São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2006
Tooor!!!
Anterior
Próxima
  |
Encontro no infinito?
MUNIQUE (ALE) -
A Geometria moderna tem um postulado que diz:
"linhas paralelas se cruzam no infinito".
Na antiga teoria do matemático Euclides isto seria impossível. As linhas
paralelas nunca se encontrariam.
Os times do Brasil e da Alemanha são como estas linhas paralelas, pelo menos em
termos. Ambos jogam agora em seu próprio Universo, mas há a possibilidade sim,
das duas seleções se encontrarem, não no infinito, mas daqui há 30 dias.
Vamos fazer uma retrospectiva dos últimos dez dias. A Alemanha venceu a Colômbia
facilmente, 3 a 0. O Brasil passou soberano pela Nova Zelândia, 4 a 0. Um
paralelo nestes dois mundos? Não realmente. A seleção alemã conseguiu apenas o
empate – 2 a 2 - contra o Japão, que com Zico ganhou ares de nobreza. Só que
muita energia foi dispendida para nada e ainda com prejuízo, já que Ballack, o
capitão da equipe, sofreu uma contusão no jogo contra a Colômbia.
Os brasileiros nada perderam na partida contra os "Kiwis" (como os neozelandeses
se autodenominam), apenas com algumas exceções. Cafu, por exemplo, o mais velho
do time, não se poupou. Enquanto esteve em campo dava piques de um lado ao outro
do gramado. Adriano foi outro que demonstrou não levar a sério a palavra
amistoso: "um inimigo é um inimigo". Ele joga pra valer. Está sempre livre para
receber a bola e sabe abrir espaço para seu grupo de uma maneira surpreendente.
Onde ele está, nenhum adversário consegue chegar. Adriano é um matador!
Eu, definitivamente, gosto disto.
Já o superstar Ronaldinho Gaúcho, fanaticamente celebrado pelos torcedores,
ainda que estivesse sem a bola, ao contrário dos jogadores citados, mostrou
apenas em alguns momentos do que é capaz o melhor jogador da atualidade.
Para os olhos do técnico Parreira foi um bom jogo: ninguém saiu machucado, o
grande patrocinador da equipe ficou todo o tempo no foco das câmeras para citar
os pés cheios de bolhas de Ronaldo, e a defesa não foi vazada. Este foi o
principal resultado da partida, ainda que não fosse novidade: a defesa
brasileira é fechada como uma barreira de concreto. E Parreira pode confiar que
em caso de urgência a parte ofensiva do elenco vai usar sua criatividade para
marcar gols.
****
München, 09/06/2006, 19h52 (horário da Europa): O outro mundo. A Alemanha acabou
de encerrar a partida contra a Costa Rica: 4 a 2. Nunca na história da Copa do
Mundo houve um jogo de estréia com tantos gols (apenas em 1934, quando oito
partidas abriram o Mundial). Ainda assim, a seleção alemã não mostrou muita
semelhança com a atual seleção brasileira. O ponto de convergência mais evidente
entre as equipes foi de pouca importância para os torcedores: o patrocinador da
equipe alemã também ficou em destaque na partida. A razão para isto foram mais
uma vez os pés, só que desta vez do goleiro Lehmann. Que ironia da História!
Logo nos primeiros minutos o jogador torceu o tornozelo sozinho. Depois de dois
anos de disputa com o titã Oliver Kahn para ser o goleiro número 1 ficar em
campo apenas dois minutos? No banco, imediatamente, a fera que vive dentro de
Kahn acordou. Mas Lehmann teria jogado ainda que tivesse com a perna amputada.
Mundos de ponta-cabeça. Os alemães levaram os torcedores ao delírio com a
pressão constante ao adversário, sempre prontos para balançar a rede do inimigo.
A defesa, ao contrário, mostrou as fraquezas individuais de sempre. E não era o
Brasil que tinha este mesmo problema há algum tempo? Mas hoje a seleção
brasileira é absolutamente profissional em termos táticos. Isto significa que o
time está mais para resultados de 2 a 0 do que 4 a 2 - como já foi a seleção
alemã. Na Copa passada, em 2002, a equipe alemã chegou a final em Yokohama
contra o Brasil tendo tomado apenas um gol.
Otimistas dizem que os problemas da defesa alemã podem ser resolvidos em poucos
dias. Eu desejo que eles estejam certos. Mas se for possível lembrar do estilo
de jogo da equipe alemã na Copa das Confederações no ano passado, realizada
também na Alemanha, é fácil perceber que o problema da defesa já existia.
E até agora nada foi solucionado. A linha formada por
quatro jogadores é o mais moderno instrumento na defesa. Só que exige jogadores
que tenham experiência suficiente neste sistema de jogo. Os alemães que jogam
nesta posição são muito jovens e inexperientes.
Vamos continuar a observar estes universos paralelos – torcendo para que isto
aconteça pelo maior tempo possível. Do ponto de vista alemão, o mais importante
é voltar a ter prazer em assistir a seleção jogar. Uma seleção jovem com garra e
criatividade. Logo veremos quais as leis que estes dois mundos vão seguir. Estes
dois universos vão se encontrar ou será Euclides quem terá razão?
stefan.kuper@online.de
_________________________________________________
Stefan Kuper, é jornalista alemão, PhD em Filosofia, Línguas e
Literatura Antiga e colunista deste Mandando Pra Rede
|
MURAL DE
RECADOS DO MPR
|