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Política e Trabalho 14 - Setembro / 1998 - pp. 91-110


ESTADO DAS ARTES NAS CIÊNCIAS SOCIAIS DO VISUAL NO BRASIL (1)

Mauro Guilherme Pinheiro Koury (2)


Este trabalho busca identificar as principais tendências da área das Ciências Sociais do Visual no Brasil. Tem como base um mapeamento coordenado por mim em 1996, de pesquisadores, instituições e arquivos brasileiros que trabalham com a relação entre Imagem e Ciências Sociais. Embora a ênfase seja a Antropologia Visual, este documento se debruça em dados mais gerais, que entrecruzam várias disciplinas das Ciências Sociais e afins, forçando a uma reflexão sobre as fronteiras e os usos interdisciplinares da Imagem na Antropologia.

É interessante mostrar, em um primeiro momento, que perguntados sobre as áreas prioritárias de trabalho entre os pesquisadores que responderam o mapeamento, de 147 respostas, 48 delas apenas lidam com interesse específico, as demais indicações espraiam-se entre as mais diversas temáticas das Ciências Sociais e Humanas. Por interesse específico à área de Imagem, refiro aqui àquelas ligadas à pesquisas em linguagens imagéticas, ou ligadas à questões teórico-metodológicas relacionadas à Imagem e disciplinas ou temas determinados das Ciências Sociais. Um terceiro campo indicado é àquele ligado aos usos da Imagem, com preocupações mais técnico-instrumental do que metodológico, na pesquisa em Ciências Sociais.

A indicação de um interesse geral como área prioritária de trabalho, contudo, em muitos casos, parece informar o uso da Imagem como uma forma analítica a mais, além da forma textual, na compreensão do recorte do real estudado. Em outros casos, parece significar o uso dos recursos imagéticos como auxiliares à pesquisa verbal. Como um elemento adicional na captação do real trabalhado, ou ainda como mera ilustração deste recorte em estudo.

A pesquisa visual nas Ciências Sociais, de qualquer forma, parece indicar um campo ainda em definição, sem fronteiras delimitadas, onde o pesquisador ainda caminha sem muita clareza: às vezes situando-se [fim da página 91] em aspectos ligados estritamente à problemática das linguagens em imagens, às vezes usando as imagens como simples ilustração de um texto verbal. As duas formas limites citadas parecem estabelecer o locus específico onde a reflexão aqui iniciada irá repousar.

O CAMPO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS DO VISUAL NO BRASIL

O uso das imagens, já é um lugar comum dizer, sempre foi realizado pelas Ciências Sociais no país e no mundo, desde o advento destas disciplinas. Ilustração do real ou como instrumento metodológico de captação de nuances do real, que o simples olhar do observador não pode perceber durante sua estada em campo, as imagens, especificamente a fotográfica, cinematográfica e, mais tarde, videográfica, ao lado das demais formas de iconografia, acompanham as Ciências Sociais desde o seu nascimento. É bem verdade que a Antropologia, mais do que outra das Ciências Sociais, soube utilizar de modo minucioso e com buscas de precisão às imagens, como ampliação do campo etnográfico ao olhar do pesquisador. O que parece significar, uma ampliação do olhar do pesquisador sobre o campo etnográfico através das imagens vistas a posteriori. Nuances e pequenos detalhes que escaparam ou não foram visualizados de uma forma sistemática pelos pesquisadores, mas que constavam do material imagético levantado, serviram para ampliar consideravelmente a visão do campo cultural de uma determinada comunidade ou sociedade estudada.

Na Sociologia, o uso das imagens como elemento de análise foi um recurso utilizado sistematicamente pela chamada Escola de Chicago, os chamados Interacionistas Simbólicos. Registros pessoais, como correspondências, diários e sobretudo fotografias de caráter privado são utilizados como elementos fundamentais de entendimento das culturas ou populações estudadas, como possibilidade de compreensão das resistências ou não à novas adaptações e mudanças. É o caso, por exemplo, do famoso estudo de Thomas & Znaniecki (1958) sobre a migração polonesa para os Estados Unidos.

Em todos esses casos, tanto na Antropologia como na Sociologia, as imagens eram tidas como um registro do real. Como uma leitura exemplar deste real. Claro que, no caso da análise dos interacionistas, o material iconográfico consultado servia como material para uma análise subjetiva do olhar do migrante. Através dele era possível compreender as motivações para a tradição ou mudança individual ou dos grupos estudados e planejar uma atuação social de assimilação pela nova sociedade desses grupos ou indivíduos.

Diferente aqui das análises antropológicas iniciais de uso de material imagético, que buscavam no registro fotográfico ou [fim da página 92] videográfico a forma de ampliação do olhar do pesquisador. Talvez por se tratar com comunidades dessemelhantes aos padrões culturais ocidentais, ou de padrões culturais mais tradicionais, se no interior de uma mesma cultura, o registro imagético pelo pesquisador foi tomado como um recurso a mais na construção de um olhar estrangeiro na compreensão de uma outra cultura. A Imagem servindo como uma ampliação do olhar do etnógrafo na captação da realidade cultural em estudo. É o caso por exemplo dos trabalhos de Margaret Mead, especificamente o artigo A Antropologia Visual em uma Disciplina Verbal (1979:20), onde nos diz que uma Imagem pode nos conduzir à possibilidade de uma maior compreensão de um real, por permitir a retomada desta realidade várias e várias vezes para análise (3). O mesmo podendo-se dizer do hoje clássico manual de Antropologia Visual de Collier Jr. (1992), onde a Imagem é tida como a reprodução do real e, às vezes, como o real em prova.

A maior parte das vezes, contudo, a imagem, especificamente a fotográfica, foi usada como simples anexos aos trabalhos. Como ilustrações sem preocupações analíticas outras que a simples prova do real analisado e, às vezes, como prova de que o autor esteve presente ao local estudado. Como que dando veracidade à análise do autor, ou ao fato de que o autor esteve lá, presente, na comunidade estudada.

No Brasil, o uso das imagens como ampliação do olhar do pesquisador, como prova de campo ou de afirmações do autor, ou como instrumento de compreensão dos óbices à ruptura de uma tradição e uma nova adaptação, também esteve presente desde o início das Ciências Sociais no país. Podemos ver exemplos deste início nos trabalhos de Roger Bastide, de Gilberto Freyre e tantos outros, que adicionavam a fotografia aos seus trabalhos como um suporte a mais à análise verbal de suas teses.

Dos anos 50 aos anos 60, os trabalhos desenvolvidos pelas Ciências Sociais no Brasil ou utilizavam imagens como forma de apreensão do real estudado para análises posteriores ao campo, ou acrescentavam imagens aos seus trabalhos como documentos ilustrados presentes nos apêndices das obras. A documentação imagética servia como um reforço do real trabalhado.

Os anos 70 e 80 são anos de intensa produtividade nas Ciências Sociais do país. São anos de configuração e consolidação da pesquisa e do ensino pós-graduado. São anos de uma grande produção de dissertações e teses por pesquisadores brasileiros, defendidas no exterior [fim da página 93] e principalmente, no final dos anos 70 e durante todos os anos 80, no Brasil.

Os documentos imagéticos fazem parte dos apêndices de grande parte do material produzido pelas Ciências Sociais brasileiras no período. Seja na Política, seja na Sociologia, seja na História e, principalmente, na Antropologia, os registros imagéticos passam a compor o corpo dos trabalhos acadêmicos. Sempre, salvo um ou outro esforço tênue, como ilustração às teses defendidas pelos autores, comprovando a veracidade das afirmações analisadas ou a presença do autor no campo.

O poder da Imagem acrescentada parecia assim reforçar o recurso verbal da análise, pela veracidade que ela acrescentava à linguagem escrita. O valor documental da Imagem, junto com outros registros, começou deste modo a ter um peso específico na configuração analítica da academia nas Ciências Sociais.

O olhar do pesquisador começou a procurar enxergar e organizar, catalogar e sistematizar as imagens como documentos, isto é, como provas do real. As imagens começam a ganhar um espaço mais claro, como documentação, a partir dos anos 70, nas Ciências Sociais do país. Os arquivos passam a ter uma preocupação mais objetiva com estes materiais, como um elemento analítico importante na configuração histórica e social do país.

Os pesquisadores, por outro lado, começam também por organizar, sistematizar e catalogar imagens em arquivos, nos centros universitários, como um dado documental que não servia apenas para ilustrar aquela tese do autor, mas que poderia também servir para outros pesquisadores na compreensão e busca analítica de um real.

O que eu quero afirmar aqui, é que os anos 70 e 80 trouxe ao pesquisador em Ciências Sociais brasileiro uma consciência mais clara do valor do documento imagético à análise do social. Esta preocupação se traduzindo no debruçar-se sobre imagens, ou na preocupação com o registro imagético, ou, ainda, na busca mais sistemática de organização de acervos imagéticos de uso mais amplo do que o do alcance de um trabalho específico de um autor.

A História, deste modo, vai desempenhar um papel importante neste novo processo de conscientização do valor da Imagem. A valorização dos registros imagéticos como prova histórica ou como ilustração histórica, ou até mesmo como uma ajuda a mais à historiografia, ou ao contar analiticamente um conjunto de fatos estudados, levou pesquisadores em História a se preocuparem com a organização e criação de acervos em Imagem. Temos assim, no decorrer [fim da página 94] dos anos 70 a criação, no interior de núcleos de pesquisa, de linhas mais sistemáticas de conservação, catalogação, sistematização, e em alguns casos, registro imagético. As imagens saem dos museus e ganham status acadêmico.

É interessante notar que neste mesmo período, historiadores se debruçam na História do país e passam a publicar documentos sistematizados em função de um olhar específico, sobre determinado fato ou tema da História (como é o caso dos dois volumes de Hall & Pinheiro, 1979 e 1981). Nessas sistematizações de documentos históricos, estão também presentes materiais imagéticos, como charges, pinturas e fotografias, indicando a importância do visual como registro e análise de uma época.

Ainda nos anos 70 e 80 é possível encontrar também, entre historiadores brasileiros, artigos sobre o uso metodológico das imagens nas pesquisas históricas. Como é o caso dos diversos artigos de Moreira Leite publicados em revistas científicas e de Ciências Sociais brasileiras (Moreira Leite, 1983, 1986, 1988, 1988a), entre outros.

No Brasil, a meu ver, parece que o despertar mais sistemático para o uso da Imagem no trabalho acadêmico das Ciências Sociais, nos anos 70 e 80, ganhou um significado interdisciplinar às diversas áreas que a compõem. Como um olhar que se dilapida, as diversas disciplinas das Ciências Sociais começam um diálogo entre si, tímido e que vai ganhando força nos anos 90, formando o que aqui convenciono chamar de Ciências Sociais da Imagem.

Os anos 90 são anos de intensa discussão sobre o que é o trabalho com imagens nas Ciências Sociais, e também são anos de um apuro das fronteiras que delimitariam singularidades a interdisciplinaridade, e também espaço singular a cada uma das disciplinas envolvidas. O que antes se tateava enquanto conscientização da importância do valor documental da Imagem e dos seus usos nas Ciências Sociais, agora se fortalece enquanto delimitação de fronteiras e conformação disciplinar, enquanto área de interesse e pesquisa.

Este esforço nas Ciências Sociais é sentido na criação da mostra sistemática de vídeos nos encontros da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais - ANPOCS, desde 1986, e da Criação de um Grupo de Trabalho sobre Usos da Imagem, em 1992. O que coincide também com os esforços de criação de uma área de discussão permanente sobre Imagem na Associação Brasileira de Antropologia - ABA. Tantos nos encontros nacionais, como nos encontros regionais. É interessante notar também que na área de História, a questão da Imagem como área específica de estudo e pesquisa ganha preocupação também no seu núcleo de discussão [fim da página 95] nacional, na reunião da Associação Nacional de Professores Universitários de História - ANPUH, em 1997.

Essa busca, nas Ciências Sociais dos anos 90, de delimitar o campo de trabalho com Imagem como uma linha de pesquisa de caráter quase disciplinar, se denota uma preocupação sobre os diversos recortes que lhe dêem uma autonomia relativa como disciplina conota, por outro lado, o desejo de instituição de uma metodologia específica para seus usos, que a diferencie de outras áreas, sem contudo afastar-se enquanto possibilidade de discussão e troca interdisciplinar.

Isso tanto internamente às Ciências Sociais, quanto externamente. Nesse sentido, a Antropologia que já possui uma disciplina em construção, mas consolidada no imaginário dos que a praticam, - a Antropologia Visual ganha, assim, espaço prioritário como fundamentação do locus das pesquisas em Imagem nas Ciências Sociais em torno do seu nome. É onde se tem, de modo mais avançado, uma discussão - embora ainda tênue, mas que ganha força a cada movimento - sobre a necessidade de delimitação das fronteiras disciplinares teórico-metodológicas.

Nas demais disciplinas das Ciências Sociais, como a Sociologia, a História e a Política, embora tenha crescido o interesse pelo uso das imagens como recurso metodológico auxiliar à pesquisa social, a discussão de uma área própria de reflexão e pesquisa tendo a Imagem como focus analítico é ainda mais tímida. Embora não seja de desprezar os esforços nessa direção, tanto a nível de discussão em fóruns nacionais ou regionais, como internamente aos programas e núcleos de ensino e pesquisa, que iniciam a formação, identificação e reconhecimento de áreas e linhas de pesquisa em Imagem em seu corpo (4).

[fim da página 96]

QUEM É QUEM NAS CIÊNCIAS SOCIAIS DA IMAGEM NO BRASIL

O despertar e crescimento de profissionais e estudantes de Ciências Sociais para a área de Imagem no Brasil tem reforçado as discussões em torno da sua conformação disciplinar, ou como autonomia temática enquanto linha de pesquisa singular, nos programas de pós-graduação e cursos de graduação em Ciências Sociais, a partir dos anos 90. No interior da Antropologia, essa discussão está mais desenvolvida, e é onde se pode encontrar esforços práticos mais salutares e de maior visibilidade enquanto conformações de núcleos de ensino e pesquisa específicos ao trabalho com Imagem, no interior do que se convencionou chamar de Antropologia Visual. Neste sentido convém chamar a atenção para o Núcleo de Antropologia Visual - Navisual, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o mais antigo em desenvolvimento de trabalhos sistemáticos no Brasil. Surge no final da década de 80, como Laboratório de Antropologia Visual, e logo a seguir, início dos anos 90, ganha status de núcleo (Rodolpho, A. et alli, 1995: 168).

Ligado ao Programa de Pós Graduação em Antropologia Social, ele ajuda o desenvolvimento da linha temática Antropologia Visual na pós-graduação, formando profissionais pós-graduados na área, tanto quanto estimula, com bolsas de iniciação científica, estudantes de graduação em Ciências Sociais, ampliando a discussão e o interesse profissional na área.

Grande parte de suas dissertações e teses tem, atualmente, a Imagem como um exercício metodológico ou teórico-metodológico presente. Ao mesmo tempo que se desenvolve um intenso trabalho paralelo, como subproduto das teses ou dissertações ou conseqüência delas, em forma de exposições fotográficas e vídeos (5). Ou mesmo como exercícios de iniciação científica.

[fim da página 97]

Desenvolve também os trabalhos de arquivo, conservação e sistematização da memória fotográfica, bem como possui um crescente acervo de vídeos documentais e etnográficos. Os trabalhos e discussões no interior do Navisual tem contribuído, local e nacionalmente, para os avanços epistemológicos das Ciências Sociais da Imagem, especificamente, no campo da Antropologia Visual.

Neste mesmo aspecto, outro grupo tem se destacado na discussão epistemológica da Imagem nas Ciências Sociais - Antropologia. Esse é o NAI - Núcleo de Antropologia e Imagem, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Criado nos anos 90, o NAI vem desenvolvendo trabalhos importantes para o desenvolvimento da área de Imagem no país, especificamente sobre a linguagem videográfica como instrumento teórico-metodológico ou enquanto suporte técnico à pesquisa antropológica. Ao mesmo tempo, vem estimulando o debate sobre as fronteiras de uma Antropologia visual no país, bem como as discussões em torno das questões legais sobre o uso de imagens no cotidiano da pesquisa em Ciências Sociais (6). O NAI também tem desenvolvido ou apoiado a realização de mostras nacionais e internacionais (7) de vídeos etnográficos, bem como edita uma das mais importantes revistas de Antropologia visual no país, os Cadernos de Antropologia e Imagem.

Outros núcleos ou linhas de pesquisa em Antropologia Visual nas universidades brasileiras tem também contribuído para o debate e avanço sistemático da discussão epistemológica da disciplina: exemplos, são o Lisa - Núcleo de Imagem e Som do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade de São Paulo (USP), o Laboratório de Antropologia Visual do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e a Linha de Pesquisa em Antropologia Visual do Programa de Pós-Graduação em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Vale a pena lembrar que a área está em pleno desenvolvimento, com o surgimento de novos grupos, como o LEV - Laboratório de Etnografia Visual da Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Laboratório de Antropologia Visual do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), além do aparecimento constante de novos pesquisadores e estudantes de [fim da página 98] graduação e pós graduação, espalhados pelas instituições de ensino superior do país (8), interessados na pesquisa com Antropologia e Imagem.

Nas demais disciplinas das Ciências Sociais, os anos 90 vão despertar interesses específicos ao trabalho com Imagem, estabelecendo uma discussão sobre o caráter disciplinar da temática ou se o trabalho com Imagem serviria apenas como uma técnica auxiliar ao desenvolvimento da pesquisa social, não podendo ser considerado como de interesse temático e desenvolvimento teórico-metodológico autônomo. Essa discussão vem se desenvolvendo junto ao crescente número de pesquisadores que vinculam o uso da Imagem em suas pesquisas, e a alunos de pós graduação e graduação que se sentem atraídos e ingressam em seu processo formativo nas discussões sobre os limites do trabalho com Imagem nas Ciências Sociais. Neste sentido, o grupo de trabalho sobre usos da Imagem, da ANPOCS, contribuiu muito para essa discussão e para ampliar os horizontes no interior das outras disciplinas, que não a Antropologia, nas Ciências Sociais.

No caso da Sociologia, três grupos de pesquisa se consolidam no país: o NAVEDOC - Núcleo Audiovisual de Documentação, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que desenvolve um excelente trabalho de formação na área de Imagem no curso de graduação em Ciências Sociais; o Núcleo de Documentação Visual Urbana do Instituto de Pesquisa em Planejamento Urbano da UFRJ, que possui um excelente acervo visual sobre o urbano, e desenvolve atualmente trabalhos em multimídia e novas linguagens visuais (9); e o Grupo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Imagem, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPb), que conseguiu em 1994 estabelecer as bases de implantação da disciplina Ciências Sociais da Imagem nos currículos de graduação em Ciências Sociais e pós graduação em Sociologia, e tornar-se uma linha de pesquisa independente, com várias dissertações defendidas e em andamento, o que significa o reconhecimento do estatuto teórico-metodológico da área, no interior das diversas temáticas disciplinares em Sociologia. Esse grupo desenvolve, também, um trabalho nacional de sensibilização para a temática, através de cursos e [fim da página 99] assessorias e de um fórum interdisciplinar permanente sobre Imagem, que ocorre mensalmente, desde 1995 (10).

Fora estes três grupos em consolidação, existem profissionais e estudantes nas diversas IES ligados à Sociologia, com preocupação crescente com o uso e com a reflexão teórico-metodológica, e a busca de processos de formação de bases de pesquisa em Imagem e Ciências Sociais, através de solicitações constantes de assessorias de núcleos e grupos de trabalho consolidados para esse fim.

Na área de História, temos os trabalhos das pesquisadoras Miriam Moreira Leite, da USP, uma das pioneiras no trabalho teórico-metodológico sistemático com imagens fixas no Brasil, a Olga Von Simpson, da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, que lida com o difícil entrecruzamento entre oralidade e imagens fixas, e os trabalhos de arquivos históricos, como o Centro de Pesquisa e Documentação - CODOC, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro (11), o Arquivo Edgard Leuenroth - AEL, da UNICAMP, e a Coordenação de Iconografia do Centro de Documentação e Estudos da História Brasileira da Fundação Joaquim Nabuco - FUNDAJ (12). Vale a pena indicar também o excelente trabalho que está sendo desenvolvido pelo Departamento de História da UFBA, com o Núcleo de Pesquisa e Produção de Vídeos Históricos, onde se desenvolvem pesquisas e oficinas em vídeo, fotografia, cinema e história, e que conta com um excelente acervo de filmes históricos nacionais e internacionais.

Os pesquisadores que responderam ao Mapeamento sobre Imagem & Ciências Sociais (13) estão situados, grosso modo, entre os que trabalham a Imagem enquanto arquivo e catalogação, e os que utilizam a Imagem como objeto e/ ou instrumento de pesquisa. Uns e outros tem a Imagem como referência para os trabalhos de pesquisa nas Ciências Sociais.

[fim da página 100]

Em alguns acervos, as imagens são catalogadas como mais um tipo de documento junto a outros, como são os casos do Arquivo Edgard Leuenroth da UNICAMP, e o Centro de Pesquisa e Documentação da FGV/RJ; em outros, recebem tratamento, afunilando a pesquisa e o olhar para o documento visual, como é o caso da Coordenação de Iconografia da FUNDAJ.

A maior parte dos núcleos de pesquisa em Imagem no Brasil, porém, começa a montar acervos a partir dos trabalhos efetuados no seu interior. Desde os finais dos anos 80, vários títulos foram catalogados, tanto em termos de mostras fotográficas quanto em vídeos. Nos anos 90, esses títulos começam a ser trocados com outros acervos e cada núcleo de pesquisa estende os acervos para uma mostra de Brasil. Assim como são comprados ou trocados títulos de fora do país, aumentando consideravelmente o acervo fotográfico e videográfico do país, que atualmente servem de suporte para novas pesquisas, como também de instrumento de apoio para o ensino nas Ciências Sociais.

Acervo, pesquisa e ensino são tratados atualmente, nos núcleos de Imagem, como um elemento de estreitas conexões. As discussões sobre o significado do trabalho com Imagem nas Ciências Sociais, assim, vem ampliando não só as fronteiras em que se consolida a área, mas também o significado de registro em todas suas implicações sócio-políticas e econômicas. Se discute hoje, no interior da área de Imagem, os direitos do registrado e do registrante e da instituição que patrocinou o registro. A legislação brasileira sobre Imagem começa a ser discutida, em vista de uma proposição mais profissional do uso de imagens nas Ciências Sociais do Visual no país, o que é mais um dado do amadurecimento da área no sentido de consolidação de suas fronteiras e das reflexões sobre seus atributos, multidisciplinaridade e limites a serem superados a cada novo avanço da pesquisa em Imagem entre pesquisadores, núcleos e acervos ligados ao tema.

BREVE BALANÇO SOBRE A PRODUÇÃO RECENTE EM IMAGEM E CIÊNCIAS SOCIAIS

A produção recente, entre os pesquisadores em Imagem e Ciências Sociais, é bastante auspiciosa. É possível dividi-la em três segmentos básicos: o primeiro, àqueles que lidam com a produção fotográfica e videográfica de modo específico para registro e catalogação do real estudado; o segundo, os que refletem analiticamente sobre os processos geradores de Imagem, enquanto produção cultural e social; o terceiro, os que usam a Imagem como um recurso complementar aos seus trabalhos. Claro está que um mesmo pesquisador, em situações e momentos específicos, pode estar relacionado aos três recortes aqui delimitados. O [fim da página 101] intento, aqui, não é situar a produção por pesquisador, mas tornar visível os campos em que os trabalhos com o visual estão sendo desenvolvidos. Mesmo que, para tal, seja necessário indicar um ou outro trabalho da produção por pesquisador. A base de consulta é o mapeamento de pesquisadores em Imagem & Ciências Sociais, por mim elaborado entre outubro de 1996 a outubro de 1997 (Koury, 1997).

A produção videográfica nas Ciências Sociais do país já é considerável, especialmente na área de vídeos etnográficos, sem desconsiderar o já considerável acervo nas demais áreas das Ciências Sociais. Esses vídeos surgem sempre, ou na maioria das vezes, ainda, como subprodutos de uma pesquisa maior. São resultados, em sua maior parte, de registros ou reflexões de campo para o desenvolvimento de dissertações ou teses (14), que ganham vida independente ou paralela à própria pesquisa (15).

O mesmo acontecendo com as fotografias. Acompanham uma pesquisa formal, na maioria das vezes, como um recurso técnico a mais para observação de campo. Em muitos casos ganham status próprio, compondo exposições temáticas, muitas delas bastante interessantes enquanto forma e linguagem (16).

Tanto as produções de vídeos, quanto as produções fotográficas, grosso termo, são exercícios visuais de um texto verbal, na maior parte das pesquisas em Ciências Sociais. São, também, instrumento de registro do real trabalhado em campo. Algumas vezes, é bem verdade, servem como recursos metodológicos destinados ao processo educativo, como forma de ampliar a sensibilidade do aluno sobre novas formas de observação do real, ou sobre o modo de perceber aspectos de uma realidade não convencionalmente identificada pelo olhar que observa: o filme e a fotografia convencionam o real observado a um tipo de registro que normalmente escapa ao olho nu (17).

Documento de um real que permite sistematizar informações importantes sobre o real registrado, além de alertar aos que vivenciam o real de sua existência. O registro passa a ser tomado como elemento de [fim da página 102] uma rememoração, ou da fomentação da memória no grupo que a perdeu ou está em processo de aculturação intensa que não mais absorve em si os significados dos gestos (18). A produção videográfica e fotográfica nas Ciências Sociais, assim, ainda são grande parte produtores de fixações do real para compreensão sobre ou do recorte apreendido.

Vídeos ou fotografias, com poucas exceções recentes, raramente passam por um roteiro específico para produção temática. Os roteiros, quando existem, são reflexos imediatos do trabalho de campo para uma pesquisa específica, onde o recurso técnico videográfico ou fotográfico são elementos presentes.

Incorporado ao texto escrito, o visual, não necessariamente, ganha espaço. Nem sempre dialoga sequer com o texto onde está inserido. Na maior parte das vezes, apenas, acrescenta ao texto a Imagem como ilustração e não como reflexão sobre o processo em compreensão. Isso no caso da fotografia.

No caso das produções videográficas, os vídeos como subprodutos de uma pesquisa temática formal, acompanham, enquanto registro, todo o trabalho de campo, em longas horas de documentação. Os resultados, embora em crescente melhora técnica, ainda são problemáticos: de um lado, apresentações de registros visuais extensos e monótonos ou, montagens fragmentadas ou poluídas de informações, muitas vezes repetitivas, com um narrador em off que apenas pontua a paisagem(19); de outro lado, apesar de um esforço de montagem sob um roteiro, a linguagem ainda escapa a uma produção em Ciências Sociais do Visual, navegando em muitos casos, entre o documentário (20) e a impostação de um discurso textual que constrange as imagens a si (21). O primeiro e terceiro recorte sobre a produção em Ciências Sociais do Visual no Brasil, vistos acima, estão ainda presos aos impasses descritos.

O esforço para uma linguagem videográfica ou fotográfica nas Ciências Sociais, porém, é crescente e cheio de esperanças, no sentido de uma delimitação de um campo. Para isso tem contribuído as diversas mostras de vídeos e de fotografias em uso nas Ciências Sociais nos [fim da página 103] diversos encontros nacionais e regionais de Antropologia, Ciências Sociais e História (22).

Trabalhos significativos de uma nova fase da produção de vídeos e do uso de fotografias na análise das Ciências Sociais do visual, podem ser detectados como apontando também para uma nova fase da pesquisa visual no país, como são exemplos na área de vídeos, os trabalhos de Clarice Peixoto, UERJ (1993, 1995); de José Inácio Parente e Patrícia Monte-Mór, Interior Produções (1987); de Bela Feldman-Bianco, UNICAMP (1991, 1995); de Elisa Cabral, UFPb (1991, 1994, 1997, 1998); de Cornélia Eckert e equipe do Navisual, UFRGS (1997); entre outros. Na área de fotografia, os trabalhos de Mirian Moreira Leite (USP) (23), Etienne Samain (UNICAMP) (24), Mauro Guilherme Pinheiro Koury (UFPb) (25), Luciana Bittencourt (USP) (26), Luís Eduardo Achutti (UFRGS) (27), Bertrand Lira (UFPb) (28), entre outros, tanto quanto coletâneas sobre Imagem e Ciências Sociais que despontam no horizonte literário (Koury, 1998; Feldman-Bianco & Moreira Leite, 1998; Samain, 1998; Achutti, 1998), são indicadores deste novo amadurecimento das Ciências Sociais do Visual no país.

Nesses trabalhos, tanto o vídeo quanto a fotografia são utilizados enquanto instrumento de reflexão e compreensão na pesquisa em Ciências Sociais, não apenas como auxiliares de leitura da realidade, mas enquanto produtores também do real. Os códigos da criação visual ou de sua interpretação crítica passam, assim, a esclarecer os significados da Imagem enquanto produtores de reais culturais e suas interrelações com os processos de memória individual ou coletiva, e da construção de [fim da página 104] redes compreensivas neles inerentes. Bem como a produção de imagens em si passa a ser objeto de reflexão e compreensão do imaginário social que os produziu.

Nesse sentido, os produtores de Imagem e os pesquisadores em Ciências Sociais do Visual são objetos de reflexão sobre a temática e a realidade pesquisada. A Imagem passa, assim, de simples instrumento auxiliar à visão do pesquisador, à objeto de análise, e fundamento compreensivo das interrelações teórico-metodológicas do olhar na pesquisa em Ciências Sociais.

NOTAS FINAIS

O campo das Ciências Sociais do Visual no país, como pôde ser sentido nesse breve balanço, está em pleno amadurecimento. O crescimento e interesse de estudantes e profissionais para o trabalho com imagens é salutar, e com vistas a um tipo de reflexão sobre os alcances e significados sobre o seu uso nas pesquisas e novas linguagens teórico-metodológicas compreensivas do processo cultural ou reflexivas sobre os impactos dos processos culturais nessas novas linguagens e pesquisas científicas. Bem como da expansão de acervos de imagens, em centros de documentação ou núcleos de pesquisa especializado, colocando o visual dentro de um novo enquadramento do olhar do cientista social, que não o tem apenas como indicativo de um real, mas como produtor de realidades em si.

O documento visual implica, cada vez mais em uma conscientização sobre os impactos do registro imagético sobre os elementos registrados, sobre quem os registrou e para que foi registrado, como forma de possibilitar um questionamento do documento enquanto valor simbólico de um dado cultural específico, à luz de vários olhares que se intercruzam e se tensionam na sua execução. Isso resignifica a pesquisa em Ciências Sociais do Visual enquanto campo e enquanto característica de análise, o que vem possibilitando uma apreensão mais adequada do visual como instrumento crítico de um real a ser compreendido, e das características intrínsecas da produção visual nas Ciências Sociais, enquanto disciplina ou área temática autônoma e ao mesmo tempo multidisciplinar.

Os esforços significativos realizados pelos pesquisadores brasileiros na área de Imagem nos anos 90 dão mostra da vitalidade do setor, sua expansão e busca de consolidação da área (Koury, 1997a), embora o sentido dos usos enquanto objeto ou enquanto instrumento ainda se tem difuso no dia a dia daqueles que a utilizam. As discussões ainda tem sido de caráter eminentemente técnico, sem desmerecê-lo em sua importância, mas restrita à confecção do vídeo ou da fotografia [fim da página 105] enquanto instrumentos. Claro que a apuração técnica da câmara, do enquadramento, dos diversos planos que compõem os recortes da Imagem, quer fotográfica, quer videográfica, quer cinematográfica, é essencial. Um trabalho imagético com uma qualidade técnica melhora sobremaneira a utilização de seus recursos na pesquisa antropológica. Mas por si só não basta.

A Antropologia Visual, ou uma Ciência Social da Imagem, não veio para tornar pesquisadores da área em especialistas da câmara, nem para ocupar o lugar daqueles que utilizam esses instrumentos profissionalmente. A utilização das imagens, quer como objeto, quer como instrumento, na pesquisa social requer, principalmente, um rigor conceitual daquilo que se pesquisa, a mensagem cultural transmitida ou remontada em outra linguagem que não a puramente escrita, que ajude a sintetizar, ampliando a pesquisa em si.

A necessidade de uma sistemática e de um balanço sobre quem é quem nas Ciências Sociais do Visual tem sido um dos elementos estimulantes neste processo de consolidação, o que tem provocado, com uma intensidade crescente, discussões teórico-metodológicas e uma busca de definição conceitual mais rigorosa entre os profissionais que atuam com a pesquisa em Imagem nas Ciências Sociais (29). O que tem permitido, sem dúvida, um caminhar mais seguro e uma delimitação de fronteiras (mesmo que provisórias, ou principalmente, sempre provisórias), que estimulem e acelerem a consolidação da área Antropologia Visual, ou de uma Ciência Social da Imagem, se pensarmos em um contexto mais interdisciplinar.

[fim da página 106]

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OLIVEIRA, Henrique Luiz Pereira. (1994). Vida Laboriosa. S-VHS. 17'. (UFSC).

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PEIXOTO, Clarice. (1993). À La Recontre dus Petit Paradis. VHS. 20'. (UERJ).

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SIMS, Cynthia. (1997). O Bonde Rastafari (A história do reggae carioca). 35mm. 32'. (UFF).

WOORTMAN, Ellen F. (1990). As Mulheres da Areia. VHS. 19'. (UNB).

EXPOSIÇÕES FOTOGRÁFICAS

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BARRETO, Maria Cristina Rocha. (1996). A Cidade da Parahyba, 1889-1930. Exposição com 20 fotografias atribuídas a Walfredo Rodriguez. João Pessoa: PPGS/CCHLA/UFPb.

BRITES, Jurema G.. (1993). Aprendiz de Bacana. Porto Alegre: PPGAS/ NAVISUAL/ UFRGS.

GASTALDO, Édison. (1995). .Esportes de Combate. . Porto Alegre: PPGAS/ NAVISUAL/ UFRGS.

GUTERRES, Liliane S.. (1996). Ensaio sobre a Escola Imperadores do Samba. . Porto Alegre: PPGAS/ NAVISUAL/ UFRGS.

MAGNI, Cláudia Turra. (1994). Os Moradores de Rua de Porto Alegre. Porto Alegre: PPGAS/ NAVISUAL/ UFRGS.

SILVA, Josiane A.. (1993). Bambas da Orgia. Sobre a escola de Samba Bambas da Orgia. Porto Alegre: PPGAS/NAVISUAL/UFRGS.

RESUMO

ESTADO DAS ARTES NAS CIÊNCIAS SOCIAIS DO VISUAL NO BRASIL

Este trabalho busca identificar as principais tendências da área das Ciências Sociais do Visual no Brasil. Tem como base um mapeamento realizado em 1996, de pesquisadores, instituições e arquivos brasileiros que trabalham com a Imagem nas Ciências Sociais. Embora a ênfase seja a Antropologia visual, este documento se debruça em dados mais gerais, que entrecruzam várias disciplinas das Ciências Sociais e afins, forçando a uma reflexão sobre as fronteiras e os usos interdisciplinares da Imagem na Antropologia.

ABSTRACT

THE SOCIAL SCIENCES OF VISUAL IN BRAZIL: A REVIEW

This work searchs to identify the main trends of the area of Social Sciences of Visual in Brazil. The article has as base a mapping carried through in 1996, of Brazilian's researchers, institutions and archives that work with the Image in Social Sciences. Although the emphasis is the visual Anthropology, this document leans over in more general data, that intercross several discipline of Social and similar Sciences, forcing to a reflection on the borders and the uses interdisciplinares of Image in the Anthropology.

NOTAS

1) Trabalho apresentado na XXI ABA, no GT "Antropologia Visual e da Imagem" (Vitória, 05 a 09 de abril de 1998).

2) Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal da Paraíba - Campus I, coordenador do Grupo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Imagem/ PPGS/ DCS/ CCHLA/ UFPb, membro do Comitê Assessor de Imagem e Som da ANPOCS.

3) Ver também: Lakoff (1996).

4) Sobre esse assunto é interessante notar a polêmica da exclusão do grupo temático em Usos da Imagem na XXI ANPOCS, em 1997. Apesar da manutenção do Comitê Assessor de Imagem e Som e a Mostra de Vídeos, o Comitê que aprovou os pedidos de grupos temáticos deste encontro nacional da ANPOCS rejeitou a proposta do grupo temático em Usos da Imagem. Este fato gerou um profundo mal estar entre os participantes e simpatizantes do grupo, parecendo indicar que o corte foi mais por causa da afinidade do Grupo com a Antropologia, e que a ANPOCS girava mais em torno da Sociologia e da Política. Nesse caso, a exclusão teria sido uma decisão político acadêmica. Independente de entrar nesta discussão ou não, o fato causou surpresas e desencantos, em um momento de crescimento e aprofundamento e visibilidade da área, como uma das linhas de pesquisa em franco desenvolvimento e com uma produção em ritmo crescente. Não só na Antropologia, mas em Sociologia, Política e História, no país. Para compensar, a ABA aprova para o seu XX encontro nacional todo o elenco de propostas da área de Imagem. O que se traduz em mesas redondas, oficinas, grupo de trabalho, prêmio sobre vídeo etnográfico e exposições fotográficas e mostras de vídeos. Esta decisão reforça, por um lado, a área de Imagem, prolongando e verticalizando a sua discussão, e, por outro lado, aumenta a capacidade de congregação em torno da Antropologia Visual da discussão das fronteiras por onde deve passar uma Ciências Sociais da Imagem. É uma discussão que agora se inicia, e que redefine a questão da interdisciplinaridade em função de uma disciplinaridade de olhar multidisciplinar, centrado nos parâmetros da disciplina Antropologia visual.

5) Remeto para os trabalhos de Rodolfo, A., Eckert, C., Godolphim, N. & Rosa, R. (1995), de Rosa (1995) e de Barros, A., Eckert, C., Gastaldo, E., Guterres, L & Rodolpho, A. (1997), para um balanço sobre as atividades no interior do Navisual/UFRGS.

6) É interessante notar que esta discussão aflorou nacionalmente durante o Fórum sobre o uso, conservação e intercâmbio de imagens nas Ciências Sociais, realizado sob coordenação de Bela Feldman-Bianco no XIX Encontro da Anpocs, em 1995. O mesmo tema foi retomado no XX Encontro Nacional da ABA (1998), em um novo fórum coordenado por Cornélia Eckert.

7) Junto com a Interior Produções.

8) Como são os casos por mim conhecidos de pesquisadores e estudantes na área nas IES do Acre, Pará, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia e Paraná.

9) Este Núcleo representa no Brasil o Prêmio Mobiuv, de trabalhos em cultura, arte e comunicação, que utilizam novas tecnologias de Imagem.

10) É deste grupo a publicação dos Cadernos Imagem e Sociedade, onde se busca refletir as bases epistemológicas da relação Imagem e sociedade no interior da prática sociológica, e da necessidade da interdisciplinaridade à pesquisa em Imagem.

11) O qual possui extenso arquivo em Imagem e publicações importantes sobre Imagem e História Política Brasileira.

12)É interessante olhar os diversos catálogos do AEL, além dos Cadernos do AEL, bem como os catálogos da Coordenação de Iconografia da FUNDAJ, que demonstram os esforços no sentido de conservação, sistematização, catalogação e auxilio interdisciplinar à pesquisas destes arquivos (Medeiros, 1995; Manini, 1997, entre outros).

13)Koury (1997).

14) Dados que disponho no momento: No Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRGS, 17 dissertações e teses utilizando imagens foram defendidas no período de 1993 a 1997, No Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPb, entre 1994 e 1997, foram defendidas sete dissertações com utilização de imagens.

15)Ver, por exemplo, os vídeos: Peixoto (1993); Chianca (1995); Magni & Godolphim (1996), entre outros.

16)Ver, por exemplo, as exposições fotográficas: Barreto (1996) ; Silva (1993); Brites (1993); Magni (1994); Guterres (1996); Gastaldo (1995); Achutti (1996), entre outros.

17)Ver, por exemplo, os interessantes artigos de Fonseca (1998) e Dantas (1998).

18)Como são os casos da produção videográfica do CTI - Centro de Tecnologia Indígena, da USP, do AUÇUBA - Vídeos e Consultorias em Antropologia Visual, de Pernambuco, e de uma série de Organizações Não Governamentais (ONG's) que trabalham com vídeos e fotografias no país.

19) Ver, por exemplo: Rosa e outros (1997); Gouveia (1997), entre outros.

20)Ver por exemplo Novaes (1994); Fonseca (1995), Woortman (1990), entre outros.

21) Ver, por exemplo, Oliveira (1994); Sims (1997), entre outros.

22) Especificamente os ligados a ABA, a ANPOCS e a ANPUH. Sem esquecer, contudo, do excelente Festival Internacional de Vídeos Etnográficos, promovido pela Interior Produções, do Rio de Janeiro, em seu quarto ano de existência. É importante frisar os debates suscitados nestes espaços em relação a uma linguagem fotográfica e videográfica própria para uso nas Ciências Sociais com cineastas, comunicadores, documentaristas científicos e de televisão e fotógrafos, com resultados importantes para a delimitação de um campo específico para o visual nas Ciências Sociais. Bem como o exercício crítico sobre a produção visual em Ciências Sociais pelos cientistas sociais do visual, resultando em melhorias técnicas e conscientização de linguagens videográficas e fotográficas no interior do campo teórico-metodológico da pesquisa em Ciências Sociais.

23)Moreira Leite (1983, 1986, 1988, 1988 a, 1993, 1998).

24)Samain (1998 , 1997 , 1995).

25)Koury (1998, 1998 a, 1998b).

26)Bittencourt (1996), originalmente tese de doutorado.

27) Achutti (1997), originalmente dissertação de mestrado defendida no PPGAS/UFRGS.

28) Lira (1997), originalmente dissertação de mestrado defendida no PPGS/UFPb.

29) Esse aspecto se evidencia deste a formação do Grupo de Trabalho Usos da Imagem na ANPOCS, cuja característica principal foi, além de tentar uma visualização das pesquisas e profissionais sobre Imagem e Ciências Sociais no Brasil, uma discussão teórico-metodológica sobre os sentidos da utilização da Imagem na pesquisa social, tendo como conseqüência um Fórum sobre Imagem nas Ciências Sociais, de onde sai a proposta de um Mapeamento dos pesquisadores, instituições e arquivos sobre Ciências Sociais da Imagem, já em andamento e com um primeiro resultado (Koury, 1997), e, de onde se iniciam as discussões sobre a necessidade de um conhecimento e proposição para a área de uma legislação sobre usos e direitos sobre imagens. As discussões teórico-metodológicas se aprofundam nos últimos encontros temáticos, como no II Encontro de Antropólogos del Mercosur, acontecido em novembro de 1997 no Uruguai, e no XX Encontro Nacional da ABA, em Vitória, em abril de 1998. Nestes dois últimos encontros, as discussões sobre Imagem nas Ciências Sociais tem sido realizada de um lado, através de um esforço de aprofundamento teórico-metodológico do campo da Imagem, e delimitações de suas fronteiras enquanto disciplina específica, e, de outro lado, em um esforço de compreensão e estabelecimento de uma legislação sobre usos e direitos sobre a Imagem nas Ciências Sociais. O que demostra um avanço salutar para o processo de consolidação e crescimento das Ciências Sociais do Visual.


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Este site foi modificado pela última vez em 18 de Outubro de 1999, por Carla Mary S. Oliveira.

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