Prólogo

Benvindos à minha imaginação...

Nessas páginas vocês encontrarão a essência de meus pensamentos, minhas ideologias, meus sonhos mais secretos...

De resto, a vida se reduz a acontecimentos, seqüência de fatos mais ou menos relacionados e encadeados, e que se entrelaçam para compor a trama de nossa história, particular e única.

Nasci em uma pequena cidade do interior, de onde nada levei além de minha naturalidade. Passei, no interior, a minha infância e adolescência, que me deixaram suas marcas em meu sotaque, nas idéias simples, no amor à natureza, no prazer de estar só...

Estudei em escolas públicas, como era usual naqueles tempos, até mesmo porque minha primeira mestra foi também a minha mãe, que lecionava naquelas salas de aula de Dracena, que mais pareciam palafitas em suas estacas de madeira, seu pátio de terra batida, a "casinha" da fossa, os folguedos de infância: o pega-pega, o roda-pião, o bilboquê, a pipa, o estilingue, as cirandas...

Com ela, minha mãe e professora, aprendi a ser organizado, limpo, honesto e decente, assim como também meu pai me ensinou, e deram de si o meu melhor exemplo. Deles também aprendi a buscar o Conhecimento e a Verdade, a ser humilde e saber que esse seria um caminho sem retorno, e sem fim...

Belas lições me ensinavam...

Em Ribeirão Preto, já adolescente, perdi minha pureza, na arrogância de sua sociedade. Lá, pela primeira vez, percebi a injustiça social e a opulência daqueles que se enriqueceram às custas da exploração e do sacrifício dos povos oprimidos...

 

Era a minha primeira lição de Marxismo, ideologia que me conduziu o pensamento naqueles negros anos de 68 a 75...

Li muitos livros em minha juventude... centenas deles... Enquanto meus colegas se divertiam nos bordéis e nas farras, eu me perdia nos sonhos e ilusões do pensamento...

Alucinado pela idéia de entrar para uma boa faculdade, deixei as minhas noites insones à disposição dos estudos, bruscamente interrompidos pela obrigação de prestar o serviço militar.

 

Em 1969 entrei para o CPOR, Batalhão de Engenharia, acreditando em compreender as razões e a arte das guerras...

Ledo engano ! Não sobrevivi a esse massacre intelectual...


Entrei para a Escola Politécnica, mais interessado nos movimentos estudantis que nas ciências da edificação do conhecimento tecnológico. No ano seguinte, deixei a Poli pela Literatura: seduzi-me pelos Estudos Orientais, onde cursei, com entusiasmo, Lingüística, Teoria Literária, Língua e Literatura Japonesa, História do Japão, da Índia e do Extremo Oriente, e outras disciplinas complementares ao meu currículo humanístico.

Lá conheci as mais belas figuras humanas que povoaram a minha vida, e das quais perdi as pegadas no meu caminhar... Haruka... Kikuyo... Luiza... Satiko... Masako... Lídia... Sakae... Hinata... Ana Maria... Akira... Teiiti... Paulo... Naomi... Taeko... Ikegami... Aiko... Miyako... tantas são... onde estarão ?

Muitos nomes perdi pelo caminho... que pena...

Nas lutas contra a ditadura forjei o meu caráter e minha ideologia, e maculei meu espírito com a dor da perda de tantos amigos... Lenine... Bete... Vicente... o que fizeram de vocês ?...

Comecei a trabalhar tarde, aos 23 anos, em uma empresa de comércio exterior, na qual perdi minha ingenuidade quanto aos honestos princípios herdados de meus pais... a corrupção dos despachantes aduaneiros me induziu a evadir-me, decepcionado, após apenas 30 dias desse primeiro emprego.

 

Em 1973 me iniciei em processamento de dados, por um arranjo do destino. Procurava um emprego como redator, ou revisor, ou qualquer outra coisa que se relacionasse de algum modo com meus interesses literários, até que, após meses dessa busca inútil, uma agência me informou:

"Nessa área você não encontrará nada; mas temos um emprego de operador de computador. Você aceita ?"

Aceitei.

 

E para o resto de meus dias tive de amargar o título de Informata, misto de homem e de máquina, ser nefasto, mergulhado na mais avassaladora tecnologia massificante já surgida ! Fui programador e analista de sistemas, produzindo soluções para o Capital, que ironia !

 

Como todos, me casei; mas somente como poucos, fui feliz e me apaixonei completamente; primeiro por minha Mory, e depois, pelas minhas Harumi e Yuri, razões mais expressivas de toda a minha existência !

Já tive uma empresa, meu sonho de projeto, o projeto de meus sonhos, a Engenho & Arte, Trabalho e Criação, integração humanística do Capital com a Genialidade que existe em cada Ser Humano. Fui arrasado pelo Mercado !

 

Faltaram-me, exatamente, a Garra e a Ambição capitalistas !

E, agora, cá estou, poeta e filósofo, a tratar minha vida a partir do intelecto, do circunspecto ser que habita as entranhas do Homem...


E é só...