RESPIRAÇÃO HUMANA - Tese de Doutorado - Simão da Cunha Pereira - 1847

 

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de seu peso de água, e que o outro 1/4 encerra somente mais de metade de seu peso em carbono, 6 1/4 libras destes alimentos seriam necessárias para substituir a quantidade de carbono, que a respiração expeliria no espaço de 24 horas, sem contar as outras excreções. Há porém quem reconheça a possibilidade de ainda maior exalação de ácido carbônico pulmonar. Milne Beudant e Jussieu, no seu compêndio de zoologia para colégios, estabelecem que, contendo o sangue venoso 1/5 de seu volume de ácido carbônico, e podendo ser avaliada em quase 250 polegadas cúbicas a quantidade que num minuto atravessa os pulmões, por eles passam conseguintemente 50 polegadas cúbicas de ácido carbônico, e assim fácil é de conceber a possibilidade de serem expulsas até 27 polegadas cúbicas num minuto, como eles marcam. Todos os experimentalistas, porém, à exceção de Allen e Pepys, concordam que a expulsão do ácido carbônico é menor que a absorção do oxigênio. A discordância de
Allen e Pepys a este respeito provem talvez de considerarem o ar inspirado puro de ácido carbônico, o que não podia deixar de arrastar grande diferença nos resultados.

Resta agora estudar estes fenômenos em si mesmos, ou melhor, a teoria da hematose.

As hipóteses dos iatromatemáticos e dos vitalistas puros, para explicar a hematose só como recordação histórica figuram ainda nos anais da difícil e importante ciência da vida. Também o que a seu respeito será aqui dito é que elas existiram. Outro tanto se não deve dizer da teoria de Lavoisier, cuja falsidade aliás será demonstrada, pois que nela as explicações casam tão bem com muitos dos fatos, que, para ser destruída, foi preciso que Magnus, esse astro da fisiologia experimental na sábia Alemanha, e outros fornecessem, nestes últimos anos, dados que a ciência anteriormente não possuía.

Na verdade, a hipótese da combustão no ato respiratório robustecia-se grandemente pela analogia de seus resultados com os da combustão ordinária, assim como pela identidade de seus agentes; mas, como ela estabelecia nos pulmões a formação do ácido carbônico e vapores aquosos expirados à custa do oxigênio inspirado, quando a prévia existência desses princípios no sangue venoso acha-se agora cabalmente provada, teve ela por seu turno de ceder o lugar elevado de que com justiça gozou na opinião dos sábios. Algumas outras hipóteses mais ou menos razoáveis, mais ou menos justificadas pelos fenômenos, verdadeira pedra de toque das teorias, foram posteriormente apresentadas por homens de merecida reputação. H. Davy acreditou que o ácido carbônico era expelido dos glóbulos sangüíneos pela ação decomponente que sobre eles exercia o oxigênio, que, levado pela inspiração, ia no sangue dissolver-se, e depois, unindo-se-lhes em virtude de sua afinidade química, dava ocasião a libertar-se o ácido carbônico. Ele admitia à vista de suas experiências sobre a respiração do gás óxido-nitroso e do gás hidrogênio, que mesmo do sangue venoso se exala um