Geografia & Poesia ![]()
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CAPÍTULO III 1 Caracterização de Ouro Branco Evolução Histórica do MunicípioO município de Ouro Branco está localizado a aproximadamente 100 km de Belo Horizonte, fazendo parte da Microrregião de Conselheiro Lafaiete e da Região de Planejamento Central, como demonstra o Mapa 01.
Mapa 01
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O município foi criado pela Lei n.º 1039, de 12 de dezembro de 1953, com território desmembrado de Ouro Preto, com um único distrito, a sede (BISPO-1990:21). Historicamente as atividades econômicas do município foram, respectivamente, a extração do ouro, produção de uva, monocultura de batata-inglesa, indústria extrativa de talco e produção de carvão vegetal. Porém, com a chegada da Açominas e a implantação do projeto siderúrgico, houve uma virada na direção do setor industrial/siderúrgico.Com relação a evolução da população urbana local, fica claro que o crescimento populacional do município é reflexo direto da implantação da usina, que iniciou-se em meados de 1976 . A população atual do município (CENSO-2000) é de aproximadamente 30000 pessoas contra 6329 em 1970 -, sendo 26239 em área urbana e 4074 na área rural 2400 em área urbana e 3920 na área rural, em 1970 -. Nota-se que Ouro Branco, antes da implantação da Açominas, contava com uma população exígua, pouco maior do que 5000 habitantes, como ilustra o Gráfico 02, concentrada na área rural, dedicada à agricultura. Observa-se também um crescimento acima da média nacional da população urbana, no período compreendido entre 1970/1991, que coincide com o período de implantação da usina, mantendo-se praticamente estável no período seguinte, 1991/2000. A população de Ouro Branco passou a ser tipicamente urbana, em virtude do crescimento populacional acelerado com a vinda dos trabalhadores da Açominas, que se estabeleceram na malha urbana, ilustrado pelo Gráfico 01.
Gráfico 01
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De acordo com COSTA (1991:16), o impacto da implantação de um grande projeto industrial em uma (...) região com baixa densidade econômica e populacional, uma região de incipiente base urbana, o binômio desorganização/reorganização se manifesta de forma mais intensa. Portanto, como é o caso de Ouro Branco, o impacto da implantação da usina formatou novas relações espaciais, sociais, econômicas, etc., levando-nos a uma redução possível ao associar tais impactos diretamente com a implantação da indústria. Neste sentido, a cidade atualmente, tal como se configura, é conseqüência direta da implantação da Açominas, ou seja, o crescimento do seu setor de serviços, arrecadação de ICMS, aumento da população, etc., são em grande medida em função deste grande projeto industrial, tendo uma relação quase umbilical com a siderúrgica, onde percebemos que qualquer oscilação nesta última refletirá diretamente no município.Gráfico 02
Ouro Branco conta atualmente (2001), de acordo com o IBGE, com quatro agências bancárias, dezoito estabelecimentos de ensino pré-escolar, vinte e oito de ensino fundamental, oito de ensino médio e dois hospitais sendo que um deles, o Hospital FOB ou Fundação Ouro Branco, é mantido pela Açominas - . O sistema viário da cidade encontra-se assim distribuído pelo espaço: liga-se a BR 040 pela rodovia MG 443, além de servir-se das Ferrovias Centro-Atlântica S/A, MRS Logística e a Estrada de Ferro Vitória-Minas . Estas ferrovias são utilizadas apenas para transporte de carga, sendo amplamente utilizada pela siderúrgica para escoamento de parte da produção para o Porto de Praia Mole, ES, do qual é uma das proprietárias.Para que a siderúrgica começasse a operar, foi necessário adequar a cidade para atender aos interesses da empresa. Neste sentido, passando pela remoção de grandes quantidades de terra no local da planta industrial, a desapropriação maciça e compulsória de diversas áreas do entorno da planta até a criação da infra-estrutura da cidade, no que se refere à construção de moradias, ruas, asfaltamentos, bairros completos, escolas e um hospital, a ex-estatal participou diretamente do processo. Convém lembrar que a grande maioria da mão-de-obra, seja especializada ou não, veio de fora do município. Portanto, no período compreendido entre 1976 até meados de 1985, observa-se um grande fluxo de pessoas em direção à região, muitas vezes conjuntamente com seus familiares, atraídos pela oferta de emprego, que distribuíram-se principalmente, nesta ordem, nos municípios de Ouro Branco, Conselheiro Lafaiete e Congonhas. É importante salientar que esta distribuição ocorreu de maneira diferenciada com o passar do tempo, ou seja, houveram períodos distintos de atração de pessoas por estes municípios, em função das diferentes fases de construção da usina.
De acordo com BISPO (1990:31): "(...) ao final da década de 70, (...) a mão-de-obra mais qualificada se instalou em Conselheiro Lafaiete, enquanto que aquela menos qualificada se instalou em Congonhas." Mas Ouro Branco, aos poucos foi se adaptando e tendo sua infra-estrutura desenvolvida, ficando apta a atender aos diversos contingentes populacionais que chegavam à região. No final dos anos 80, a Açominas já passava por um processo de contenção de custos, evidenciado pelo demissão de inúmeros funcionários, com vistas à futura privatização e não mais atraía grandes contingentes populacionais. Some-se a isso o fato de que a siderúrgica já havia construído grande parte das moradias e benfeitorias no município destinadas aos seus funcionários.
Os bairros e as moradias, obedeceram a critérios rigorosos de reorganização do espaço. O bairro Inconfidentes, localizado na porção noroeste do município, ao sopé da Serra de Ouro Branco, foi destinado a mão-de-obra mais especializada. São casas relativamente espaçosas, em geral com andar superior e arquitetura, algumas vezes, semelhantes aos "chalés" europeus. As ruas e avenidas são largas, sem a presença de traçados angulosos ou cruzamentos, bem como nota-se a falta de calçadas destinadas aos pedestres. Este traçado singular talvez aponte para um proposital afastamento do restante da população, bem como dificultar a locomoção de transeuntes no bairro. Nos bairros Siderurgia e Pioneiros, prevalecem casas um pouco mais modestas, destinadas aos funcionários de nível técnico, sem andar superior e menores em comparação com as do bairro Inconfidentes. Porém, ainda prevalecem as ruas largas e asfaltadas, mas com casas mais próximas umas das outras. Por último, o bairro 1º De Maio, com estilo próximo as casas construídas pela Cohab e em geral subdivididas em até três residências num mesmo prédio (14). Este bairro é o mais afastado do centro de Ouro Branco e o mais próximo da usina. Estes bairros foram construídos pela Açominas e repassados aos seus funcionários, primeiramente na forma de aluguéis simbólicos e posteriormente por venda subsidiada aos mesmos. A parte que chamaríamos "velha" da cidade, constitui-se basicamente dos locais de moradia dos habitantes naturais do município, com construções mais irregulares, sem um estilo preponderante, com ruas estreitas e calçadas, muitas vezes sinuosas e desembocando invariavelmente na praça central.
Uma das características mais marcantes de Ouro Branco é a presença de dois centros comerciais e até mesmo arriscaríamos dizer a presença de duas diferentes cidades. De um lado, a cidade "velha", onde localiza-se a Prefeitura Municipal e a Câmara dos Vereadores, bem como praticamente todos os hotéis e pousadas. A parte comercial restringe-se a pequenos bares, loterias, açougues e mercearias, em conjunto com várias residências mais antigas. Na porção que denominamos como cidade "nova" ou centro comercial novo, localizada no eixo da Av. Mariza de Souza Mendes, não possui residências e de um lado a outro da avenida, a presença de grandes lojas de roupas, supermercados, material de construção, "shopping", imobiliárias e pequenos prédios comerciais.
No próximo item, observaremos o desenvolvimento histórico da siderúrgica e posteriormente sua relação atual com a cidade.
2 Caracterização da Açominas Evolução Histórica
Como vimos nos capítulos anteriores, a criação das empresas estatais visavam atender a supressão dos obstáculos ao desenvolvimento da economia nacional. Neste caso, a criação das siderúrgicas estatais vinham suprir a deficiência de produção do aço, produto imprescindível como matéria-prima para outras indústrias. Portanto, a constituição da Açominas foi efetivada em novembro de 1966, no governo de Israel Pinheiro, tendo como acionistas fundadores a Metamig, Cemig, BDMG, CEE-MG, Hidrominas, Camig e a Frimisa. Porém, foi somente na administração de Aureliano Chaves que o local da implantação da usina foi definido, na área compreendida pelos municípios de Ouro Branco, Congonhas e Conselheiro Lafaiete. Em outubro de 1976, foi firmado um acordo de acionistas entre o governo de Minas Gerais e a Siderurgia Brasileira S/A Siderbrás com 20% e 60%, respectivamente da composição acionária da empresa (BISPO-1990:10).
O projeto inicial era a produção de 10 milhões de toneladas aço/ano, porém, ao término da chamada Fase I, a produção era de 2 M ton./a e compromisso de exportação de 20% da produção nos cinco primeiros anos de operação. A efetiva operacionalização da Fase I estava prevista para meados de 1978 e sofreu vários adiamentos, ocorrendo somente em julho de 1986, com a produção de lingotes de aço laminados semi-acabados. Esta série de adiamentos elevou o custo inicial, para construção da usina, de US$ 2 para US$ 6 bilhões aos cofres públicos.
2.1 Evolução Histórica da Privatização da Açominas
Neste item, estaremos analisando alguns aspectos relevantes da composição acionária da Açominas, em tempos distintos de análise antes e pós-privatização além de discutir, resumidamente, a participação dos empregados no controle acionário da empresa.
A Açominas foi leiloada em agosto de 1993 por US$ 600 mi e foi arrematada principalmente pelo consórcio liderado pelo grupo Mendes Júnior (15). Por motivos internos, este grupo passou a assumir os rumos da siderúrgica a partir de então (16). Porém, surgiram rumores de ingerência por parte da Mendes Jr., que usava a Açominas como trampolim para reerguer sua subsidiária localizada em Juiz de Fora afogada em dívidas - , na medida que repassava a produção da Açominas para seu pátio naquela cidade e revendia os produtos sem o devido repasse do montante de capital arrecadado para a Açominas. Neste sentido, por alguns meses, a empresa começou a demonstrar prejuízos constantes em seus balanços patrimoniais e despertou a desconfiança dos funcionários que exigiram explicações. Estas pressões surtiram efeito e em abril de 1994, a Mendes Júnior foi afastada definitivamente da empresa, desfazendo-se de seus lotes de ações.
Gráfico 3
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Fonte: Dados primários Área de Ações Açominas Elaborado por Venilson L.B. FonsecaDesde o início da privatização os funcionários tiveram o direito de adquirirem ações da empresa. Neste momento, o lote adquirido estacionou-se em 20% das ações ON até a criação da CEA Participações S/A (17). A partir de então, elevou-se para 39.28% - no auge a participação dos funcionários nas ações ON da siderúrgica o Gráfico 03 ilustra o desenrolar das sucessivas mudanças no controle acionário da empresa - Um dado interessante é que os funcionários não se desfizeram de suas ações, como foi o caso de outras ex-estatais, e mantêm até hoje participação importante dentro do quadro acionário. No entanto, a política do CEA Participações S/A não difere do pensamento dos outros acionistas, ou seja, suas reivindicações situam-se enquanto acionistas da siderúrgica e não como funcionários. Neste sentido, não cumpre o papel normalmente exercido pelos Sindicatos, quando discutem Acordos Coletivos ou outros benefícios para os funcionários, agindo, sem sombras de dúvidas, como proprietários da empresa. Ela compactua com as políticas e logísticas de mercado para a administração da Açominas, exercidas pelos controladores, e tem atuação relevante nas discussões internas, com direito a voto, típicas de uma empresa de caráter privado, voltada para a geração de lucros.
Após a saída do Grupo Mendes Júnior, a Açominas necessitava equacionar alguns problemas básicos: reestruturação de seu endividamento de curto prazo, a reavaliar a composição acionária e decisão nos rumos da companhia. Uma das soluções encontradas foi a captação de recursos no mercado, trazendo para a empresa os Grupos Gerdau e Nat Steel, em meados de 1996. O Grupo Nat Steel, com sede em Singapura, historicamente ocupou lugar de destaque na carteira de clientes da Açominas. Com o desenrolar do processo pós-privatizante e com a saída da Mendes Júnior, o grupo optou por investir na empresa e adquiriu importante participação acionária estacionada atualmente em 24.76% ON - . O Grupo Gerdau, com sede em Porto Alegre, participa com 21.46% ON e 21.21% PN das ações, sendo um dos maiores produtores de aço laminado do país. Hoje (2001), a usina produz 2,4 M ton. Aço/ano e com a reforma do alto-forno iniciada à época da conclusão desta pesquisa - se elevará para 3 M ton. Aço/ano, ampliando ainda o leque de produtos oferecidos, como: tarugos laminados, tarugos de lingotamento contínuo, blocos, placas para relaminação e placas "Profiling" (18), além de ser a maior exportadora de tarugos do mundo. Conta ainda com duas subsidiárias, a Açominas São Paulo, criada em outubro de 1998, a partir do arrendamento das instalações industriais da Aliperti, e da Açominas Overseas Ltda. (MORAES-2000).
Tendo em vista a importância que a empresa teve na formação/transformação de Ouro Branco, quais seriam os impactos ocasionados pelas mudanças no controle acionário da Açominas no município? Em outras palavras, como a privatização da empresa e sua reorganização interna, visando atingir seus objetivos de tornar-se uma empresa privada lucrativa, afetou a cidade de Ouro Branco?
Notas:
(14) Conforme informação de moradores locais. VOLTAR
(15) Obteve 6.8 % das ações ON e 6.61% das ações PN, ainda com a participação da Mendes Júnior Trading S/A, com 3.14% ON e 3.06% PN, totalizando 9.94% ON e 9.67% PN. VOLTAR
(16) Possivelmente por possuir knowhow, pois atua no mesmo ramo de investimentos e talvez em função de deter a maioria acionária da empresa privatizada. VOLTAR
(17) Clube de Participação acionária dos funcionários da Açominas. Este Clube, captou os investimentos dos funcionários da empresa interessados em participar do leilão, com o fito de administrar estes recursos em prol dos próprios funcionários. VOLTAR
(18) Site www.acominas.com.br VOLTAR
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