OS DONS DE SANTIFICAÇÃO DO ESPÍRITO - Parte 2
2 - 1o Dom: O Temor de Deus
2.1 - Natureza do Dom do Temor de Deus
Há várias espécies de temores: o temor mundano, o temor servil a Deus e o temor fi-lial a Deus. Destes, só o último é o Temor de Deus.
O temor humano é o medo que se sente com relação a criaturas ou situações munda-nas. São temores humanos o medo de pessoas, como a mulher que teme o marido ou o marido que teme a esposa, os filhos que temem o pai ou a mãe, os alunos que temem os professo-res... São temores às situações mundanas, por exemplo, o medo de andar de elevador, o medo do escuro, o medo de tempestades, etc. Incluem-se ainda nesta classe os medos su-persticiosos, como o medo de passar embaixo de uma escada, o medo de ver um gato preto cruzar o caminho, o medo do dia 13... Os temores ou medos mundanos originam-se de trau-mas. Podem desaparecer pela oração de cura interior ou por tratamentos psicológicos ade-quados.
O temor servil é principalmente o medo de ser castigado por Deus, de ir para o in-ferno. Esse temor é gerado pela idéia de um Deus que nos vigia constantemente, pronto a nos castigar pelas nossas faltas. E isso nos inquieta, agita, deprime. O temor servil pode afastar-nos do pecado, mas é um temor imperfeito, porque não se baseia no amor de Deus.
O temor de Deus é filial. É o temor de nos afastar do Pai que nos criou e que nos ama, de ofender a Deus que, por amor, sempre nos perdoa. O filho que ama o pai não quer ficar longe dele nem fazer algo que o possa magoar. É um temor nobre que brota do amor. Um temor filial, perfeito e amoroso.
O temor de Deus é um dom do Espírito Santo que nos inclina ao respeito filial a Deus e nos afasta do pecado. Este compreende três atitudes principais:
1 - O vivo sentimento da grandeza de Deus e extremo horror a tudo o que ofenda sua
infinita majestade;
2 - Uma viva contrição das menores faltas cometidas, por haverem ofendido a um
Deus infinito e infinitamente bom, do que nasce um desejo ardente e sincero
de as reparar;
3 - Um cuidado constante para evitar ocasiões de pecado.
2.2 - Como Receber esse Dom
O primeiro passo para se receber o dom do temor de Deus é cultivar a virtude sobre-natural da temperança, virtude pela qual se moderam os prazeres sensíveis. Uma das formas de temperança, provavelmente a principal delas, é a humildade. Esta é a moderação da própria excelência.
Jó nos diz: "Pois Deus abaixa o altivo e o orgulhoso, mas socorre aquele que abaixa os olhos." (Jó 22,29).
No Novo Testamento, Maria diz no Magnificat: "Manifestou o poder do seu braço, desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humil-des." (Luc 1,51-52).
Paulo, escrevendo aos cristãos de Éfeso, diz: "Exorto-vos, pois, que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados, com toda a humildade e amabilidade, com gran-deza de alma, suportando-vos mutuamente com caridade." (Efe 4,1-2).
2.3 - O Temor de Deus como Abertura aos Outros Dons de Santificação
"O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é a inteli-gência." (Prov 9,10)
"Aqueles que temem o Senhor não são incrédulos à sua palavra, e os que o amam per-manecem em sua vereda. Aqueles que temem o Senhor procuram agradá-lo, aqueles que o amam satisfazem-se na sua lei. Aqueles que temem o Senhor preparam o coração, santificam suas almas na presença dele. Aqueles que temem o Senhor guardam os seus mandamentos." (Eclo 2,18-21a)
2.4 - Dom que nos Aproxima de Deus
"E agora, ó Israel, o que pede de ti o Senhor, teu Deus, senão que o temas, andando nos seus caminhos, amando-o e servindo-o de todo o teu coração e de toda a tua alma, obser-vando os mandamentos do Senhor e suas leis, que hoje te prescrevo, para que sejas feliz?" (Deu 10,12-13).
"Esteja em vós o temor do Senhor, para o servirdes, e obedecerdes a sua voz e não vos rebelardes contra as suas vontades! Que vós sejais, vós e vosso rei, dóceis ao Senhor, vosso Deus!" (I Sam 12,14).
"Vale mais o pouco com o temor do Senhor, que um grande tesouro com a inquieta-ção." (Prov 15,16).
"Assim, possuindo nós um reino inabalável, dediquemos a Deus um reconhecimento que lhe torne agradável o nosso culto com temor e respeito." (Heb 12,28).
2.5 - Efeitos do Temor de Deus
"O temor do Senhor expulsa o pecado." (Eclo 1,27).
"Aquele que teme o Senhor não tremerá. De nada terá medo, pois o próprio Senhor é sua esperança." (Eclo 34,16).
"Nada falta aquele que tem o temor do Senhor. E com ele não há necessidade de outro auxílio." (Eclo 40,27).
Diante da Majestade Divina, sentimo-nos no dever de obedecer, evitando atos que poriam em risco nossa vida espiritual, moral e física. Sentimo-nos compelidos não só a fazer o bem para agradar a Deus, mas também a purificar-nos, tornando-nos cada vez mais santos.
"O grande, o justo e o poderoso recebem homenagens, mas ninguém é maior do que aquele que teme a Deus." (Eclo 10,27).
2.6 - Promessas de Deus Àqueles que o Temem
Deus manifesta piedade e compaixão aos filhos que têm o temor do Senhor. "É ele que perdoa as tuas faltas e sara as tuas enfermidades. É ele que salva tua vida da morte e te coroa de bondade e de misericórdia." (Salm 102,3-4).
"Aquele que teme o Senhor não será surpreendido por nenhuma desgraça. Mas Deus o protegerá na provação e o livrará de todo o mal." (Eclo 33,1).
No Magnificat, Maria canta a misericórdia de Deus para os que o temem: "Sua mi-sericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem." (Luc 1,50).
2.7 - O Temor de Deus na Vida dos Santos
São Luiz Gonzaga chorava e se afligia quando constatava que havia cometido alguma falha, por menor que fosse. As faltas, sob a ação do dom do temor de Deus, indicavam-lhe uma separação de Deus.
Santa Teresinha de Jesus escreveu no seu livro "Caminho da Perfeição": "Devemos encher nossas almas com o santo temor de Deus. É uma questão de vida ou morte. Enquanto não se abrirem a esse dom, tenham sempre muito cuidado. Fujam das conversas que não se-jam de Deus. É bom saber que haverão algumas quedas, devido a nossas fraqueza. Não po-demos confiar em nós mesmos, mas somente de Deus há de vir nossa confiança".
Jesus disse à Santa Catarina de Sena que todas as penas que a alma suporta ou possa suportar nessa vida não bastam para punir nem mesmo a menor falta. Disse ainda que a ofensa feita a ele, Bem Infinito, exige uma satisfação infinita.
Essa verdade foi compreendida pelos santos, que se angustiavam amargamente pelas sua menores faltas e jamais achavam ter feito o bastante para as reparar.
- Parte 3
Escreva para nós! Cartas para Rodrigo Carioca e Vitor Clemente.
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