Miguel Torga - O segundo maior poeta português do século XX. Se Fernando Pessoa sofreu psicologicamente a censura salazarista, que muito contribuiu para o seu aniquilamento  » , Miguel Torga a sentiu na pele: foi prisioneiro, entre Dezembro de 1939 e Fevereiro de 1940, nas prisões políticas do Limoeiro e do Aljube, o mesmo onde "Carlos Duarte" encontrou a sua "redenção" e "salvação" nas mãos da "valquíria Marilia"  » . Nada disso impediu ao poeta de escrever belíssimos poemas como este acima dedicado a Federico García Lorca, que é acompanhado de outro dedicado a Dolores Ibarruri, La Pasionaria (transcrito abaixo), ambos surgidos durante o auge das ditaduras salazarista, em Portugal, e franquista, em Espanha.
Miguel Torga é o pseudónimo do médico otorrinolaringologista Adolfo Rocha, nascido em 12 de Agosto de 1907, em São Martinho de Anta, em Trás-os-Montes, no Nordeste de Portugal. Torga, o mesmo que queiró ou urze, é o nome dado à planta silvestre que nasce sobre as rochas, o que ajuda a compreender o sentido do poema dedicado a Lorca, também bem expresso no poema Flor da Liberdade, igualmente incluído abaixo.
Ao contrário de Fernando Pessoa, citadino e emigrante na África do Sul, esteve sempre ligado ao interior e foi emigrante no Brasil, durante a sua juventude. Entre 1920 e 1925 trabalhou na fazenda de um tio naquele país, retornando em seguida para terminar os estudos liceais e graduar-se em Medicina pela Universidade de Coimbra, onde viveu e exerceu a sua actividade profissional, iniciada como médico-rural.
Também foi colaborador da revista literária Presença, da qual desligou-se em 1930, vindo a fundar as revistas Sinal (um único número em 1930) e Manifesto (1936-38). Foi um dos poucos intelectuais portugueses que viajou por Espanha durante a Guerra Civil, em 1937. A sua prisão em 1939 deveu-se em especial à publicação de O Quarto Dia da Criação, uma das suas séries em prosa, onde se destacam os seus Diários (16 volumes, 1941-1994), que também incluem poemas. Os trabalhos em prosa mais conhecidos são O Bichos (1940) e Contos da Montanha (1941).
A obra poética, em geral reunida num único volume, é composta por Rampa (1930), Tributo (1931), Abismo (1932), O Outro Livro de Job (1936), Lamentação (1943), Libertação (1944), Odes (1946), Nihil Sibi (1948), Cântico do Homem (1950), Alguns Poemas Ibéricos (1952), Penas do Purgatório (1954), Orfeu Rebelde (1958), Câmara Ardente (1962), Poemas Ibéricos (1965). Também escreveu quatro peças de teatro e ensaios. Os seus livros têm sido traduzidos em todo mundo desde começo da década de 1950.
Miguel Torga faleceu em Coimbra em 17 de Janeiro de 1995.