Hgeocities.com/Colosseum/Midfield/7806/japao/jp180898.htmgeocities.com/Colosseum/Midfield/7806/japao/jp180898.htm.delayedxJsnOKtext/html jb.HTue, 13 Oct 2009 13:56:21 GMTdMozilla/4.5 (compatible; HTTrack 3.0x; Windows 98)en, *J Fuji-San


Fuji-San

A respeito do Fuji-san, não tenho palavras para explicar, é uma emoção tão grande!!! Encontrei meu amigo Kevyn na 2a feira; na 3a a tarde, preparamos nossas mochilas: lanterna, água com vitaminas, barras energéticas especiais para termos a energia necessária, casacos, luvas e sapatos com proteção especial para os calcanhares. Iniciamos a aventura; acabamos indo apenas nós dois; saímos de Shiraoka e trocamos várias vezes de trem. Em Otsuki, tivemos um tempo até embarcar no ônibus e comemos algo quente; nossa última refeição antes da escalada: massa, é claro. Chegamos ao último ponto do ônibus, já no Fuji-san, às 9h da noite e iniciamos a aventura; eu estava tão nervosa! Meu coração sairia pela boca se eu a abrisse. Nos primeiros 100m de subida, passei mal: minha última refeição veio até a garganta, uma tontura forte, um mal-estar geral, meu coração palpitava de emoção: o Fuji-san estava sob meus pés, eu estava ali, um sonho quase impossível estava para se realizar; eu quase não conseguia acreditar. Paramos; meu amigo estava preocupado com o efeito da altitude, mas eu disse a ele a verdade: não era altitude, era pura emoção e nervosismo. Muitas pessoas haviam falado sobre o Fuji, sua história e sua santidade; tudo isso pesou na minha cabeça e uma sensação estranha tomou conta de mim. Enfim, após colocar a cabeça no lugar e respirar fundo, controlar todo o maremoto de emoções, decidimos continuar.

O trajeto é todo em zigue-zague e eu sabia que era um vulcão, mas, mesmo assim, fui burra ao imaginar o Fuji: muita pedra e poeira no chão, só isso! Nada de árvores ou florestas, apenas uma completa escuridão; o foco das nossas lanternas tentava dar uma noção da maior montanha do Japão. Paramos várias vezes; a altitude, o ar rarefeito e o cansaço desgastam qualquer um; o chão não dá sustentação ao pé, as pedras se movem quando você tenta apoiar o pé. Muita, muita, mas muita gente subindo a montanha em plena 3a para 4a feira (férias de verão aqui); muitos casais de idade, famílias com os filhos pequenos, adolescentes e avós com netos pequenos; a montanha é considerada sagrada aqui. Após 6h de caminhada, finalmente, o TOPO!!! A sensação é indescritível!!! Meu único pensamento era: "você conseguiu, você chegou ao ponto mais alto do Fuji-san!"

Um vento frio já estava soprando há um bom tempo e começou a chuviscar também. Então, entramos em uma pequena construção, um "bar", onde pode-se comer, beber e descansar. Ficamos ali apenas em torno de uma hora e meia; as nuvens empurradas pelo vento deixavam, às vezes, perceber o tom mais claro do céu azul: estava amanhecendo; saímos do abrigo e nos sentamos em um banco de madeira, de frente para leste, aguardando o surgir do sol; o vento estava frio e Kevyn tinha trazido um papel laminado especial, térmico; enrolamo-nos e ficamos curtindo aquela visão maravilhosa: as nuvens carregadas pelo vento, o céu tornando-se cada vez mais claro, o sol surgindo aos poucos, desenhando uma "cobra dourada" na borda das nuvens. O silêncio tomou conta de nós, afinal, nessas horas a natureza fala o que seres humanos não são capazes de transformar em palavras. Fotos e mais fotos... o sol já estava alto e o relógio mostrava apenas 6h da manhã.

Ainda tínhamos um longo caminho pela frente e resolvemos começar a trilhá-lo. Após nos despedirmos daquela altitude, começamos a descida. Mais 2 horas e meia; nossos pés escorregaram entre poeira e pedras; os sapatos mudaram de cor, a roupa também; nossos olhos estavam completamente empoeirados e podíamos sentir a poeira em nossa boca. Quando chegamos à base, o dia estava muito claro e o sol abrilhantava ainda mais a montanha; mas, a visão que tive então foi assustadora: uma montanha de 3776m formada puramente por pedras e pó; uma pequena vegetação rasteira somente na base do Fuji; 90% da sua extensão é morta; também, o monte mais famoso do Japão é um vulcão! E meus olhos nunca tinham visto um tão de perto!

Olhando da base para o topo, pude ver todo o trajeto que haviamos percorrido durante a noite; as construções, chamadas de estações, lugares para descanso, comer, beber algo ou ir ao banheiro (primitivo!). A visão foi realmente assustadora; só então tive real noção da extensão que percorremos e do tipo de montanha que escalamos: a paisagem "morta" se contrapõe à imagem sagrada do Fuji-san. Mas nada substitui a sensação de bem-estar quando se está a 3776m de altura, ar rarefeito, a altitude surtindo efeito e uma visão maravilhosa de nascer do sol à sua frente. Esse tipo de experiência não há dinheiro no mundo que compre nem nada que possa apagá-la de dentro de você, da sua memória.

Penso que só quem viveu essa experiência pode entender porque essa montanha é considerada sagrada e não há palavras que possam descrever o motivo. Ou melhor, há palavras, mas elas nunca serão condizentes com a realidade da experiência vivida; neste tipo de momento percebe-se o enorme abismo que há entre a razão e o coração: a razão explica, mas não sente; o coração sente, apenas sente, mas não explica.


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Last Updated November 2, 1998 by Ângela Musskopf

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