POR LEANDRO ANDRADE E MÔNICA MANFRINI

Memórias: Podemos começar nossa entrevista Anselmo?

Anselmo Duarte: Primeiro, gostaria de esclarecer que nos últimos anos, em virtude da modernização dos cursos superiores de comunicação, graças aos geniais computadores, a didática informativa eletrônica encontrou o seu melhor emprego no jornalismo que, encurtando distâncias, facilitou as pesquisas e enriqueceu arquivos. Na Internet ganharam considerável ênfase matérias dedicadas às artes, principalmente o cinema, com seus realizadores, origem, história e obras.  Sempre tive imenso prazer de conversar com estudantes, desde o primário até o universitário. Transmito meus conhecimentos técnicos e artísticos, experiências e vivencias em 50 anos de profissão a cinéfilos e estudantes de comunicação de muitas universidades do Brasil sem nada cobrar, sem nada receber - apenas pelo prazer de exercer com dignidade a cidadania. Em conseqüência disso, também triplicaram os telefonemas, fax, entrevistas e reportagens em busca de matérias, de idéias que iluminem seus múltiplos caminhos. Palavras e histórias que enriqueçam seus trabalhos de obrigação acadêmica ou vocacional, que às vezes duram dias inteiros para realizá-los. Colegas de profissão, profissionais da imprensa criticam: o Anselmo perde tempo com os estudantes, cujo trabalho de circulação interna não são veiculados na grande imprensa. Respondo-lhes: Além do prazer de trocar idéias com os jovens, sinto-me feliz e gratificado quando recebo deles trabalhos realizados que mereceram nota 10 e formaram-se com distinção.

M: Sua vida foi construída graças ao cinema? O senhor é um homem rico? 

A.D: Foi. Hoje, vivo muito bem, mas não sou rico. Gastei muito com a criação e educação dos meus quatro filhos. Hoje tenho netos e bisnetos.

M: O senhor foi o galã da Vera Cruz. Era muito namorador e assediado? Em alguma ocasião se apaixonou por uma atriz? 

A.D: Nas décadas de 40,50 e 60 fui muito assediado pelas fãs, mas fui um namorador inconseqüente. Sou romântico e fiel à esposa. Respeito e amo minha família. Em mais de 40 anos de trabalho como ator ou diretor só uma vez me apaixonei por uma atriz. Casei-me com ela, Ilka Soares.

FOTO/ REPRODUÇÃO   

A.D, Ilka Soares e o  recém nascido Anselmo Duarte Junior. (Out.1954)

M: Surgiram muitos convites para o senhor dirigir no exterior depois que ganhou o prêmio em Cannes? Por que nunca aceitou? 

A.D: Recebi sim, Estados Unidos, França e Índia. Não fui por causa dos meus filhos que hoje estão criados, adultos. Penso em ir viver na França.

M: Por que os críticos sempre tinham algo para falar sobre a Vera Cruz? E porque criticavam tanto os seus filmes? 

A.D: No início todos elogiavam. Os que conseguiram entrar para os departamentos de roteiro, publicidade e relação pública, continuaram elogiando. Os outros, frustrados, malhavam. Quem criticava meus filmes, depois da Vera Cruz, eram alguns moleques do Rio de Janeiro, que invejavam os prêmios conquistados por mim internacionalmente, e como não sabiam nada de cinema voltaram para as suas antigas profissões, me deixaram em paz e, os que não morreram, estão me pedindo perdão. Um pouco tarde!

 

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