Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor de um navio em movimento.
E como ave, ficar parada a vê-la.
E como flor qualquer odor no vento.
Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.
Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada p' lo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.
Deixem ao dia a cama dum domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa num flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre.
Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o Amor por fim tenha recreio.