São Paulo, segunda-feira, 22 de junho de 2009
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O PIB e a vida
Ladislau Dowbor, professor titular do
departamento de pós-graduação da PUC de São Paulo, discute a sacralização do PIB
(Produto Interno Bruto, a soma dos bens e serviços produzidos por um país). "O
PIB é um cálculo incorreto e não constitui uma bússola adequada", diz, em
entrevista à revista "Desafios do Desenvolvimento", editada pelo Instituto de
Pesquisas Econômicas Aplicadas.
A revista, aliás, já foi muito boa, mas, agora, está "chapa-branca" demais.
Praticamente só ouve gente do governo, o que obviamente empobrece o debate
público que seria o seu objetivo principal. Voltando a Dowbor, ele cita vários
exemplos de como atividades que enriquecem o PIB podem, no entanto, empobrecer a
vida das pessoas. Um deles: os formidáveis congestionamento de trânsito em São
Paulo. Como é óbvio, provocam gastos com o carro, gasolina, seguro, o que
aumenta o PIB. Mas provocam também doenças respiratórias (pela poluição) e tempo
perdido, item, este último, que nem entra no cálculo do PIB.
Um segundo exemplo, pelo qual em geral passamos batidos, é a expressão
"produtores de petróleo". Diz Dowbor: "Nunca ninguém conseguiu produzir
petróleo", por ser "um estoque de bens naturais". Logo, "sua extração é positiva
[no sentido de que aumenta o PIB], mas temos que lembrar que estamos reduzindo
cada vez mais o estoque de bens naturais que iremos entregar aos nossos filhos".
Pode parecer uma visão excessivamente ingênua, mas não custa lembrar que, no
auge da crise econômico-financeira, muita gente que de ingênua não tem nada
defendeu a tese de que seria a oportunidade de ouro para mudar o padrão de
consumo do planeta, que está se tornando (ou já se tornou) crescentemente
insustentável. Mas a atenuação da crise levou a abandonar essa ideia e fez PIB
voltar a ser palavra mágica.
crossi@uol.com.br
Texto originalmente
publicado, domingo, dia 21 de junho, na Folha de S.Paulo
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Clóvis Rossi atualiza a coluna São Paulo (originalmente publicada na Folha
de S. Paulo) de terça a domingo.
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