Ronald Kyrmse                                  kyrmse@yahoo.com.br

POLÍGONOS CANÔNICOS
Ronald E. Kyrmse





INTRODUÇÃO: GÊNESE DO CONCEITO
A idéia que originou os Polígonos canônicos (PCs) surgiu informalmente ao traçar figuras sobre papel quadriculado. Despertou interesse especial uma certa classe de polígonos, cujos lados seguiam as linhas ou as diagonais das quadrículas. Adotando-se a restrição de que cada lado não deveria abranger mais de uma quadrícula, ortogonal ou diagonal, chegou-se ao conceito do polígono canônico -- canônico por ser construído de acordo com regras bem definidas, que o limitam na extensão, na forma e no número.
Um modo alternativo de conceituar o PC é através do traçado de uma poligonal fechada entre os pontos de interseção das quadrículas, sempre de um ponto até um dos 8 que lhe são adjacentes nas direções ortogonais ou diagonais, e mudando obrigatoriamente de direção a cada segmento.
Em janeiro de 1977, bem no início da atividade de geometria combinatória experimental que os criou, descobriu-se que existem apenas 8 PCs convexos -- um fato intuitivamente óbvio, uma vez que se tenha as suas representações gráficas, mas que resta ser demonstrado formalmente.

DEFINIÇÃO FORMAL
Polígono canônico é um polígono cujos lados são segmentos proporcionais a 1 (em duas direções perpendiculares entre si) e à raiz de 2 (em duas direções também perpendiculares entre si e formando ângulos iguais a 1/2 reto com as anteriores) e cujos ângulos internos são todos da forma k/2 retos, onde k = 1, 2, 3, 5, 6 ou 7. Excluem-se os casos de lados cruzados ou vértices múltiplos.

DEFINIÇÃO INFORMAL
PC é um polígono que possa ser traçado sobre um retículo quadrado plano, de tal forma que cada um dos seus lados seja lado ou diagonal de um dos quadrados do retículo; isto exclui, como lados do PC, segmentos que incluam mais de um lado ou diagonal desses quadrados. Vale a exclusão de lados cruzados ou vértices múltiplos.

IDENTIDADE ENTRE POLÍGONOS CANÔNICOS
Considera-se que rotações, translações ou reflexões no plano, mantidas as coincidências (implicadas pela definição) entre os lados e vértices do PC e aqueles do retículo, não produzem um PC diferente do inicial.

TERMINOLOGIA
Os lados curtos e longos dos PCs (de comprimentos proporcionais a 1 e à raiz de 2) denominam-se respectivamente lados ortogonais e diagonais.
Quando dois PCs apresentam ângulos internos na mesma seqüência, com os lados o e d intercambiados entre si, diz-se que um é dual do outro. Se essa transformação gerar o mesmo PC, diz-se que ele é auto-dual.

PROPRIEDADES
Definem-se a seguir algumas propriedades mórficas, dependentes apenas da forma do PC, e métricas, que envolvem medidas; estas últimas têm necessariamente ligação com a forma, podendo por isso ser denominadas de morfo-métricas. Os símbolos que acompanham os nomes das propriedades referem-se à tabela do Catálogo de Polígonos Canônicos, onde n designa o número de lados do PC e o seu número de ordem entre os de n lados.

Propriedades Mórficas:
* Fórmula de Ângulos Internos (FA): Enumeração ordenada dos ângulos internos do PC, expressos como múltiplos de pi/4, iniciando pelo maior e no sentido que resulta na expressão numérica mais alta. É seguida da(s) letra(s) o (e/)ou d, conforme o segmento seguinte ao maior ângulo interno, no sentido acima definido, seja ortogonal (e/)ou diagonal.
É útil na descrição de um PC (sem representação gráfica) e na construção dos PCs de um determinado n, para evitar duplicidades.
* Fórmula Direcional (FD): Seqüência de quatro inteiros que representam, em ordem:
- o número de lados do PC na direção ortogonal mais freqüente;
- o número de lados do PC na direção ortogonal menos freqüente;
- o número de lados do PC na direção diagonal mais freqüente;
- o número de lados do PC na direção diagonal menos freqüente.
* Dualidade (Du): +, - ou A conforme o PC seja dual do seguinte, do anterior, ou auto-dual.
* Simetria (Sm): Ay, se o PC tiver y eixos de simetria (axial); C, se tiver apenas centro de simetria (central).
* Número de Concavidades (K): Concavidade é cada um dos polígonos compreendidos entre o PC e o polígono convexo de área mínima que o circunscreve (seu envoltório convexo).

Propriedades (Morfo-)Métricas:
* Área (A): Expressa em múltiplos da área do quadrado fundamental do retículo.
* Perímetro (P): Expresso em múltiplos do lado do quadrado fundamental do retículo.
* Diâmetro (D): Distância máxima entre vértices do PC.
* Relação Área/Diâmetro (A/D): Quociente entre A e D, nas unidades acima.
* Relação Perímetro/Diâmetro (P/D): Quociente entre P e D, nas unidades acima.
* Convexidade (C): Razão entre a área do PC e a do seu envoltório convexo.
* Fração Quadrática (f): Fração da área do PC constituída de quadrados do retículo.
Um valor menor de f denota um PC mais "filiforme".

CONSTRUÇÃO
Foram objetos de trabalho duas abordagens que visam a construção de todos os PCs com um determinado número de lados n:
* Construção por Segmentos: Busca construir todas as poligonais fechadas -- com as restrições canônicas -- com n segmentos(#).
* Construção Recursiva: Constrói PCs de n lados a partir dos de n-1 lados, acrescentando-lhes ou subtraindo-lhes triângulos canônicos convenientemente situados.

TEOREMA A DEMONSTRAR
* É possível construir todos os PCs de n lados a partir dos de n-1 lados pelo processo recursivo, para todo n > 4.

CATÁLOGO
O Catálogo de Polígonos Canônicos contém:
* Uma tabela que demonstra as propriedades mórficas e (morfo-)métricas dos PCs (até n = 9) ordenados pela FA;
* A representação gráfica (até n = 9) normalizada (o sentido de rotação, considerando os ângulos na seqüência da FA, é horário; o primeiro lado do primeiro ângulo tem sentido leste ou nordeste), com indicação de:
    * eixos e centros de simetria;
    * dualidade.

(#) Quandtet al. -- Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis / SC / Brasil

Vide também: Eric Weisstein's World of Mathematics
Correspondência sobre PCs
 

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