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Política e Trabalho 13 - Setembro / 1997 - pp. 248-252


TRABALHO, SOCIEDADE & MEIO AMBIENTE

Cleto B. Barbosa (1)


LIMA, Jacob Carlos; KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro; RIFIÓTIS, Theophilos (org).: Trabalho, Sociedade & Meio Ambiente. João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 1996. 233p.


Os textos desta coletânea foram organizados a partir de seleção de trabalhos apresentados no VII Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste, realizado em João Pessoa em maio de 1995.

As questões abordadas incluem a reestruturação produtiva, as famílias operárias, a memória sindical, as condições de vida e trabalho em áreas irrigadas do sertão nordestino e garimpos [fim da página 248] amazônicos, a pobreza e as relações trabalho e mobilidade social e trabalho-meio ambiente.

Num primeiro bloco de trabalhos, encontram-se dois textos que discutem a reestruturação produtiva, seus efeitos perversos no mundo do trabalho e as perspectivas ( ou falta de ) futuras para a organização dos trabalhadores. O primeiro artigo: Reestruturação Produtiva E Seus Efeitos No Mundo Do Trabalho, de Maria Carmela Buonfiglio, trata da nova reestruturação produtiva e seu significado, indicando que além de modelos e técnicas aplicadas à produção, a reestruturação mostra-se como um instrumento de transformação da sociedade, do capitalismo e do Estado. Discutindo a "acumulação flexível", acentua que os diferentes procedimentos organizacionais, dessa transformação, vêm impondo o binômio "empresa enxuta - precarização do trabalho", para restaurar o lucro e a acumulação de capital. Acentua que os diferentes sistemas e estratégias que resultam nessa nova forma de organização do trabalho, têm conseguido um único resultado que é a realização do ideal de harmonia e de colaboração de Taylor, valendo-se do medo e do temor do desemprego. Essa autora, ainda destaca que a reestruturação produtiva tem significados mais amplos que um rearranjo na produção, abrangendo o nível do emprego, das relações sociais, da distribuição da riqueza social e dos salários, prolongamento da jornada de trabalho e efeitos nas lutas e nos sindicatos. Na discussão, recoloca a velha questão "socialismo ou barbárie" e as possibilidades de se reconstruir utopias.

No segundo artigo, do primeiro bloco, Ângela Borges e colaboradores tratam das Reflexões Sobre Os Resultados Das Práticas De Gestão Além Dos Muros Da Fábrica: Novos Conteúdos Do Trabalho?, abordando os novos conteúdos do trabalho determinados pelas práticas da "Qualidade total" e da "Terceirização", eixo das práticas gerenciais na região metropolitana de Salvador. Discutem e problematizam os resultados destas práticas à luz do debate sobre exclusão e sobre o esvasiamento crescente da cidadania, através dos resultados de pesquisas em setores químico, petroquímico, petrolífero, siderúrgico e metalúrgico que compõem o Complexo Petroquímico de Camaçarí (COPEC). Desvendam um quadro em que as implicações das novas práticas de gestão do trabalho estão ameaçando os princípios mais elementares do "trabalho assalariado", enquanto forma que expressou a passagem e o avanço histórico do trabalho compulsório ao trabalho livre. Com um referencial teórico prevalentemente da sociologia do trabalho, constroem suas reflexões sobre as condições de trabalho e saúde nas fábricas, o que denominam de novos conteúdos da "cidadania na fábrica" e as implicações dessas mudanças no mercado de trabalho urbano dessa região baiana.

Resultados de pesquisas sobre condições de vida e trabalho em grandes projetos ou áreas mineradoras, vão compor o segundo bloco de textos. Nele, Tercina Barbosa [fim da página 249] Vergolino & José Raimundo Oliveira Vergolino apresentam os efeitos do desenvolvimento pela agricultura irrigada, na região do submédio São Francisco, no limite dos municípios de Petrolina e Juazeiro que se inserem no semi-árido do Nordeste brasileiro, enfocando as relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores agrícolas que, sem acesso à terra irrigada, têm, nos projetos de irrigação, sua fonte maior de emprego e renda. Essa abordagem está contida no artigo intitulado Condições De Irrigação No Submédio São Francisco: Vida Dos Trabalhadores Sem Terra, no qual os autores estudam as relações de trabalho levando em conta o tipo de vínculo empregatício, formas de recrutamento da mão-de-obra, sazonalidade da atividade, salário, direitos trabalhistas e vantagens oferecidas pelo empregador. Sobre as condições de vida dos trabalhadores, investigam a estrutura familiar, ocupacional, migração, educação, renda e nível de conforto.

Concluindo esse bloco, Armin Mathis traz em Garimpagem De Ouro Na Amazônia uma discussão sobre a atividade da garimpagem como forma de extração de minério que se estabeleceu nos anos 60, na região do Tapajós, e se estruturou de forma diferente do extrativismo tradicional da região. Demarca a integração nacional da região, a fase de mecanização da garimpagem e a mudança na política do Estado em relação à esta atividade, e a transformação do garimpo de local de produção em lugar de produção e consumo dos valores lá extraídos, na fase áurea da garimpagem na Amazônia e, por fim, o esgotamento da garimpagem direcionado por decisões políticas no nível do governo federal, com reflexos econômicos e sociais.

No terceiro conjunto de textos referentes a trajetórias de trabalhadores na fábrica, no mercado de trabalho, no âmbito familiar e na atividade sindical, Iracema Brandão Guimarães reflete sobre a relação entre classe social, do ponto de vista do lugar na produção, e relações de gênero em Família E Trabalho: Experiências E Trajetórias Femininas. Nesse trabalho, enfoca as experiências e as trajetórias femininas de trabalhadoras do Pólo Petroquímico de Camaçari-BA, e procura identificar os elementos de metamorfoses na subjetividade dessas mulheres, considerando o aumento dos níveis educacionais, a qualificação e sua funcionalidade nas trajetórias profissionais femininas e a formulação de um projeto articulado de vida.

Jacob Carlos Lima recupera a condição operária na Paraíba em Trabalho, Família e Mobilidade Social: um estudo sobre sociabilidade operária, onde a mobilidade social dos trabalhadores é resultado do valor atribuído ao emprego na fábrica que assume o significado de inserção social, salário, segurança, acesso a direitos, possibilidade de profissionalização e outros significados simbólicos, apesar da efetiva precariedade do emprego industrial. O emprego na fábrica é mediado por relações sociais fora do mercado de trabalho: formas de sociabilidade que respondem a estratégias individuais e familiares de sobrevivência [fim da página 250] e reprodução. Trabalhando com operários têxteis, esse autor diz que essa categoria social reflete a história econômica e social paraibana e que suas falas apontaram para situações próximas às estudadas na década de 60 sobre a formação do moderno operariado no Brasil e na América Latina, cujo enfoque central era a origem rural, a migração e a mobilidade social. Destaca que a impessoalidade das relações sociais na fábrica convive com a informalidade das redes sociais, do parentesco e até certo ponto do compadrio e a família aparece com uma forte centralidade na vida social e ocupacional, competindo com o trabalho na organização da vida pessoal.

Eliana Monteiro Moreira e colaboradores em Sindicalismo Rural: Memórias de Líderes resgatam a história de sindicatos do Brejo Paraibano a partir dos depoimentos de líderes sindicais e, com base em documentos e trabalhos acadêmicos, apresentam uma breve história do movimento sindical e os contornos desse movimento. Nas falas dos sindicalistas destacam as versões sobre a origem, a questão da repressão e os distintos papéis atribuídos ao sindicato. Comentam ainda que, outro tema abordado pelos entrevistados foi a questão da repressão e da violência, tanto patronal como policial, que vêm marcando os sindicatos do Brejo Paraibano. Além disso, comentam sobre a descontinuidade e as divergências na experiência dos trabalhadores rurais daquela região.

Favelas Da Maré: Ambiente E Mobilidade Na Beira Do Mar de Eduardo Machado & Fátima Cardoso é parte do quarto e último bloco desta coletânea. Nesse trabalho, os autores destacam que os espaços mais significativos para os moradores da favela da maré são expressões dos processos urbanos maiores que favorecem essas ocupações e processos internos ligados as estratégias de valorização e mobilidade social empregadas pelos indivíduos e grupos. Apresentam hierarquias sociais que permitem entender a dinâmica espacial da favela da maré e a construção social do espaço do seco ou da terra firme. Por fim, destacam que os deslocamentos sócio-espaciais Novos Alagados apresentam as características externa e interna. Enquanto a mobilidade externa está referida ao afluxo de ocupantes procedentes do interior do Estado da Bahia ou de outros bairros da cidade, a mobilidade interna está associada aos deslocamentos feitos nos espaços internos da favela, tanto nas palafitas quanto nas casas aterradas da área seca, ou ainda das palafitas para a área seca.

Francisco Emanuel Matos Brito e Ghislaine Duqué apresentam suas reflexões sobre o impacto de uma nova consciência ecológica que localiza na modernização agrícola um agente de danos à saúde do ambiente, do agricultor e do consumidor. Tendo como modelo o Estado da Bahia, os estudos apresentados em Modernização, Agrotóxicos e Emergência do Paradigma Ecológico se desdobram verificando a prática dos atores sociais - movimentos ambientalistas, grupos profissionais e governo - e enfocam [fim da página 251] seus efeitos no pensamento científico contemporâneo.

O texto de Sônia Barbosa Magalhães sobre A Investigação Sociológica e a Dimensão Ambiental enfoca a incorporação da dimensão ambiental e a interdisciplinariedade como uma preocupação já presente nas Ciências Sociais para a promoção ou viabilização do chamado desenvolvimento sustentável. Analisando o documento Programa Piloto para a Conservação das Florestas Tropicais Brasileiras - Subprograma de Ciência e Tecnologia, detém sua atenção a um dos componentes desse subprograma: Pesquisa Dirigida ao Desenvolvimento Sustentável (PPD). Centrada no contexto amazônico, essa autora reflete sobre as condições sociais em que se deu o fortalecimento desta dimensão ambiental, sobre as problemáticas que esta expressão recobre ou encobre, e indica alguns dos efeitos desse fortalecimento sobre a investigação sociológica. Mostra a necessidade de transportar para dentro da formulação dos "núcleos temáticos" do PPD, o princípio de que a preservação do meio ambiente passa por outras dimensões que não apenas a natureza em si. Da mesma forma, apresenta a necessidade de se incluir nesses núcleos, o pressuposto antropológico de que a subjetividade da percepção social dos grupos sociais sobre as atividades em que estão envolvidos e os significados que lhes atribuem também têm consequências efetivas sobre as ações.

Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues Chaves encerra esse conjunto com as Representações da Natureza: Os Avisos da Mata e os Significados do Rio. Neste trabalho a autora apresenta o processo de constituição sócio-histórica dos seringueiros no Município de Novo Aripuanã, no Estado do Amazonas, analisando como se efetiva sua relação com a natureza e com os demais agentes sociais. Dessa forma, destaca que as práticas adotadas pelos seringueiros, parecem constituir uma estratégia peculiar desvelando seu profundo saber sobre a natureza que extrapola a dimensão laboral, para mostrar o significado que ela assume de sujeito-objeto na relação.

Esse conjunto de artigos sintetiza, em grande parte, trabalhos outros de igual importância já realizados pelos pesquisadores e que já foram publicados ou estão em fase de publicação. Ao mesmo tempo reflete, em sua expressão regional, parte da produção das Ciências Sociais voltadas para as questões que Trabalho e Meio Ambiente remetem para as transformações sociais e colocam para a permanência das sociedades humanas diante da degradação ambiental.


1) Professor da UFAC / CPG Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA-UFPB.

Índice Principal  |  Normas Para Publicação
Número 12 - setembro de 1996  |  Número 13 - setembro de 1997  |   Número 14 - setembro de 1998  |  Número 15 - setembro de 1999
Universidade Federal da Paraíba  |  Programa de Pós-Graduação em Sociologia - UFPb


Este site foi modificado pela última vez em 18 de Outubro de 1999, por Carla Mary S. Oliveira.


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