Dificuldade em tirar partido da situação frustrante Traduzida pelo factor I, inferior à média para ambos os sujeitos, esta dificuldade em tirar partido das situações frustrantes, pode ter como consequência a necessidade de resolução das mesmas, isto leva-nos a pensar ser esta uma das razões que levam estes sujeitos a prolongarem o seu desejo de terem um filho biológico e a submeterem-se às novas tecnologias reprodutivas, independentemente dos inconvenientes e dificuldades das mesmas. Se estes sujeitos não conseguem encarar e tirar partido das vantagens da sua presente situação de indivíduos sem filhos (menos responsabilidades, mais liberdade, mais tempo) então só lhes resta como opção a resolução da situação. Acreditamos que as dificuldades em fazer uma interpretação menos importante ou mesmo eventualmente favorável das situações frustrantes (diminuição de I) e a tendência para culpabilização, sentimentos de vergonha, inadequação e fracasso (aumento de I) podem explicar algumas das dificuldades que estes sujeitos têm em partilhar com os outros as suas experiências. Este tipo de resposta é acompanhado, para ambos os sujeitos, por uma dificuldade em esperar que o tempo ou as circunstâncias que sobrevêm à situação solucionem por si o problema (diminuição de m). Existe nestes sujeitos uma falta de aptidão para resolver os
problemas. Concluímos, assim, que a impaciência para esperar que os problemas se resolvam com o tempo, ou circunstancialmente, traduz um menor empenho pessoal e autónomo do que uma dependência da colaboração de outrém, uma procura reivindicativa de ajuda para a solução dos problemas (diminuição de e) . Este facto vem confirmar os resultados: quanto menor for o número de tentativas FIV maior será a tendência dos sujeitos a reagirem de forma centrada na resolução do problema inerente à situação frustrante. E, quando revelam a infertilidade, apresentam mais soluções para resolver o problema, soluções essas associadas a um sentimento de culpabilidade.
A desistência rápida dos tratamentos parece-nos também ligar-se à
culpabilidade. A ficha pessoal da nossa amostra revela que 67% das mulheres e 73% dos homens ainda não pensaram na questão da adopção porque se querem concentrar na FIV. No entanto é curioso constatar que o quadro das Tendências revela-nos o contrário para ambos os sujeitos: indica-nos uma tendência da amostra para procurar soluções em todas as direcções possíveis, isto é apuram-se aumentos (e, i, m) nas frequências com o passar do tempo e com o suceder de frustrações. Ou seja, os sujeitos revelam uma tendência para ficarem progressivamente mais dependentes dos outros, das suas próprias capacidades ou do tempo e das circunstâncias. Temos então que a desistência, verbalizada na amostra, é uma falsa desistência, porque estes sujeitos tendem a aumentar a frequência do tipo de respostas que incidem sobre a solução dos problemas, especialmente na procura da colaboração de terceiros para a solução dos obstáculos (factor e). Este facto é confirmado nos Padrões Clássicos, sendo uma das respostas mais frequentes em ambos os grupos (Padrão Standard homens e mulheres). Parecem, pois, existir dúvidas nestes sujeitos "que sabotam o bom resultado dos tratamentos", podendo ser uma das causas da baixa taxa de sucesso das T.R.M.A, pois não há um empenho contínuo nos trata- mentos porque no fundo se sentem culpados e estão consequentemente "zangados" consigo próprios. |