A propaganda prometia um festival do nível do Lollapalloza ou do Reading, mas faltou muito. O nível das bandas estava bom, mas nem se compara a grande quantidade dos festivais americano e inglês que desfilam por múltiplos palcos. E mais uma vez foi imposta a lei seca (no Reading Festival a cerveja reina soberana). Este negócio de não vender cerveja em shows já está irritando muito. Não sei como começou isto, mas acho que a culpa foi dos jogos de futebol, onde começou a proibição. A cerveja faz falta principalmente em festivais longos como este e o Monsters of Rock. E também não é uma medida muito efetiva, pois todo mundo enche a cara antes de entrar, para passar mal lá dentro. Desta vez eu dei um jeitinho de entrar com alguns saquinhos com rum, para tomar com coca dentro do estádio. Deu certo, mas não é uma coisa que eu queira fazer sempre.
O espaço virtual e alternativo que parecia ser o grande diferencial deste festival não deu muito certo. Não que não fosse legal, mas era pequeno, tudo concentrado no mesmo lugar, com uma fila enorme para entrar. Resultado: eu que já havia chegado atrasado e perdido os shows nacionais (e eu queria muito ver os Inocentes tocando para uma grande platéia), acabei também perdendo o show do Mark Ramone and the Intruders e do Spacehog. O show do Mark Ramone eu não estava mesmo muito a fim de ver. Eu adoro o Ramones, e o último deles este ano foi simplesmente delirante. Mas apesar dos Intruders fazer um som muito parecido, não me empolgou muito em sair da fila para conferir, a não ser quando tocaram a “Cheers for You”, música deles que está tocando na Brasil 2000 (meus sincero agradecimento pelo ingresso!) e nos covers dos Ramones como “Anxiety” e “I Don´t Care” com os vocais do João Gordo, muito legal. Já quando começou o show do Spacehog, eu já estava dentro do espaço virtual (depois de mais de uma hora de fila!) e só pude aproveitar os melhores momentos através do telão interno. Pareceu um show muito bom, principalmente quando tocaram “In The Meantime” que eu adoro. Pena que tive de acompanhar tudo de longe... E dentro do espaço alternativo, tinha mais filas enormes para jogar os jogos de Realidade Virtual. Só deu para jogar um. Foi um tempão de fila e apenas três minutos de jogo, mais valeu a pena. Você realmente viaja naqueles capacetes, e isto vai ser a grande piração no futuro. Alem dos jogos, tinham uns quiosques multimidias com informações das bandas, uma loja de produtos de cânhamo com preços exorbitantes, uma barraquinha do Greenpeace, umas cartomantes picaretas que cobravam vinte cinco reais a consulta e venda de sanduíche em baguete (um luxo para shows em estádios!) e coquetel de frutas (sem álcool, mas que ficou ótimo quando misturei com meu rum).
Tive que sair pois tudo indicava que o show do Cypress Hill iria começar. A ordem dos shows foi trocada e quem tocou foi o silverchair. A molecada australiana mandou bala e fez um bom show. Eles não são muito originais, mas tem um grande futuro. Queria eu aos dezesseis anos fazer o que eles fazem. O público estava torcendo um pouco o nariz, mas quando tocaram o cover de “Paranoid” agitou bastante o público, muito mais do que quando o Black Sabath tocou a mesma no Monsters of Rock de 94.
O Cypress Hill me surpreendeu mais uma vez. No ano passado o show deles no Olympia foi ótimo, jamais imaginei que ia gostar tanto de um show de rap. Agora eu pensava que eles não ia se dar bem em espaço aberto e grande e que iria encontrar dificuldades com o público fã exclusivo do punk. Mas a resposta do público foi muito boa, e eles fizeram um show tão bom quanto o do ano passado. Eles possuem um peso muito grande que faz com que aliança com o rock seja natural, por isso estão sempre tendo sucesso em festivais de rock como o Lollapalloza e Woodstock 94. O grande Buda inflável com uma folha de maconha na barriga foi uma ótima idéia, que só funciona em espetáculos deste porte.
Depois veio o Bad Religion, que fez um ótimo show, mas de certa forma me decepcionou. Acho que foi mais culpa destes festivais longos, que quando vai chegando ao final vai dando muito cansaço. Não sei as músicas pareciam mais longas que o normal, que o show as vezes se arrastava, a pausa de cinco segundos virava cinco minutos para mim. E ainda faltou “Infected” e “Modern Day Catastrophists” (a minha favorita). Eu adoro o Bad Religion, mas conheço apenas os três últimos álbuns (The Gray Race, Stranger Than Fiction e Recipe For Hate). E estes álbuns são os mais desprezados pelos maiores fãs do Bad Religion (entrei numa Homepage de um fã que fala que odiou o Recipe For Hate, o qual eu acho simplesmente o máximo). Eles procuraram equilibrar o show tocando então música de todos os tempos, agradando a todos. Para mim o melhor foram “A Walk”, “Punk Rock Song”, “21st Century (Digital Boy)”, “Recipe For Hate” e “American Jesus”. Só espero agora conhecer melhor o trabalho desta excelente banda, e saber mais para um futuro show, quem sabe num show solo em lugar fechado. Vai ser o máximo.
Se eu não estava muito com pique para o Bad Religion, para o Sex Pistols acabou de vez. A primeira vez que ouvi da volta deles, eu torci o nariz. E depois passei a dar razão, afinal nada mais justo para a banda que se proclamava ser “a grande farsa do rock ‘n’ roll” voltar numa “turnê de lucro sujo”. Mas o sentimento contraditório permaneceu, as vezes levando a sério, as vezes encarando como diversão. Esse mar de confusão permaneceu até o show, e permanece até hoje. O show foi OK, eles tocaram razoavelmente bem, e eu nunca sabia se isso era uma virtude ou não. O público não colaborou, pois muitos se mandaram após o Bad Religion. Só nas mais conhecidas é que o público dava sinal de vida como “God Save The Queen”, “Pretty Vacant” e “Anarchy in The UK”. O Johnny Rotten tentava provocar o público, mas ninguém reagia, estávamos todos mortos. Até agora não sei se foi um bom show. Todo caso valeu o registro, uma sensação de estar participando numa piada histórica do rock.

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