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Além do Mito e da Razão
Por Madson Santana Pardo
Dia desses um amigo perguntou-me sobre a minha crença em Deus o que levou-me a refletir sobre minha visão de mundo. Certamente no decorrer de minha existência muita coisa mudou. Eu era extremamente ideológico. Hoje vejo, por exemplo, marxismo e positivismo no mesmo movimento: o do esclarecimento, como é denominado por Adorno e Horkheimer (1). O Mito, associado ao senso comum, e a ciência, à verdade absoluta (ou à busca da) nada mais são que procedimentos, modos de pensar, que objetivam reconhecer, ordenar e, porque não, hierarquizar os elementos que apreendemos e concebemos como real. Damos então a qualidade de realidade, que é mediada pelo olhar, e que por sua vez apresenta-se mediado pela visão de mundo do observador. Os rituais primitivos preservam o mito e constituem-se em mitologias. Na modernidade o mito deu lugar à ciência e Deus transformou-se - no mundo do fetiche - em mercadoria. É o que Nietzsche chamava de "a morte de Deus". Conseqüência disso: o niilismo.“O niilismo está à porta: de onde nos vem esse mais sinistro de todos os hóspedes? - Ponto de partida: é um erro remeter a 'estados de inteligência social' ou 'degeneração filosófica' ou até mesmo à corrupção, como causa do niilismo. Estamos no mais decente, no mais compassivo dos tempos. Indigência, indigência psíquica, física, intelectual, não é em si capaz, de modo nenhum, de produzir niilismo (isto é, a radical recusa de valor, sentido, desejabilidade). Essas indigências permitem ainda interpretações bem diferentes. Mas: em uma interpretação bem determinada, na interpretação moral-cristã, reside o niilismo.” (2)
Talvez a crise da Razão seja um sinal de seu esgotamento. Talvez estejamos entrando no predomínio do niilismo. Talvez depois de matarmos Deus estamos agora matando a ciência. E o caos dominará mais uma vez no reino do cosmos.
“Tudo que é sólido desmancha no ar, tudo que é sagrado é profanado, e o homem é, finalmente, compelido a enfrentar de modo sensato suas condição reais de vida e suas relações com seus semelhantes.” (3)
E o louco ao entrar numa Universidade poderá perguntar a partir de então: "Onde está a Razão? Vocês mataram a Razão. Já não resta um só prédio em pé. Todas a pontes caíram. Os aviões já não voam mais: despedaçaram-se em torres de papel. Primeiro vocês mataram Deus. Me fizeram crer na Ciência. Me mostraram que a verdade suprema pode ser alcançada pelo Método. E agora? Onde estão todos? Meras marionetes do poder. Meros simulacros de si mesmos." E o louco após percorrer todo o campus universitário acusando a todos pela morte da Razão, e submetido a olhares que iam do horror ao sarcasmo, subiria até o topo do prédio mais alto e pularia. Seu corpo romperia no ar como uma crisálida. De seu interior sairiam duas antenas claviformes e duas asas de um azul tão belo e intenso que se destacaria naquele céu cinzento. E após livrar-se totalmente daquela matéria inerte aquele ser seria projetado num vôo rumo ao Infinito.
NOTAS
(1) ADORNO & HORKHEIMER. A dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. VOLTAR(2) NIETZCHE, F. O niilismo. In. Os pensadores – Friedrich Nietzsche - Obras Incompletas. São Paulo: Nova Cultural, 1999: 429 VOLTAR
(3) MARX, K. & ENGELS, F. O manifesto Comunista. São Paulo: Paz e Terra. 1997: 14 VOLTAR
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