São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2006
Tooor!!!
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Bye-bye Polônia!
DORTMUND (ALE) -
Alemanha e Polônia são velhas rivais. Dois países
que tem quase o mesmo tamanho, a Alemanha no coração da Europa, Polônia no lado
Leste. Aconteceram muitos conflitos na História entre estas duas Nações. O pior
deles, claro, foi a invasão brutal da Alemanha à Polônia durante a Segunda
Guerra Mundial.
As pessoas dizem que o futebol pode ser o substituto para as Guerras. Melhor que
seja assim!
A relação entre Polônia e Alemanha ficou muito melhor desde o final da Segunda
Guerra, em 1945. O símbolo disto são os últimos dois Papas – um polonês e um
alemão - o grande João Paulo II e seu braço direito, o atual Papa, Bento XVI.
Ambos lideraram juntos nos últimos quase 30 anos os caminhos da Igreja Católica
Romana e há menos de um mês, Bento XVI esteve na Polônia. Milhões de católicos
entusiasmados foram às ruas saudá-lo.
Também no futebol há uma grande ligação entre os dois países. Os poloneses
reclamam que os alemães roubam-lhes os melhores atacantes. Realmente: tanto
Miroslav Klose como Lukas Podolski nasceram na Polônia, mas vieram crianças para
a Alemanha. Na pequena área os dois costumam se comunicar em polonês. Para o
jogo contra a Polônia, entretanto, eles combinaram de falar apenas em alemão,
para não dar a chance aos adversários de entenderem.
Os dois atacantes têm mulheres polonesas. Segundo Klose, “as mulheres polonesas
são muito mais sensuais que as alemãs”. Eu não vou comentar sobre isto... Mas o
que é inquestionável é que as polonesas são vaidosas, cultas, e satisfeitas com
o tradicional mundo feminino, dando total apoio aos homens. A Polônia é um país
extremamente católico, onde a emancipação feminina nos anos 70 teve menos efeito
do que na Alemanha.
No jogo desta última quarta-feira, Alemanha e Polônia, Klose e Podolski se
contiveram de uma maneira bastante elegante. Especialmente Klose, que perdeu
muitas chances de marcar gols, e Podolski que teve uma atuação inferior à sua
capacidade.
Mas, enquanto equipe, a seleção alemã convenceu. No primeiro tempo os dois times
jogaram com velocidade e com tática similar, partindo para cima do adversário,
tentando fazer jogadas combinadas em linha vertical na área do gol. A Polônia se
mostrou bem mais eficiente do que no jogo contra o Equador, ainda que a Alemanha
tenha criado mais possibilidades de chute a gol. A seleção dona da casa poderia
ter decidido a partida previamente com duas chances de Klose e uma de Podolski,
no último minuto do primeiro tempo.
O segundo tempo foi um verdadeiro filme de suspense policial. O técnico
Klinsmann se mostrou um ótimo Sherlock Holmes para desvendar o crime. Ele
percebeu que Friedrich, jogador da defesa era o “culpado”: não dava suporte
suficiente para o ataque pelo lado direito. Friedrich foi substituído por David
Odonkor, cujo nome foi uma surpresa na escalação da seleção alemã. Quando Jürgen
Klinsmann definiu a equipe em maio, Odonkor que nunca havia jogado pela seleção,
foi convocado. A grande qualidade de Odonkor é a velocidade (de chuteiras ele
corre 100 metros em 10,6 segundos); mas a técnica precisa ser trabalhada.
Assim, Klinsmann substituiu meio Cafu por meio Robinho.
A pressão do lado direito ficou evidentemente maior. Uma das conseqüências disto
foi a saída do polonês Sobolewski que levou cartão vermelho faltando 15 minutos
para o encerramento do jogo. Daí em diante, a equipe alemã teve uma chance atrás
da outra. Mas o tema desta Copa
"Die
Welt zu Gast bei Freunden"
(“O mundo entre amigos”) pareceu
transformar-se em realidade. A gentileza dos anfitriões teve seu ponto
culminante no último minuto, quando Klose e Ballack chutaram na trave.
No estádio de Dortmund, antes desta partida, a seleção alemã teve um saldo
brilhante: em 13 jogos, 12 vitórias e um empate. E desta vez não poderia ser
diferente. Os fãs empurraram os jogadores de uma maneira alucinante, um
verdadeiro delírio. O estádio quase veio abaixo nos 3 minutos de desconto. E
valeu a pena. Como valeu. Odonkor pela direita deu o passe para Neuville, que
entrou no lugar de Podolski: Neuville deslizou no gramado e balançou a rede:
Alemanha 1, Polônia 0.
Em Dortmund e por toda a Alemanha a festa atravessou a madrugada. A vizinha
Polônia está de luto.
P.S. Eu prometi continuar a observar os mundos paralelos de Brasil e
Alemanha. De novo, o paralelo entre os dois times é apenas superficial – o
resultado dos últimos jogos de ambos foi o mesmo: 1 a 0.
Sobre o jogo Brasil e Croácia tudo já foi dito. O time jogou o futebol “a la
Parreira”. Sem beleza, mas de resultado. Parreira disse que seus jogadores
mostraram 60 a 70% de suas habilidades. Isto pode ser verdade, com exceção de
Ronaldo Fenômeno. Se isto for 60% de sua habilidade, então nem 200% surtiriam
efeito. Especialmente por ele ter tido a chance de calar a boca de seus críticos
com seu chute a gol aos 10 minutos do segundo tempo.
O que mais surpreendeu foi a defesa brasileira vacilar algumas vezes ante ao
modesto ataque da Croácia. Contra seleções mais fortes isto pode criar problemas
sérios. Mas vou ousar uma previsão: os 100% - também na parte defensiva – o
Brasil não vai mostrar antes do quarto jogo. Até lá as estrelas podem descansar.
Talvez, por causa disto, Parreira mantenha Ronaldo no time, porque ele é o que
entende melhor a estratégia do técnico: “ter todo o sucesso possível com um
mínimo de esforço”.
stefan.kuper@online.de
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Stefan Kuper, é jornalista alemão, PhD em Filosofia, Línguas e
Literatura Antiga e colunista deste Mandando Pra Rede
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