objeto das suas censuras. Eu rogo aos meus
ilustres colegas que quando eu estiver orando dêem freqüentes
apoiados para me reanimarem, e mesmo para
que o povo pense que eu estou discorrendo bem e capazmente. O
meu ataque será deste modo...
Narigão. Venha disso.
Macaco. (Depois de tossir,
escarra, conserta a goela e principia.) Sr. Presidente!
Triste e melancólica é certamente a época em que laboramos debaixo
de um Governo pérfido, que não cura dos males da pátria (apoiados
gerais.). O Governo só busca seus interesses, e deixa
em abandono as necessidades mais vitais da pátria (apoiados.).
Na minha Comarca correu noticia de que o Governo tem na Capital
um exército de mil e tantas praças: que premedita um golpe de Estado,
uma medida de Napoleão. Também se diz que os cofres públicos estão
tísicos; o que me custa a crer, pois tem-se cobrado imenso dinheiro;
portanto, ou os empregados da Tesouraria cigarram com as notas,
ou são dilapidadores públicos. É uma miséria, Srs. Não se cuida
na arrecadação dos dinheiros públicos. Em S. João d'El-Rei há devedores
que não pagam, porque não querem, ou porque ninguém procura. Não
há desleixo maior. Srs., meu peito se enche de nobre indignação
ao recordar-me das prevaricações destes maus empregados. A Tesouraria
é minha mofina (apoiados.). O zelo do bem público
é
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que me anima a falar com franqueza; eu
fui, sou e serei sempre franco (apoiados gerais.).
Mentira. Bravo, Macaco! Os
crimes deste execrando Governo são tão monstruosos que eu não
sei como o povo ainda o sustenta. A Constituição garantiu o segredo
das cartas, tornando inviolável este único meio de comunicação;
entretanto, o Governo interferindo criminosamente no segredo dos
particulares, violando a fé pública, que está debaixo da salvaguarda
de uma frágil obréia, abre as cartas, lê e se instrui nos negócios
alheios...
Imparcial. Amigos, não sei
se esta calúnia poderá passar! É muito calva.
Muitas vozes. Pode, pode;
continue.
Tiple. (continuando)
Só um Governo infernal, Srs., poderia recorrer a semelhante arbítrio.
(apoiados gerais.). A História nos refere (não
me lembro agora aonde) que tiranos de todos os tempos recorreram
ao expediente de abrirem as cartas para oprimir os povos; e diz
Jefferson que a violação do segredo das cartas
só se encontra em Governos egoístas e perversos (apoiado).
O nosso Governo porém acrescenta o escárnio ao crime, pois desculpando-se
o Administrador dos Correios, diz que os ratos roeram as obréias!
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