Encouraçados
Os franceses foram os primeiros a reagir às lições de Sinope. Em 1855, desenvolveram um tipo especial de embarcações para enfrentar os fortes de terra; conhecidas como baterias "flutuantes".
Eram embarcações de fundo chato, para operar em águas rasas, próximas à terra, construídas de madeira mas protegidas de couraça de ferro forjado de 4,5polegadas de espessura montadas sobre placas de madeira (teca) de 18 polegadas de espessura; esta couraça fora planejada para resistir aos canhões típicos da época, os 68 pounder de alma lisa. Neste mesmo ano, as três Baterias Flutuantes Dévastacion, Lave, e Tonnante, foram rebocados para o Mar Negropor Fragatas de propulsão mista, compondo um esquadrão anglo-francês com outros navios tradicionais, tiveram a missão de neutralizar o forte russo de Kinburn. Enquanto os navios de madeira, sem proteção, davam apenas fogo de apoio, as três embarcações de encouraçadas sofreram apenas avarias insignificantes: os tiros sólidos do forte ricocheteavam na couraça, e as granadas explosivas, explodindo contra a couraça, não produziam nenhum dano. A partir daí não mais se podia duvidar da eficácia da couraça para os navios de guerra e ficava claro que a tecnologia se voltaria para o melhoramento dos canhões e dos projetis usados.
A idéia de empregar couraças nos navios é muito antiga, já no século XVI, numa guerra entre Coréia e Japão, surgiu o primeiro navio, ainda a remo, protegido com couraça; conhecido como "navio tartaruga", pelo seu aspecto exterior, dispunha de um convés em forma de domo, feito de chapas de ferro, às quais foram soldados verdadeiros espigões de ferro; o navio era praticamente invulnerável às armas da época e a sua abordagem pelo inimigo era quase impossível.
No ano de 1858, duas canhoneiras construídas na França e sete na Inglaterra, todas a vapor e a hélice, com pequeno calado para operarem nos rios do Prata. Conforme aponta em seu relatório para o Ministro da Marinha, Tamandaré, no que diz respeito à couraça, inspirou-se no bombardeio do Kinburn pelas baterias flutuantes francesas.
Os franceses em 1859, lançam ao mar o Gloire,uma Fragata de 5600 toneladas, a primeira de uma classe de três navios construídos de madeira mas dotados de coura;a, projetadas por Dopuy de Lôme . Eram navios de propulsão mista a hélice.
A economia de peso, conseguida devido a sua artilharia estar toda concentrada em uma única fileira de poderosos canhões, permitiu que o navio recebesse uma cinta coura;Ada de 4,7 polegadas de espessura, fabricada por Creusot. Um dos três navios da mesma classe tinha o casco de ferro, o Couronne, lançado em 1860.
No ano de 1859 tem início a construção dos primeiros navios de linhas dotados de aríete que, breve, seria uma das características de todos os encouraçados da época. A ineficiência dos canhões da época contra os navios encouraçados valorizou o aríete que podia atingir os navios inimigos abaixo da linha d`agua, na parte não protegida pela couraça.. Em 1860, o MHS Warrior, que é o primeiro navio de linha com casco de ferro. O Warrior deslocava 9210 toneladas e dispunha de couraça de 4,5 polegadas de espessura.
Batalha de Hampton Roads (1862) onde, pela primeira vez, dois navios encouraçados se defrontavam. Surpreendentemente para a época os dois navios eram exclusivamente acionados a vapor, muito avançados quando comparados com os demais navios do período.
Recuperando uma fragata que havia sofrido um grave incêndio, os confederados transformaram-na num navio encouraçado- o Virginia- que, entretanto, passaria a história com o seu antigo nome Merrimack. O navio era dotado de uma casamata, construída com um traves de carvalho revestidas com trilhos de estrada de ferro e placas metálicas. Seu armamento consistia em quatro canhões, todos passando através de aberturas existentes no casamata e atirando granadas explosivas; ainda na casamata existiam dois canhões , um atirando para vante e outro para ré; o navio dispunha de aríete, de ferro, que se projetava 2 pés abaixo da linha d`gua. A velocidade era muito baixa, de apenas 2 ou 3 nós.
A União desenvolveu o Monitor, tinha o casco de madeira revestido de couraça; a meia nau foi instalada uma torre rotativa. O navio tinha pequena borda livre, não sendo, pois projetado para operar em alto-mar mas apenas em águas protegidas; sua velocidade inicial era da ordem de 5 nós. O Merrimack atacou os navios da União que bloqueavam o rio Chesapeake, afundando a Fragata a vela Congress e a Chalupa Cumberland. Os três navios remanescentes fugiram, abrigando-se em águas rasas onde o Merrimack não podia ir. Na manhã seguinte,com a chegada do monitor ao local,iniciou-se um duelo de artilharia entre os dois encouraçados; ap[os cerca de 7 horas de combate, a situação permanecia indecisa. A retirada do Merrimack para Norfolk pôs um ponto final à batalha.
O combate demonstrou que as couraças usadas eram invulneráveis tanto aos projetis sólidos como às granadas explosivas. Era claro que chegava ao fim a construção dos navios de madeira sem proteção de couraça e que seria necessário desenvolver sistemas de armas mais eficazes. Chamou a atenção para importância do aríete, que podia atingir os navios abaixo da linha d’água.
Durante toda Guerra de Secessão Norte-Americana, ambos os partidos lançaram mão do aríete e, quando os navios não dispunham deste recurso, do abalroamento. Foram construídos navios encouraçados, com quase nenhum armamento, para serem usados como verdadeiros aríetes contra os navios inimigos; os resultados foram excelentes em termos de custo-benefício. É possível que Barroso, em Riachuelo, tenha levado em conta as experiências bem sucedidas no conflito norte-americano.
Foi também na Guerra de Secessão que o primeiro navio de guerra de porte, o encouraçado USS Cairo, foi afundado, em dezembro de 1862, por ação de mina.
A GUERRA DA TRíPLICE ALIANÇA
Na América do Sul, o ano de 1864 fica marcado pelo começo da Guerra da Tríplice Aliança (1864 – 1870), envolvendo, de um lado, Argentina, Brasil e Uruguai, e do outro o Paraguai. Coube quase que exclusivamente ao Brasil a responsabilidade pela condução das operações navais.
Em 1865, é travada entre brasileiros e paraguaios a Batalha Naval do Riachuelo, uma batalha fluvial de caráter decisivo já que a Esquadra paraguaia foi praticamente dizimada.
A partir de então, o desafio criado pela guerra iria ser a causa de um novo surto de desenvolvimento da construção naval no País, especialmente no Arsenal da Corte: em 1865, foram lançados ao mar uma canhoneira a vapor e dois navios encouraçados; em 1866, um navio encouraçado e duas bombardeiras; em 1867, uma corveta e três monitores encouraçados; em 1868, três monitores encouraçados, além do início da construção da Corveta Encouraçada Sete de Setembro, com casco de madeira e couraça de 4 polegadas (só seria concluída em 1874: o fim da guerra desestimulou os esforços que se faziam; seria necessário uma nova crise para que, embora precariamente, se retornasse a construção na década de 1880). Os navios lançados ao mar no Arsenal da Corte foram: em 1865, a Canhoneira Taquari e os Encouraçados Tamandaré e Barroso; em 66, o Encouraçado Riachuelo e as Bombardeiras Pedro Afonso e Forte de Coimbra; em 67, a Corveta Vital de Oliveira e os Monitores Encouraçados Pará, Rio Grande e Alagoas; em 68, os Monitores Encouraçados Piauí, Ceará e Santa Catarina, além do pequeno Vapor Level e do Rebocador Lamego. Alguns dos encouraçados e dos monitores encouraçados seriam usados em Humaitá.
Na Europa, prosseguiu a revolução naval militar, com o lançamento, em 1865, do HMS Bellerophon, primeiro navio de linha com bateria central; sua bateria compreendia dez canhões de 9 polegadas, além de dois canhões de 7", montados numa bateria na popa, sem proteção, dos quais dois poderiam atirar pela proa; o navio dispunha de aríete e sua couraça de ferro tinha 6 polegadas de espessura.
No momento em que, inconstestavelmente, a couraça mostrava-se decididamente superior ao canhão e se atribuía ao aríete enorme valor, impunha-se que o maior número possível de canhões da bateria principal pudesse atirar pela proa, já que o navio que tentava alcançar o outro com aríete tinha que avançar de proa para o inimigo e era importante que o fizesse com os seus canhões atirando.
A Guerra da Tríplice Aliança continua, foi assim necessário que o Arsenal da Corte desenvolvesse a tecnologia adequada e construísse os navios com couraça que pudessem forçar a passagem da Esquadra para além de Humaitá, conforme as lições da Guerra da Criméia (o bombardeio do forte de Kinburn e de Sebastopol já comentados) e, as mais recentes, da Guerra de Secessão nos Estados Unidos (David Farragurr em Móbile). Já vimos que a partir de 1865 a Marinha construiu um número considerável de navios.
Os projetos dos encouraçados e dos monitores encouraçados, conforme apontado anteriormente, eram de Napoleão Level, e as maquinas instaladas foram de projeto e construção nacionais, a cargo de Carlos Braconnot.
Os monitores encouraçados eram de construção mista de madeira e ferro (os vaus eram de ferro) e levaram couraça de ferro; sua única propulsão era o vapor; dispunham de um canhão montado em torre giratória.
O projeto desses monitores era totalmente baseado no projeto do seu ilustre antecessor da Guerra de Secessão, o Monitor.
Em fevereiro de 1868, a passagem foi forçada pelos navios encouraçados (ironclad) Barroso, Bahia e Tamandaré, cada um levando a contrabordo, por bombordo um monitor couraçado, as conseqüências da rendição da fortaleza de Humaitá foram quase imediatas.
O reconhecimento do valor da couraça aumentava em toda a parte; com a evolução dos canhões e dos projetis impunha-se o uso de couraças cada vez mais espessa: a partir de 1868, as couraças dos navios de linha passaram a ter até 9 polegadas de espessura, ainda de ferro.
A preocupação com o uso de aríete levou, conforme já aqui assinalado, a esforços para dar aos navios uma clara linha de tiro pela proa: dentro desse espírito, é lançado ao mar, em1868, o HMS Hércules, armado com uma bateria central de oito canhões de 10 polegadas.
COURAÇA X CANHãO
Em 1871, o HMS Captain, navio de propulsão mista e armado com torreta, embora e afunda. O navio era projeto do oficial da Marinha britânica Cowper Coles. Durante a construção do navio, Coles estava doente e, por isso, não a supervisionou; os pesos que foram sendo colocados a bordo deixaram de ser controlados, de forma que o deslocamento do navio, que fora projetado para 6963 toneladas, alcançou 7767, e a borda livre de projeto, que era de 8 ½ pés, caiu para apenas 6 ½ pés na ocasião da entrega. Tornava-se evidente que a propulsão mista, implicando no suo de mastros, vergas e toda aparelhagem necessária para a propulsão a vela, era incompatível com o emprego das couraças, cada vez mais pesadas.
Ainda nesse ano, foi lançado ao mar o HMS Devastation, primeiro navio de linha com propulsão exclusivamente a vapor, só dispondo de um pequeno mastro para sinais. Era dotado de torres, a sua couraça atingia 12" de espessura. Essa combinação de grande couraça e de torres com grandes canhões só foi possível porque o navio não dispunha de velas.
Em mais uma etapa do duelo entre a couraça e o canhão, é lançado ao mar em 1875 o HMS Dreadnought – homônimo do navio que se tornaria famoso três décadas mais tarde – o primeiro encouraçado a usar couraça de 14"de espessura.
Em 1875, surge um novo tipo de navio, com o lançamento ao mar do Cruzador Encouraçado ou Encouraçado de 2a classe HNS Shannon, que se pretendia pudesse realizar tanto as tarefas do encouraçados, formando na linha de batalha, como as de cruzador, na proteção ou ataque ao trafego marítimo; foi o primeiro navio a ter convés encouraçado, além da cinta-couraça até a linha d’água, esta introduzida para dar proteção aos novos motores de propulsão verticais; atingia a velocidade de 14 nós; seu armamento era do tipo bateria central.
Com o crescente aumento da espessura das couraças, canhões cada vez maiores foram sendo usados a bordo. Em1876 foi lançado ao mar o Encouraçado italiano Duílio,de 12000 toneladas, armado com quatro canhões gigantescos de 17,7" (cada canhão pesando 100 toneladas), o navio dispunha de uma couraça de aço de22" , e desenvolvia a velocidade máxima de 15 nós.
Para a escolha da melhor couraça, os italianos realizaram testes entre uma couraça de ferro forjado (como usual até então) de 22", e uma couraça de aço de igual espessura. Ambos os materiais não foram perfurados pelos tiros dos canhões de 10" e 12"; quando foram testados com o canhão de 17,7", a couraça de ferro foi perfurada e a de aço foi reduzida a pedaços. Os italianos decidiram a favor do aço.
Com o Duílio foi iniciada a prática da cidadela central e torretas nos cantos opostos da cidadela.
Como o aumento de espessura das couraças passou a comprometer a velocidade dos navios, tornou-se importante desenvolver couraças de outros materiais que, por terem melhor resistência, poderiam ter menor espessura e peso. Foi desenvolvida a couraça composta: uma placa de aço era soldada sobre uma de ferro. Os testes realizados foram um enorme sucesso, de modo que nos dez anos que se seguiram elas foram de uso obrigatório, para os grandes encouraçados.
Em 1876, foi lançado ao mar o HMS Inflexible, ainda com couraça "sanduíche", de ferro forjado, com 24" de espessura, o tipo "sanduíche" compreendia duas chapas de fero de 12", com madeira entre elas. Deslocando 11000 toneladas, era o maior navio até então construído.
A partir de 1880, começam a se popularizar os navios construídos com casco de aço – já vimos que o primeiro navio com casco e aço foi o Rédoutable, lançado ao mar em 1876 – o que representava um grande avanço pois o aço era mais leve, mais resistente e de menor preço do que o ferro.