cores, e com os que carecem de ouvido musical,
que não podem portanto apreciar as associações harmônicas dos
sons. Do mesmo modo estes pobres seres nada alcançam conceber fora da absurda rnaterialidade
das coisas que os rodeiam e, ainda que possam ser grandes
monopolizadores de conhecimentos e até cheguem a brilhar como mestres nas
ciências naturais, dão provas de sua escassa evolução espiritual pelo simples
fato de sua incapacidade rara as grandes concepções do espírito e até para o
simples conhecimento de sua própria natureza íntima. Ao afirmar isto, recordei
as numerosas provas que sobre este particular venho apresentando em minhas
conferências públicas na sociedade Constância e na Sociedade Científica de
Estudos Psíquicos e acrescentei, que o fato de que os mais notáveis
livre-pensadores materialistas tinham morrido, abjurando suas idéias, entre os
braços da igreja católica, ao passo que nem um só livre-pensador
espiritualista dos
que se tenham dado a conhecer, haja caído em semelhante aberração do caráter,
era prosa da melhor consciência que de si mesmos tinham os segundos e de sua
melhor constituição cerebral, filha de sua maior evolução. — Nota do Sr.
Rebaudi. (4)
Quer dizer Jesus que este modo de comportar-se de certos espíritos,
relativamente velhos e intelectualmente adiantados, exerce uma ação depressiva
sobre os espíritos novos e por conseguinte pouco evoluídos ainda. Isto
compreende-se facilmente, ainda que na realidade, como disse em minha nota
anterior, esses espíritos velhos fizeram um uso rotineiro de seu fósforo
cerebral, porquanto não souberam desenvolver essas aptidões superiores, que
conduzem forçosamente para o espiritualismo e que resultam em parte do domínio
sobre si mesmo, do estudo de sua própria personalidade, do cultivo, em uma
palavra, de tudo o que nos separa da animalidade de nossas origens. — Quem
duvida que quanto mais evolucionado é o ser, tanto mais distanciado se encontra
de seu ponto de partida, , na animalidade? — Pois bem, nada há que se distancie
mais da animalidade que as concepções de um espiritualismo superior. Porém não
se deve confundir o espiritualismo com o sectarismo religioso ou com o animismo
dos selvagens, em que incidem muitos materialistas ao querer combater o verdadeiro
espiritualismo. O materialismo inspira o egoísmo e a cobardia e faz o homem
retroceder para o instinto e os impulsos animais, porquanto tende a
proclamar o direito da força, como entre os animais, o amor livre como entre os
animais, o abandono das crianças ao desenvolvimento espontâneo de seus
impulsos naturais, como entre os animais, a luta para a satisfação, não só de
nossas necessidades senão de nossos caprichos, como entre os animais, e enfim,
por onde quer que se os procure, ver-se-á que as tendências do materialismo
são as de bestializar a humanidade. Entretanto, do choque desta bestialização
com os ideais nobres e elevados, que são próprios da nossa natureza espiritual,
nasce essa doutrina híbrida que se chama anarquismo. Não há um só
espiritualista que seja anarquista. Não há nem pode haver — Nota do Sr. Rebaudi. Todos
os espíritos de Deus se reconhecem pela elevação de suas manifestações. Nenhum
deles concede a seu intérprete (5) a faculdade de falsear as leis que regem a
natureza humana e todos procuram robustecer em si mesmos o sentimento de justiça
e de abnegação. A
revelação é uma honra que Deus concede a seus filhos e manifesta-se pela
inspiração do espírito no espírito; torna-se ostensiva pelo engrandecimento do
desejo e da vontade; Impõe-se mediante as missões confiadas aos espíritos. A
revelação constitui uma parte da lei de amor que se desenvolve no meio das
humanidades. Deve acrescentar-se que a revelação não pode ir mais além da
compreensão de seu intermediário e que ela proporciona a luz necessária segundo
as necessidades da época em que ela tem lugar. A manifestação do espírito puro é generosa, porém, permanece dentro dos limites traçados pela sabedoria e
santidade de sua missão. Não associa jamais a promessa dos bens temporais com a
promessa das graças merecidas com o adiantamento do espírito; não responde às
perguntas ditadas pela curiosidade inconsiderada, por isso afasta-se dos intérpretes indignos e são pouco freqüentes suas manifestações. E’ justamente
pela escassez destas manifestações que eu insisto na efetividade de minha luz.
A participação de Jesus nas alegrias infinitas confere-lhe o direito de falar
mais divinamente do que quando falava como filho da terra; mas, nestas páginas,
em que Jesus evoca as expansões de sua natureza humana, tem que expressar-se na
forma em que o fazem os homens perante os homens, demonstrando suas alianças de
família, sua vaidade de filho rebelde, suas fraquezas de espírito, suas ilusões
de coração, como se ainda se encontrasse no mundo dos humanos. O
poder de minha voz associa-se hoje com a emanação de minhas recordações de
homem. Não vos preocupeis da distância que nos separa, irmãos meus; destruí
vossas crenças errôneas; levantai uma barreira intransponível entre Jesus
homem, sua mãe mulher e as fábulas que têm desnaturalizado a personalidade de
Deus. No
transcurso de minha vida terrena fiz discípulos e amigos, derramando palavras
de paz e censurando, com a consciência de um espírito iluminado, a vaidade e a
hipocrisia dessa sociedade potente e faustosa, que predominava, acendendo nos
cérebros a chama do desejo para os gozos espirituais, praticando a caridade do
coração para com todos os enfermos, levantando a voz em defesa de todos os
fracos, aproximando-me a todas as misérias, descendo a todas as vergonhas,
inspirando aos pecadores o arrependimento. Por que não haveria de conseguir eu
agora discípulos e amigos mediante a emanação
de minha espiritualidade? Minhas palavras do tempo passado foram adulteradas ou
mal compreendidas; minhas palavras de hoje se honrarão porque recebem a luz divina.
Minhas palavras de outrora tiveram que esfacelar-se ao chocarem-se contra a
ignorância; minhas palavras de hoje trazem atrás delas o testemunho de um Deus. Procedamos,
irmãos meus, a uma revista fácil e rápida de meus hábitos, de minhas fadigas,
de meus entretenimentos, de minhas expansões fraternas, e honremo-nos
mutuamente, vós por meio de uma justa atenção e eu com minhas confidências e
com meu livre trabalho de espírito. Durante
uma vida humana não é possível levar-se a termo trabalhos imensos, mas a
marcha no sentido do progresso pode reanimar-se sob um sopro regenerador. No
período da decadência de um mundo o pensamento reformador surge de improviso,
como o vasto horizonte que, ao separarem-se as nuvens, se oferece
repentinamente diante de nossa vista. A atuação humana de Jesus tinha preparado
o horizonte que hoje, ao abrigo de sua manifestação Divina se patenteia
diante dos olhares da humanidade terrestre e sua voz, hoje, na plenitude de sua
potência, fará desaparecer todas as sombras que obscureceram sua aliança com
Deus e com os homens. — Aliança de Deus! — Sim, porque Jesus tinha que
emancipar as ordens de Deus. — Aliança com os homens! — Sim, porque Jesus vinha
falar-lhes de amor, de fraternidade, de paz, de justiça, e o amor, a fraternidade,
a paz e a justiça dão origem à sabedoria, à força, à ciência das alegrias
futuras e dos favores de Deus Jesus agora demonstra à posteridade sua natureza
humana, dando-lhe ao mesmo tempo provas de sua existência de espírito.
Repitamos, pois, as palavras pronunciadas por Jesus homem, mas
acrescentemos-lhes as noções do espírito de Deus, para que vos compenetreis
bem da elevada missão que Jesus veio começar como homem e que o mesmo Jesus vem
agora continuar como espírito. ........................................................... Jerusalém
me atraía, não obstante as poucas probabilidades de êxito que oferecia às
minhas tentativas de proselitismo. Eu me esforçava para apresentar-lhes sob
alegres cores, a meus discípulos, a viagem para ali, conhecendo bem a repulsa e
o terror que essa idéia lhes provocava. Pedro manifestou com gritos, como
costumava, seu desagrado quando se lhe falou de voltar a Jerusalém. Os dois
filhos de Zebedeu derramaram lágrimas sinceras, suplicando-me que desistisse de
tal propósito. Os dois Tiagos, Irmão e tio de Jesus, fizeram-lhe o completo
sacrifício de sua vontade. Todos os outros deram-me a certeza de sua fidelidade
e dedicação, instando comigo para que permanecesse no meio de um povo onde
havia encontrado tanta docilidade e tanto amor. Cansado desta disposição,
porém, resolvido a vencê-la, deixei que se acalmassem estas , primeiras emoções
de meus apóstolos e não lhes tornei a falar de Jerusalém. Mas
em nossas conversações, como em minhas práticas, eu dava a
medida das preocupações de meu espírito, insurgindo-me contra a
fraqueza dos que preferem o repouso à luta, o êxito fácil aos trabalhos
do pensamento e às fadigas corporais. “A
luz, exclamava eu, deve ser espargida caiu profusão". “Envergonhal-vos
vós que a ocultais debaixo do alqueire, homens pusilânimes, homens de pouca
fé". “A
abundância dos dons divinos vos enche de alegria, mas quando se torna
necessário demonstrar a verdade com o trabalho e a graça mediante sacrifícios,
“vós permaneceis no meio da ociosidade e do egoísmo. “O
cultivador que da com terra estéril, leva suas esperanças para outra terra
mais produtiva; pois bem, ‘eu sou o cultivador e a terra estéril sois vós.” O
nível de meus conhecimentos não era alcançado pelas multidões; mas seguiam-me
alguns discípulos mais clarividentes nas casas onde eu e meus apóstolos
encontrávamos hospedagem, já seja na mesma Cafarnaum, já seja nos campos dos
arredores. No meio deste circulo de íntimos eu fazia as confidencias de minhas
tristezas humanas e de minhas esperanças divinas. Quanto mais próxima me
parecia estar minha morte, maiores eram as advertências que ela me sugeria. Minha
obra pereceria, eu o sabia, se depois de morto, Deus me não permitisse
colaborar ainda nela como espírito. Minha
fé e minha confiança arrastavam a fé e a confiança dos que me ouviam e
entregava-me às visões serenas e doces, assim como à dolorosa perspectiva da
ignomínia e do martírio. Eu Imprimia na alma desses ouvintes, meus Ideais e
meus propósitos como esses estigmas de fogo, que jamais desaparecem, e imprimia
em seus espíritos a Imagem de meus olhares, que eram sempre ternos, de meu
sorriso, quase imutável, de minhas maneiras e de minha delicadeza ao
consolá-los e ao demonstrar-lhes meus afetos. Via neles o povo do porvir e
sonhava no despertar do mundo, no êxito de minha missão, o triunfo de minha doutrina,
apesar dos desatinos de meus amigos e da má-fé de meus inimigos. Os
homens, cuja crença na divindade de minha pessoa fomentava meu discípulo
predileto João, eram meus próprios amigos, pouco avisados, que dariam lugar
mais tarde à fundação de um o culto
idólatra, com o mistério da Trindade, da Encarnação e da Redenção (6). Irmãos
meus, convertei-vos em verdadeiros adoradores de Deus interpretando com
sabedoria as leis da Natureza. Honrai o caminho do vosso espírito; acumula!
provas da grandeza de Deus e rechaçai tudo o que seja contrário a esta
grandeza. Eu
não discuto convosco a respeito de minha identidade, porém, emprego todas as
potências de meu espírito para arrasar a falsa e irrisória denominação (7) que
ligaram a meu nome de homem. Vinde, irmãos meus, à casa em que Jesus, enquanto
espera a refeição da noite, está sentado no meio de homens ávidos de escutá-lo
ainda, depois do dia passado em segui-lo e de escutá-lo, seja nas sinagogas,
seja nos centros mais populosos dos lugares percorridos. A conversação gira
sempre em torno das práticas recentes. Jesus tinha pronunciado as seguintes
palavras, depois da parábola do filho pródigo: “A
reconciliação de um pecador com Deus produz maior alegria no céu que a
perseverança de dez justos.” Agora
Jesus completa seu pensamento. A natureza humana, segundo os dogmas da lei
judaica, é chamada a uma recompensa estacionária no céu, ou uma condenação
eterna no inferno. Porém, Jesus, de acordo com o sentimento humano que vê em
Deus a onipotência unida à supremo bondade, determina contradições às suas
próprias palavras para afirmar sua fé diante de seus discípulos e combater o
princípio consagrado em outro lugar da lei. Porém, Jesus, de acordo com a alta
inteligência de Deus, abandona a letra dogmática das baixas regiões e expande
seu espírito para o contato dos espíritos fàcilmente iluminados por ele. 6)
Certamente estes amigos não fizeram mais, e talvez inconscientemente que
preparar o terreno para a implantação destas curiosas doutrinas, posto que em
realidade elas existiam já no Egito e na índia, de onde se divulgaram pela
Judéia e pelo Ocidente, quase sem variação; do mesmo modo foram copiadas nos
Evangelhos mais tarde a concepção virginal de Maria, por obra do Espírito, a
matança dos inocentes e a transfiguração, copiado tudo, quase ao pé da letra,
dos Vedas. Assim também instituiu-se o sacramento da Eucaristia, por uma falsa
interpretação das palavras de Jesus, quando quis significar que o pão repartido
entre os irmãos, assim como o vinho bebido em comum, à maneira de um símbolo
de união, quer dizer: a confraternização, de que esse pão e esse vinho, assim
repartido e distribuído no final da ceia, eram o símbolo, constituíam a mesma
carne e sangue de sua doutrina e o que não comesse e bebesse deles, quer dizer,
o que não praticasse suas máximas de amor, não Veria o reino do céu. -
Além do mais, a ceia pascal era um costume hebreu muito generalizado e que não
tinha maior alcance que o da confraternização, como sucede agora Com os nossos
banquetes, se bem que os hebreus davam-lhe ao mesmo tempo o caráter de festa
religiosa, recordando sua libertação da escravidão. Como
pode supor-se no plácido Jesus a idéia de converter-nos em antropófagos ou
pior, visto que se trata de comer o próprio Deus? Haverá alguém capaz de
comer o seu próprio filho? — Não, certamente. — Como então se poderá
transformar em um fato virtuoso comer-se a Deus? A
confissão é outra interpretação errada que os católicos deram às palavras de
Jesus, que se esforçava sempre em ser claro e jamais lhe ocorreu dizer uma
coisa para que se compreendesse outra. Quando, pois, disse: confessai-vos uns
aos outros, não quis dizer senão o que estas palavras exprimem, isto é, que
confessemos reciprocamente nossas faltas, de cuja confissão nasce a
necessidade do arrependimento e da reparação, porque o confessar-se aos outros
e ao ofendido uma falta, é natural o acrescentar: não o farei mais e
procurarei ressarcir o dano. O que não tivesse tais idéias não se confessaria,
porque a confissão não teria razão de ser. — Nota do Sr. Rebaudi. (7)
Refere-se sem dúvida à denominação de Jesus Deus. —
“O filho pródigo, disse, é o pecador levado ao “arrependimento, é o homem
enfermo restabelecido na posse de suas forças e da saúde. Expliquei-me para fazer
compreender as delícias da reconciliação, mas escutai o verdadeiro sentido de
minhas palavras". “O
destino do homem chama-o a numerosos trabalhos e sua liberdade opera-se
lentamente por meio das ligações de seu espírito e da expansão de suas faculdades". “Na
vida carnal esse destino e essa liberdade aparecem agora enfraquecidos,
porém, tornar-se-ão corporalmente mais fortes e desembaraçados dos terrores imaginários do espírito. A demora vê-se com freqüência
dilatada pela negligencia e a emancipação pelo amor sensual". “A
justiça divina deixa ao homem o livre emprego de suas forças, porém, se ele
abusa delas para empobrecer sua alma, faz-lhe sofrer o peso do fardo de suas misérias e de suas dores, depois de tê-lo ajudado
por um momento". “Em
um estado mais avançado do espírito humano há espíritos que podem permanecer
inativos, devido a ligações perniciosas ou fraquezas morais, no cumprimento
de uma elevada tarefa. Eis aí os justos de que quis falar. “Em
meio da degradante humilhação da natureza humana, um espírito pode tornar-se
repentinamente heróico na justa apreciação dos dons de Deus. Eis ai o filho
pródigo". “Merece
muito de Deus o que se levanta com coragem; o que desenraiza a árvore velha e
lança-a ao fogo; o que lava seu lugar para que nada do passado se note nele;
o que do fundo do abismo sai à luz do sol no pleno domínio de sua vontade e
mediante seus esforços". “O
Festim, o Céu, é a festiva acolhida que se faz ao pecador arrependido em sua
chegada entre os espíritos do Senhor. A árvore desarraigada é o pecado, o
lugar lavado é o coração que estava manchado; o abismo
é a morte da alma, como a luz é a sua ressurreição". “Na
abundância dos consolos dados a mãos cheias aos aflitos, Jesus havia dito:
“Felizes os pobres de espírito, porque o reino de meu Pai pertence-lhes”. Volto
a tratar desta expressão para fazer ressaltar seu alcance: “Os
pobres de espírito são os que fogem do poder e da dominação dos gozos mundanos
e do repouso egoísta na posse dos bens da terra". “A
pobreza de espírito proporciona o sentimento da humildade para diminuir-se
diante dos homens, elevando-se espiritualmente, para desprezar todas as
demências do orgulho e da presunção. Felizes, pois, exclama ainda Jesus, os
pobres de espírito! Felizes também os que compreendem e praticam a palavra de
Deus. “— Quem de vós outros, amigos meus, não quererá contar-se entre os
pobres de espírito, desde que a modéstia e a força no sacrifício os coloca
acima dos demais homens?” Jesus
define depois uma palavra lançada por ele em um momento de indignação. A
multidão apartou-se e um homem do povo se aproximou de Jesus e disse-lhe: “Mestre:
Pagaste tu o tributo a César? — Se o pagaste, por que, o fizeste desde que não
reconheces alguma outra autoridade senão a de Deus? — Se não pagaste, por que
proíbes a rebelião, se dás o exemplo dela?” Jesus
compreendeu que tinha que tratar com um desses homens grosseiros e maus, cujo
desejo era obrigá-lo a manifestações contrárias ao governo estabelecido. Mas
conservou a calma exterior, apesar da indignação que fervia em seu interior, e
respondeu: “Dai
a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” Os
discípulos sorriam-se ao lembrarem-se do gesto e acento do mestre, tomado assim
tão de surpresa; em seguida a palavra de Jesus torna-se grave e tira desta
resposta motivo de ensinamentos cheios de moralidade. “Façamos
depender nossa felicidade, disse, do cumprimento de nossos deveres, quaisquer
que sejam as responsabilidades que resultem daí". — 149 — “A
fraqueza dos homens arrasta-os a julgar as Intenções dos outros e apóiam-se na
possibilidade da fraude, para eles fraudarem; e falam de injustiça enquanto
fazem transbordar a injustiça de seus corações e de seus lábios. Há quem veja
um argueiro no olho de seu vizinho e não enxergue uma trave no seu; outros
queixam-se do egoísmo e do abandono, ao passo que fecham a alma aos lamentos
dos infelizes, ao desespero dos náufragos, à vergonha do arrependimento dos
pecadores". “Eu
vos digo, amigos meus, a probidade honra o espírito, assim como a delicadeza
nos conceitos honra o coração". “Pagai
vossas dividas, sede fiéis a vossos compromissos, tanto com os justos como com
os injustos; com “os fracos e com os deserdados, do mesmo modo que com os
fortes e os poderosos; não condeneis, não digais Raca a vosso Irmão, e
confirmai vossa fé adorando a Deus com a prece, a prece de pensamentos, de
palavras e de obras". “O
pensamento deve ser o gula da palavra e das obras, o fruto da resolução, rogai
juntos ou separadamente, mas fazei-o sem ostentação". “A
prece do orgulhoso se assemelha à do hipócrita. O hipócrita é sempre
encontrado nos primeiros lugares na Sinagoga, para que os outros vejam sua
fronte inclinada e suas faces pálidas, para que se diga que jejuou e que ora
com fervor". “O
orgulhoso ajoelha-se diante de Deus, porém seu espírito está cheio de planos
para conseguir deslumbrar aos outros e pede a graça expondo os direitos que tem para receber a
graça". “Senhor,
diz ele, a correção de minha conduta e a elevação de meus desígnios merecem
que tu lhes prestes tua sanção e teu apoio. Nunca prevariquei nas leis de
meus pais; nada subtraí da herança paterna em detrimento de meus Irmãos;
eduquei minha família no temor e na justiça e emprego meus haveres em aliviar as necessidades dos pobres. Sou forte e poderoso, porém concedo minha
proteção aos fracos, sinto-me inclinado para as honras, porém humilho-me
diante de ti". — 150 — “Digo-vos,
amigos meus, a oração destes homens é repelida. Deus acolhe em troca a prece
do pecador que honra seu arrependimento com a humildade de sua presença e
com a simplicidade de suas palavras. “Deus
meu, diz ele, eu adoro-te em todos os teus decretos e peço-te o perdão de
minhas culpas". “Faz
sentir o peso de tuas mãos sobre teu servo, mas concede-lhe a esperança de
poder abrandar tua justiça e de merecer tua misericórdia". “Digo-vos,
amigos meus, este homem gozará de sua reconciliação com Deus, tirando luz de
sua própria fé e arrependimento". “A
prece em ação é o trabalho e a conformidade, é a esmola e o sacrifício por
amor de Deus, é a penitência e a expiação para remediar o dano causado a si
mesmo e ao próximo com o pecado". “Fazei
aos outros o que desejais que se vos faça a vós mesmos e encaminhai as almas
para Deus com a edificação de vossa vida". “Honrai-me
porque eu não me encontrarei sempre em vosso meio, mas recordai-vos sempre
destas palavras: eu voltarei e estabelecerei minha lei e todos os homens
acreditarão em mim e não haverá senão um só rebanho e um só pastor, porque
Deus não me mandou para um só tempo senão para os séculos futuros". “Eu
sou aquele que fui, que é e que será e digo": "Feliz
o homem que renascer com novas forças, visto que terá semeado para colher". “O
homem renascerá até que consiga libertar-se da “escravidão da matéria, pela
abundância dos desejos espirituais. Crede e sereis fortes para as lutas do
espírito com a matéria.” Irmãos
meus, as predicações de Jesus provocam dúvidas pelas contradições que nelas
encontra o observador e ele converte-se em um personagem obscuro, cujos atos
participam do humano e do divino ao mesmo tempo. Desejo
estabelecer minha personalidade sobre a terra de maneira a não deixar a menor
fraqueza de espírito referente à minha doutrina e à minha natureza. Vou dar o
resumo sucinto de meus ensinamentos para libertar minha pessoa dessa falsa luz
no meio da qual a mantêm os idólatras e os mal intencionados. Escutai-o, pois,
todavia, a Jesus e esta vez seja ainda sobre a montanha, como quando, só com
Pedro, João e Mateus, explicou as manifestações dos espíritos da terra, pela
atração da alma e do poder da vontade. Nesses
breves ensinamentos Jesus indicou a seus apóstolos o meio de estabelecer
comunicação com os espíritos livres da envoltura corporal (8) e iniciou-os na
felicidade de experimentar o contato divino, adorando o fogo da vida e
pedindo-lhe a liberdade, mais além dos horizontes humanos. Convida-os
como a um banquete fraternal com os espíritos que viveram na terra e que
dirigem-lhe agora um olhar de comiseração. “Elias,
Elias, exclama ele, eu te chamo e espero a prova de tua presença". “Honra
a ti, Elias, e que Deus nos permita comunicar-nos aqui contigo, nesta solidão,
para efetuar a aliança de nossos espíritos e da emanação de nossos desejos.” Durante
o êxtase em que caiu minha alma, parecia que raios de luz me rodearam e me
confundiram com os tons de fogo das nuvens douradas e purpúreas que se
espalhavam sobre nossas cabeças e a alegria que inundava meu semblante
comunicou-se aos apóstolos, que exclamaram: “Elias
está entre nós, o Senhor no-lo mandou, seja bendito seu santo nome.” Ao
dizer isto caíram de joelhos, com o rosto para terra, dominados por uma mistura
de medo e de adoração, de cujo estado tirei-os com estas palavras: “Levantai-vos,
amigos meus, e honrai a graça como os espíritos fortes". “A
justiça de Deus vos elevou acima dos demais “homens para dar-vos a virtude de
instruí-los e de consolá-los; nada digais por ora a respeito do que acabais
de ver; poucos vos acreditarão e muitos zombarão e vos insultarão; mas fazei
compreender a todos que o fervor atrai a graça e que a fé levanta a vontade.” Jesus
preparou-se em seguida para o sermão da montanha no meio de uma compacta
multidão. Ele
assentou-se e seus discípulos, assentados como ele, defendiam-no dos
manifestantes demasiado entusiastas. (8)
Esta deve ser a origem das práticas medianímicas a que se entregavam em comum
os cristãos primitivos, segundo dados conhecidos e de acordo também com
comunicações autênticas, que nos referem que os fiéis da primitiva igreja se
reuniam nos templos para orar e evocar em comum, achando-se muito em voga a psicogafria, como sucede em nossos centros. — Nota do Sr.
Rebaudi. — 152 — As
mulheres e as crianças tomaram os primeiros lugares e a palavra do Mestre os
autorizou a tomá-los. Os
homens de pé dominavam o centro da assembléia, de maneira que as palavras
tinham que chegar a todos e que a ordem se demonstrava como em uma casa bem
governada, que se preparara para receber hóspedes muito desejados. A
tarde estava deliciosa; os semblantes eram iluminados pelos últimos raios
resplandecentes; os peitos se dilatavam com as primeiras brisas da noite e as
emanações da florida natureza aumentavam os atrativos daquela reunião. Jesus
estava sorridente, seus olhares repousavam sobre olhares amigos; sua palavra
começou ensaiando-se em incutir entre os ouvintes idéias de consolo e de
esperanças, percorrendo com o pensamento o vasto campo dos favores divinos e
dos deveres do homem. “Amai-vos
uns aos outros e meu Pai vos amará. Pedi a Deus o que vos faça falta e não
deixeis jamais entibiar vossa confiança". “Aproximai-vos
ao que sofre e não lhe digais que merece seus sofrimentos; procurai, pelo
contrário, aliviá-lo. A verdadeira caridade não olha para o passado,
fixando-se tão-somente no presente". “Fechai
vossa alma à tristeza e por maior que seja o rigor de vossos inimigos, pensai
na recompensa que se vos há prometido se fordes pacientes e misericordiosos". “A
Terra é um lugar de desterro para os que têm direito a uma posição melhor; a
Terra é um lugar de purificação para a maior parte; mas todos devem ajudar-se para conhecer o patrocínio da fraternidade e
o princípio do amor universal". “A
liberdade de muitos tem lugar mediante o amor; o egoísta será castigado, e
muito se perdoará ao que muito tenha amado". “Honrai
a virtude, desmascarai o vício; mas perdoai aos que vos tenham ofendido, para
que a vós também seja perdoado na vida futura. “Não
invejeis o lugar de honra. Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os
primeiros, na casa de meu pai; quem quer que se exalte será humilhado e
somente o humilde será glorificado. “Ide
à casa do pobre e abraçai-o como a vosso irmão. Desdenhai as distinções das
riquezas e mostrai-vos superiores à má fortuna. — 153 — “Diminuí-vos
para fazer sobressair aos outros, porém não imiteis aos hipócritas, que andam
atrás dos elogios com as aparências de modéstia. “Felizes
os que choram por causa de injustiças dos homens, porque a justiça de Deus os
fará resplandecer. “Felizes
os que desejam a vida eterna, porque ela os iluminará desde já. Felizes os que
têm fome e sede, “porque eles serão saciados". “Felizes
os que compreendem e praticam a palavra de Deus". “Aprendei,
amigos meus, a suportar a adversidade com coragem. Deus é a fonte das alegrias
da alma e a alma eleva-se com as privações dos bens temporais, buscando os
dons de Deus com o desprendimento das ambições terrestres. Facilitai os dons
de Deus com o desprendimento das ambições e orai com um coração devorado
pelos desejos espirituais. Vosso pai que está nos céus encontra-se também
entre vós, ouve vossa oração e acolherá vosso pedido se ele estiver de acordo
com o que deveis a Deus e aos homens". “Eu
vos digo, não cai um cabelo de vossas cabeças sem a vontade do Pai Celestial,
e a Divina Providência que alimenta as aves, jamais vos abandonará, se tiverdes fé e
amor". “Repito-vos
outra vez, O poder de Deus manifesta-se nas menores cousas, como também nas
maiores, e seu olhar penetra vosso pensamento no mesmo instante que percorre
a imensidade da Criação". “A
palavra de Deus será espalhada sobre toda a terra. Os que a procuram a encontrarão,
porque a terra está destinada a progredir por meio da palavra de Deus, à qual
todos têm direito". “Ide,
pois, meus fiéis, dirigi-vos à erva em flor. Apascentai minhas ovelhas. A erva
tornará a florescer eternamente, porquanto a lei de Deus diz que o espírito é
imortal". “A
geração presente será a luz para a vindoura". “Os
homens de hoje verão o reino de Deus, porque o homem tem que renascer, e a
Terra deve receber ainda a semente da palavra de Deus". “Honral
minhas demonstrações, praticando o que vos digo, e não me pergunteis causas
que vós não podeis compreender". — 154 — “Permanecei
presos com firmeza a estes dois mandamentos: o amor para com Deus, o amor para
com os homens". “Nisto
se encerra toda a lei e todos os profetas". irmãos
meus, a doutrina de Jesus é hoje a mesma que ele predicou na montanha. Todos os
que deixam de pôr em prática o amor e a fraternidade, não são discípulos do
Messias. Acostumai-vos
a compreender a extensão e a aplicação da fé, do amor, da solidariedade, da
justiça e da doçura, para que a graça das emanações espirituais desça sobre
vós. Homens
de todas as religiões humanas, de todos os povos, de todas as classes, todos
vós sois filhos de uma só pátria e o leite de um mesmo seio deve amamentar-vos
a todos. Homens
de todas as religiões humanas, de todos os povos, de todas as classes, todos
vós sois irmãos, e os mais ricos em bens temporais, os mais sãos de corpo e de
espírito, os mais iluminados, devem hospedar os pobres, curar os enfermos,
sustentar os fracos, instruir os ignorantes. Iniciai-vos
uns aos outros nos conhecimentos da igualdade primitiva e da igualdade futura,
que proporciona ao espírito o sentimento de humildade e a consciência de suas
próprias forças para sofrer os efeitos de uma desigualdade passageira e para
não ensoberbecer-se de uma elevação também passageira. Adorai
a Deus em espírito e em verdade. Pedi, e dar-se-vos-á; batei. e abrir-se-vos-á.
Lutai contra as emanações grosseiras. Libertai vossa alma das paixões humanas e
aguardai o porvir; ele está cheio de promessas. Entregai
à ciência de Deus a aplicação de vossos espíritos. Aprendei a palavra de vida e
enxugai as lágrimas com essa palavra. Desprendei-vos de todo o rigor e ainda da
frieza em vossas demonstrações, aproximando-vos a todo infortúnio, qualquer
que seja sua origem, e atraí para vós tanto a confiança do delinqüente. quanto a
curiosidade do malvado e a gratidão do aflito. Acalmai
os clamores de vossa consciência com a reparação da fraude e da injúria.
Esperai o perdão de Deus purificando-vos com o arrependimento. Elevai-vos
caminhando pela. estrada da virtude, vós que tendes expulsado os hábitos do
homem valho; aproximai-vos à luz, vós que haveis compreendido o vácuo que o
espírito encontra no meio dos erres: aliai-vos comigo, vós que sentis que sou
eu quem vos fala aqui. Caminhemos para a glória de haver fundado a Religião
Universal sobre a Terra e de ter feito penetrar no espírito humano o desprezo
pela morte corporal, com a esperança divina dos bens eternos. — 155 — Honremos,
irmãos meus, o fim deste discurso com uma invocação de nossos espíritos ao
Espírito Criador e detenhamo-nos no recolhimento e na adoração de nossas almas.
Deus nos abençoará juntos, se vos elevardes às alturas da graça (9)
e se prestardes fé às minhas palavras, Deus vos dará forças se orardes com
fervor e se praticardes o amor. Deus
do Universo, pai nosso misericordioso e todo poderoso, faz descer a luz de teu
olhar sobre teus filhos. Faz descer sobre seus espíritos a glória, a grandeza,
as perfeições de tua natureza, para que eles se curvem ante teus decretos e
para que gozem da esperança em meio das provas e das dores humanas. A todos
proporciona-lhes a tranqüilidade e o perdão. Prodiga-lhes a todos a abundância
dos consolos. Que tua justiça ilumine mais e mais o dom das alianças fraternas
e que tua misericórdia baixe a socorrer os desviados! Envergonhemo-nos
da idolatria! — Nós queremos adorar um só Deus. Envergonhemo-nos do egoísmo.
Nós queremos sacrificar- nos, cada um por todos e todos para com o dever! Envergonhemo-nos
do nosso apego aos bens perecedouros’ — Queremos viver no cumprimento da
justiça e amontoando tesouros para a vida futura. Envergonhemo-nos do ócio! —
Nós queremos amar-nos, ajudar-nos e respeitar as obras de Deus. Façamo-nos
fortes contra os instintos da animalidade! Vivamos sobriamente no seio das
riquezas de Deus e honradamente no amor ditado pela natureza material. Sublevemo-nos
contra o cativeiro do pensamento e a escravidão do espírito! Queremos lutar em
favor da emancipação e do progresso, em favor da aliança universal dos povos e
da marcha da humanidade para. Deus. Faze,
pois, ó Senhor, que o poder de teus espíritos de luz baixe sobre nós! ___________________________________________________________ (9) Não pode caber a menor dúvida a respeito da
diferença fundamental que existe entre o significado que Jesus atribui à
palavra graça e ao que se dá na chamada doutrina do graça dos católicos e dos
protestantes. A graça para Jesus significa uma posição elevada do espírito,
conquistada por seus próprios méritos, ao passo que para os católicos e
protestantes é um presente, um favor, feito por Deus a quem lhe cala em agrado,
sem merecimento algum. — Nota do Sr. Rebaudi. FIM DO 9º CAPÍTULO
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