1. Espaço.

 


      Espaço é um conceito abstrato, "é mais abstrato do que o de 'lugar'," (Augé, 1994: 77); precisa ser vivido, cotidiano, para ter significado; precisa ter um complemento para a compreensão mais completa... como no nosso caso: espaço da Internet e espaço das relações face-a-face. Espaço é um lugar onde algo acontece, palco para atuações, ambiente para representações. A contemporaneidade parece ter colocado as pessoas em uma nova relação com o espaço onde elas agem. No entanto, como veremos adiante, o ambiente (no espaço) é uma categoria que influencia o comportamento dos indivíduos, assim como é influenciado pelo comportamento dos mesmos; logo, não é de se estranhar que os espaços (ou as noções sobre o mesmo) na contemporaneidade modifiquem suas concepções e também os comportamentos dos indivíduos neles inseridos. Em Georg Simmell (1993) o espaço está pensado basicamente em termos de associação e dissociação, de exterioridade e de interioridade enquanto disposição do homem perante a natureza (contexto) que ora transforma em paisagem (ambiente). Esse espaço é visto como o lugar (ou lugares) onde se dão as relações entre os indivíduos. Relações essas basicamente de troca (de todos os tipos). Em textos que falam sobre espaço, Simmell (1993) formula uma analogia com "a ponte", um lugar que serve tanto para entrada como saída e que tem o grande potencial de sediar encontros entre direções opostas: os eus ou nós de uma cidade, por exemplo, e os outros, os estrangeiros, os eles de uma cidade vizinha. Transportando esta analogia para o nosso objeto, podemos imaginar que a Internet é a ponte (ou porta) que vai ligar os eus com os outros; os eus vão poder sair e os outros vão poder entrar. Já anunciando que uma das hipóteses que levam esta investigação é que os indivíduos que se socializam fazem parte de um contexto onde os "espaços públicos" estão em decadência (Sennett, 1976) e que as pessoas estão se "encastelando" em seus pequenos mundos isolados (Revista ISTOÉ, nº1549, Junho/1999), e que por isso a Internet pode representar ou ser interpretada como um novo espaço para sociabilidade. Mas, como é o espaço da Internet? Fisicamente, a Internet seria simplesmente um espaço de troca de impulsos eletrônicos (bits) , mas, simbolicamente, é espaço de troca, de relações entre mentes, consciências ou subjetividades, já que os corpos das pessoas estão afastados, a priori, pois podemos imaginar e perceber a importância da interpretação simbólica da realidade para as pessoas. São as representações construídas sobre o que é vivido que dão sentido ao que elas vivem. O que elas vivem só tem sentido para elas no momento em que se transforma em representação. A Internet é um espaço de representações e de trocas de múltiplas consciências, que, apesar de seus corpos estarem distantes, elas parecem se sentir juntas. Como diz Manuel Castells: "A Internet é real como a própria vida." (Entrevista, Revista ISTOÉ, nº1549, Junho/1999) A Internet é um espaço que não é um espaço da maneira como vemos tradicionalmente; é um processo com características de espaço de fluxo e de interação, de troca. Ou, como diz Lemos: "Mesmo sem ser uma entidade física concreta, pois ele é um espaço imaginário, o espaço da Internet constitui-se em um espaço intermediário. Ele não é desconectado da realidade mas, ao contrário, parte fundamental da cultura contemporânea. O espaço da Internet é assim um complexificador do real." (Lemos, A., 1996, on line) Entrar no espaço da Internet é vivenciar a linguagem, os códigos e os caminhos que ele possibilita de informação, comunicação e sociabilidade.


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