CLUBE DOS ANARQUISTAS - Padre Justiniano da Cunha Pereira - Barbacena - 1838

 

 

 

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objeto das suas censuras. Eu rogo aos meus ilustres colegas que quando eu estiver orando dêem freqüentes apoiados para me reanimarem, e mesmo para que o povo pense que eu estou discorrendo bem e capazmente. O meu ataque será deste modo...

Narigão. Venha disso.

Macaco. (Depois de tossir, escarra, conserta a goela e principia.) Sr. Presidente! Triste e melancólica é certamente a época em que laboramos debaixo de um Governo pérfido, que não cura dos males da pátria (apoiados gerais.). O Governo só busca seus interesses, e deixa em abandono as necessidades mais vitais da pátria (apoiados.). Na minha Comarca correu noticia de que o Governo tem na Capital um exército de mil e tantas praças: que premedita um golpe de Estado, uma medida de Napoleão. Também se diz que os cofres públicos estão tísicos; o que me custa a crer, pois tem-se cobrado imenso dinheiro; portanto, ou os empregados da Tesouraria cigarram com as notas, ou são dilapidadores públicos. É uma miséria, Srs. Não se cuida na arrecadação dos dinheiros públicos. Em S. João d'El-Rei há devedores que não pagam, porque não querem, ou porque ninguém procura. Não há desleixo maior. Srs., meu peito se enche de nobre indignação ao recordar-me das prevaricações destes maus empregados. A Tesouraria é minha mofina (apoiados.). O zelo do bem público é

que me anima a falar com franqueza; eu fui, sou e serei sempre franco (apoiados gerais.).

Mentira. Bravo, Macaco! Os crimes deste execrando Governo são tão monstruosos que eu não sei como o povo ainda o sustenta. A Constituição garantiu o segredo das cartas, tornando inviolável este único meio de comunicação; entretanto, o Governo interferindo criminosamente no segredo dos particulares, violando a fé pública, que está debaixo da salvaguarda de uma frágil obréia, abre as cartas, lê e se instrui nos negócios alheios...

Imparcial. Amigos, não sei se esta calúnia poderá passar! É muito calva.

Muitas vozes. Pode, pode; continue.

Tiple. (continuando) Só um Governo infernal, Srs., poderia recorrer a semelhante arbítrio. (apoiados gerais.). A História nos refere (não me lembro agora aonde) que tiranos de todos os tempos recorreram ao expediente de abrirem as cartas para oprimir os povos; e diz Jefferson que a violação do segredo das cartas só se encontra em Governos egoístas e perversos (apoiado). O nosso Governo porém acrescenta o escárnio ao crime, pois desculpando-se o Administrador dos Correios, diz que os ratos roeram as obréias!