GRANDES MESTRES DA POESIA

 

CRUZ E SOUSA

Desafio contra a ordem e o progresso


Desbravadores do Simbolismo empunhavam a lança contra a sociedade positivista e pregavam o mundo sensorial. O movimento nasceu do desconforto de alguns espíritos
O Simbolismo é de origem francesa. As primeiras flores nasceram nos anos 80 e 90 do século passado. Charles Baudelaire (1821-67), em "Flores do Mal", mais precisamente em suas Correspondances, torna-se um dos desbravadores do estilo que empunhava a lança contra a sociedade positivista e pregava o mundo sensorial, subjetivo, litúrgico, absoluto, longe de ser um esquema da poesia burocrata dos parnasianos. Arthur Rimbaud (1854-91), outro importante francês simbolista, desafiou os princípios da ordem e progresso em voga com uma frase em que exprime a que veio o Simbolismo: "O poeta é um vidente por um longo, imenso e irracional desregramento de todos os sentidos".
Baudelaire, Rimbaud, Stephane Mallarmé (1842-1867) e Paul Verlaine (1844-1889) formaram os paradigmas do Simbolismo, observa a doutora em letras Lígia Cademartori, autora do livro "Períodos Literários" (Editora Ática). "A partir desses poetas, a poesia ocidental vive um momento em que a objetividade cede lugar à evocação sugestiva e musical. Há na poesia um clima de mistério. A única certeza é de que o mundo não revela o que, efetivamente, é. As grandes experiências estão na proporção direta do desvendamento do mistério. A palavra presta-se a isso, sendo capaz de estabelecer relações e criar correspondências entre o abstrato e o concreto."
No Brasil, o Simbolismo é inaugurado em 1893 com a publicação dos livros de Cruz e Sousa (1861-98) "Missal", em prosa, e "Broquéis", poesias. Além do catarinense, outro poeta destacado é Alphonsus de Guimarães (1870-1921).


Paixão e sonho

Os simbolistas aparecem logo após uma segunda fase da revolução industrial estabelecer como princípios ideológicos o cientificismo, o determinismo, o realismo impessoal, de acordo com o crítico literário Alfredo Bosi, em seus estudos publicados em "História Concisa da Literatura".
Contrários à idéia predominante do objetivismo dos positivistas, que encaravam o fato acima do sujeito, o Simbolismo busca a apreensão direta de valores transcendentais, como o bem, o belo, o verdadeiro, o sagrado, de acordo com Bosi. "... As suas armas vão ser as da paixão e do sonho, forças incônscias que a arte deveria suscitar magicamente."
O intelectual e artista catarinense Rodrigo de Haro ressalta que o Simbolismo nasce diante do desconforto de alguns espíritos frente à frieza da civilização industrial. "Os simbolistas tiveram a audácia reacionária de se opor ao que entusiasmava 90% da cultura da época. É como se hoje você negasse tudo que está aí, essa tecnologia de ponta, todo esse mundo maravilhoso que se abre seria lixo. Eles se voltaram para o mundo imaginário, fantástico, fabuloso, tentando exorcizar o mundo da civilização industrial, que dominava."
Passado mais de um século, a crítica literária oficial brasileira tenta reduzir o Simbolismo porque ele não tinha origem nacional, de acordo com Rodrigo. "E o que são as origens nacionais? Considero que reduzem o Simbolismo porque ele foi uma linha estética que valorizava elementos malditos. Exaltava elementos noturnos, proibidos, ocultos, procurava a noite, queria desestabilizar a tranqüilidade áurea do mundo do Olavo Bilac (poeta paranasiano). Era o mundo da inquietação, do tormento da alma."


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