A Banda do Corpo de Bombeiros soava com uma maciez de interpretação inesperada numa banda militar e, ao contrário das outras, com surpreendente rendimento técnico de gravação. Isto talvez porque seus componentes, além de excelentes músicos, todos grandes chorões, não se prendiam às formas rígidas de execução das músicas importadas que tocavam. Improvisando sobre os temas, foram aos poucos dando caráter brasileiro às polcas, xotes, mazurcas, habaneras, até que todas se tornassem choros, como de fato se tornaram.
As outras bandas, mesmo nas peças mais alegres, produziam um som duro e marcial de uma verdadeira banda militar, em parte talvez pela quantidade de instrumentos de sopro os quais treinados apenas para tocar estrondosamente nas aparições em público, não conseguiam traduzir o verdadeiro espírito da música popular de então, ditado pela inspirada criatividade dos músicos de choro.
Estas bandas, de toque marcial, supriam as necessidades dos técnicos estrangeiros que operavam os precários equipamentos de gravação e não percebiam e nem estavam interessados nas diferenças de interpretação. Sabiam apenas que elas facilitavam uma melhor qualidade no rendimento final, do que as outras gravações que eles faziam com cantores e conjuntos de flauta, violão e cavaquinho.
Fred Figner, que certamente teve o propósito de economizar o custo das orquestrações e baratear as gravações, jamais poderia imaginar a contribuição incalculável que estava dando à cultura popular do Brasil.
CASA EDISON
Em meados de 1913 um incêndio destruiu as instalações da Casa Edison, na Rua 7 de Setembro, nº. 90, no Rio de Janeiro.
Logo em seguida ou mais precisamente a 1º de outubro de 1913, foi fundada a firma Júlio Bohm e Cia., estabelecida à rua da Assembléia, 71, registrada na Junta Comercial sob o nº. 69432 e tendo como sócios Júlio Bohm, cunhado de Fred Figner e ex-gerente da Casa Edison incendiada e Gustavo Figner, irmão de Figner e dono da Casa Edison em São Paulo.
A firma tinha como objetivo a importação de gramofones e fabricação de discos musicais. Eram os discos PHOENIX. Na época comentou-se que o nome PHOENIX, se traduzido literalmente, trazia um significado especial: saído ou renascido das cinzas. O selo PHOENIX foi lançado em 1914, fabricado por Savério Leonetti, de Porto Alegre-RS, exclusivamente para a Casa Édison, de Gustavo Figner em São Paulo.
FÁBRICA ODEON
O fato realmente decisivo no panorama discográfico e musical brasileiro foi o aparecimento da Fábrica Odeon, surgida como prolongamento natural do relacionamento desenvolvido, desde 1901, entre a International Talking Machine e Fred Figner.
Ligada ao grupo Carl Lindstrom, a fábrica brasileira fazia uma das pontas do complexo mecanismo internacional de registro sonoro. Ligação estabelecida pouco antes da primeira guerra quando o grupo Lindstrom adquiriu o controle da International Talking Machine na disputa para ampliar sua área de ação de forma mais direta, através da aquisição de selos de disco com aceitação comercial indiscutível, como por exemplo Odeon, Beka, Parlophon, Favorite e outros.
Ao encampar a International Talking Machine, a Carl Lindstrom conservou a formação original onde o capital francês majoritário tinha imposto a marca Odeon à todos os produtos. Imposição mantida na fábrica brasileira que chamou-se Odeon e os discos, hoje conhecidos como da Casa Edison, também eram Odeon.
A comprovada capacidade de absorção do mercado brasileiro demonstrada por Figner, através da venda de 840.000 discos em apenas um ano, é que deu origem e justificou ao grupo Lindstrom a montagem da fábrica. E o depoimento é o próprio Figner quem nos dá: "No primeiro ano que tomei conta do meu negócio, vendi 840 mil discos e tive um lucro líquido de 700 contos."
Este primeiro ano a que ele se refere é o período entre 1911 e 1912, depois da volta da Europa, onde passou um ano e seis meses com a família. A tendência do mercado era crescer a cada ano, o que de fato aconteceu.
Fonte: Livro "Registro Sonoro por Meios Mecânicos do Brasil", de autoria de Humberto M. Francheschi, Editora Stúdio HMF Ltda. - 1984.
Colaboração de Ivan Dorneles Rodrigues - PY3IDR
e-mail:ivanr@cpovo.net