São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009
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O aparelho e a lei
Demorei tanto para tratar do mais recente
escândalo do Senado que acabei sendo "furado" pelo editorial desta Folha, que
usa uma expressão ("Senado secreto") quase igual à que pretendia usar ("Senado
clandestino").
A demora não se deve, creia-me, à preguiça, à desatenção ou ao desejo de
preservar o colega do espaço ao lado nas sextas-feiras, o senador José Sarney,
ao contrário do que suspeitam alguns leitores.
Deveu-se à mais pura incredulidade. Mesmo no Brasil, onde as mais exóticas
jabuticabas florescem impávidas, parecia impossível que o que antigamente
chamávamos de "Casa das Leis" caísse na clandestinidade. Caiu.
O que há mais para dizer sobre um caso dessas proporções? Xingar a mãe? A
Direção de Redação proíbe. Arrancar os cabelos? São tão poucos que já nem dá
para agarrá-los.
Produzir o enésimo libelo? Justo, mas sempre haverá alguém a dizer que se trata
de "moralismo udenista", o que é uma baita tolice, mas aparece, sim, senhor.
O fato é que o Senado se tornou, sim, um aparelho clandestino, controlado por
altos funcionários, ante a omissão e/ou conivência dos senadores. Já nem sei se
cabe usar a muleta "com as exceções de praxe", porque os pais da pátria parecem
empenhados em destruir o lugar-comum segundo o qual toda regra tem exceções.
Senadores despreparados e/ou omissos dependem de funcionários preparados para
entender as regras, os regulamentos, o regimento, as entranhas da Casa. São
obrigados a depender de tais funcionários até para os atos legais, inclusive os
mais comezinhos. Imagine então como é fácil praticar atos ilegais ou
clandestinos -ou ambos ao mesmo tempo.
O pior é que não tem saída, porque a saída depende dos próprios senadores,
cúmplices, por ação ou omissão, do aparelho clandestino que era uma Casa de
Leis.
crossi@uol.com.br
Texto originalmente
publicado, domingo, dia 14 de junho, na Folha de S.Paulo
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Clóvis Rossi atualiza a coluna São Paulo (originalmente publicada na Folha
de S. Paulo) de terça a domingo.
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