Os Capitães
da Areia é um grupo de meninos de rua. O livro é dividido em três
partes. Antes delas, no entanto, via uma seqüência de pseudo-
reportagens, explica-se que os Capitães da Areia é um grupo de
menores abandonados e marginalizados, que aterrorizam Salvador. Os únicos
que se relacionam com eles são Padre José Pedro e uma mãe-de-santo.
O Reformatório é um antro de crueldades, e a polícia os caçam como
os adultos antes do tempo que são. A primeira parte em si, "Sob
a lua, num velho trapiche abandonado" conta algumas histórias
quase independentes sobre alguns dos principais Capitães da Areia (o
grupo chegava a quase cem, morando num trapiche abandonado, mas tinha
líderes). Pedro Bala, o líder, de longos cabelos loiros e uma
cicatriz no rosto, uma espécie de pai para os garotos, mesmo sendo tão
jovem quanto os outros, e depois descobre ser filho de um líder
sindical morto durante uma greve; Volta Seca, afilhado de Lampião,
que tem ódio das autoridades e o desejo de se tornar cangaceiro;
Professor, que lê e desenha vorazmente, sendo muito talentoso; Gato,
que com seu jeito malandro acaba conquistando uma prostituta, Dalva;
Sem- Pernas, o garoto coxo que serve de espião se fingindo de órfão
desamparado (e numa das casas que vai é bem acolhido, mas trai a família
ainda assim, mesmo sem querer fazê-lo de verdade); João Grande, o
"negro bom" como diz Pedro Bala, segundo em comando;
Querido- de- Deus, um capoeirista que é só amigo do grupo; e
Pirulito, que em grande fervor religioso. O ápice da primeira parte
vem em duas partes: quando os meninos se envolvem com um carrossel
mambembe que chegou na cidade, e exercem sua meninez; e quando a varíola
ataca a cidade e acaba matando um deles, mesmo com Padre José Pedro
tentando ajudá-los e se encrencando por isso. A segunda parte,
"Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos teus olhos", surge
uma história de amor quando a menina Dora torna-se a primeira "Capitã
da Areia", e mesmo que inicialmente os garotos tentem tomá-la a
força, ela se torna como mãe e irmã para todos. (O homossexualismo
é comum no grupo, mesmo que em dado momento Pedro Bala tente
impedi-lo de continuar, e todos eles costumam "derrubar
negrinhas" na orla.) Mas Professor e Pedro bala se apaixonam por
ela, e Dora se apaixona por Pedro Bala. Quando Pedro e ela são
capturados (ela em pouco tempo passa a roubar como um dos meninos),
eles são muito castigados, respectivamente no Reformatório e no
Orfanato. Quando escapam, muito enfraquecidos, se amam pela primeira
vez na praia e ela morre, marcando o começo do fim para os principais
membros do grupo. "Canção da Bahia, Canção da
Liberdade", a terceira parte, vai nos mostrando a desintegração
dos líderes. Sem-Pernas se mata antes de ser capturado pela polícia
que odeia; Professor parte para o RJ para se tornar um pintor de
sucesso, entristecido coma morte de Dora; Gato se torna uma malandro
de verdade, abandonando eventualmente sua amante Dalva, e passando por
ilhéus; Pirulito se torna frade; Padre José Pedro finalmente
consegue uma paróquia no interior, e vai para lá ajudar os
desgarrados do rebanho do Sertão; Volta Seca se torna um cangaceiro
do grupo de Lampião e mata mais de 60 soldados antes de ser capturado
e condenado; João Grande torna-se marinheiro; Querido-de-Deus
continua sua vida de capoeirista e malandro; Pedro Bala, cada vez mais
fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, vai se envolvendo
com os doqueiros e finalmente os Capitães da Areia ajudam numa greve.
Pedro Bala abandona a liderança do grupo, mas antes os transforma
numa espécie de grupo de choque. Assim Pedro Bala deixa de ser o líder
dos Capitães da Areia e se torna um líder revolucionário comunista.
Este livro foi escrito na primeira fase da carreira de Jorge Amado, e
nota-se grandes preocupações sociais. As autoridades e o clero são
sempre retratados como opressores (Padre José Pedro é uma exceção
mas nem tanto; antes de ser um bom padre foi um operário), cruéis e
responsáveis pelos males. Os Capitães de Areia são heróicos,
"Robin Hood"'s que tiram dos ricos e guardam para si (os
pobres). O Comunismo é mostrado como algo bom, e o Padre José Pedro
tem dúvidas quanto a posição da Igreja quanto ao assunto. No geral,
as preocupações sociais dominam, mas os problemas existenciais dos
garotos os transforma em personagens únicos e corajosos, corajosos
Capitães da Areia de Salvador.