Web-psicanalista : Polá Scalzo
Polá Scalzo é uma dessas raridades que trombamos
de repente por aí, por
sorte e, que, pelo simples fato de presença perto, nos
faz sentir a vida
mais vibrátil, mais suave, mais doce... Divertida, cuja
beleza pode ser
conferida dentro (na entrevista) e fora (foto), psicanalista,
web-artista,
musicista, orientadora do Centre dAuto-Apprentis Sage orienté
, entre
outras tantas grandezas impossíveis de serem bordadas aqui
dado o volume,
vale retratar ainda sua participação(1996-1998)
nas Conferências
Internacionais de Psicanálise em São Paulo, com
J. A. Miller, Colette Soler
e Eric Laurent.
Desfrutando de sua conversar entre risos e gargalhadas, a simplicidade,
criatividade e amabilidade intermediou o revestimento do gigante
de sua
pessoa, aqui resumida em suas palavras de entrevista, ao nosso
querido
leitor mato-grossense...
Curvo = Olá Polá! Conta-nos como nasceu a Art_Lit_Psi.
Scalzo = Certo dia abri meu mail e tinha lá um anúncio
da Geocities dizendo
que eu tinha ganho uma URL. Eu não fazia a menor idéia
do que fosse uma URL,
mal sabia o que era internet, home o quê? web-espaço?
o quê? alô?
Mas achei interessante ter um "lugar" (ah, sim, url
é endereço virtual) onde
ancorar meu currículo, divulgar meu trabalho. Então
pensei: quem vai querer
saber sobre meu currículo? Preciso fazer algo que interesse/sirva
às pessoas
para que então queiram saber quem é responsável
por aquilo. E foi assim que
comecei a contribuir para a divulgação de informações
na rede...
Curvo = E a Psicanálise, como entrou? Aprecio muito
o vínculo da Arte e
Literatura com a psicanálise. Sua revista Art_Li_Psi embriagou
os meus
olhos. Ela consegue colocar no cardápio a psicanálise
de forma clara, limpa,
divertida e prazerosa. Poderia falar-nos sobre isso?
Scalzo = Percebi uma brecha na interseção da psicanálise
com a literatura e
com a arte de uma maneira em geral. Comecei a visitar sites para
ter idéias,
conhecer as possibilidades, as faltas. Vi muitos sites acadêmicos,
com
textos cheios de referências, mas, desculpe a simplicidade:
chatos! Era por
onde começaria: algo nessa fronteira (arte&literatura&psicanálise),
sem ser
chato.
Os textos, links, imagens, sons etc foram se acumulando e naturalmente
se
organizando em seções. A participação
dos leitores contribuindo, cada dia
mais, para a atualização dos assuntos, dados, agenda
e por fim virando
compromisso sério.
Curvo Como você vislumbra a imagem da internet,
em per si ?
Scalzo = A Internet é coisa muito nova. Ninguém
sabe nada ainda sobre isso,
todos estão começando e acho que vai ser assim por
muito tempo, pois há
muitas possibilidades. Observo muito as grandes revistas e percebo
que ainda
não chegaram a um acordo sobre o tipo de apresentação
da página,
funcionamento lógico do site, ter ou não páginas
reservadas, permitir ou não
a impressão etc. Frequentemente mudam, estão descobrindo.
E não pode ser
diferente, pois quem consome também está chegando
agora. Assim, o melhor
também tem que ser o mais simples logicamente (funcionamento)
e
appletmidimente (compatibilidade de browsers) falando...
Curvo = E sobre a interseção arte&literatura&psicanálise?
Nossa coluna da
psiquê se encantou, e já publicou, sua bem humorada
interseção com Raymond
Queneau, Exercícios de Estilo... Poderia falar mais sobre
isso?
Scalzo = Não se trata de forjar uma relação
entre as áreas ou falar em
arte-terapia ou psicanalisar poemas. Mas apenas reunir elementos
que toquem
em um ou mais pontos dessas áreas. Exemplo: o texto do
Queneau, Exercícios
de Estilo, de que gostou tanto. É um texto de literatura,
de um poeta que
foi citado por Lacan, um psicanalista, e que aparece na quarta
capa de seu
seminário que acaba de ser estabelecido por J-A. Miller
e lançado aqui no
Brasil (Les formations de L'inconscient, Le Seminaire, livre V
ou As
Formações do Inconsciente, Seminário V).
Sei que por aqui não conhecemos
muito Raymond Queneau, mas quando Lacan pensou em perguntar sobre
o Witz
(chiste, tirada espirituosa -q é dos temas centrais do
seminário), foi a
este autor que recorreu.
Curvo = É curioso observar comentários enviados
de leitores turistas na
psicanálise, por mails, quando publicamos esse seu
artigo de Exercícios de
Estilo, de Queneau. Indagações e reflexões
amarrando lindamente comentários
sobre hipóteses de insight, estalos de
idéia em comentários de uma
verdadeira Escuta na Psicanálise, pois que não tinham
contatos com leituras
ou saber do gênero ... Foi por aí mesmo que pretendia
se enveredar ?
Scalzo = Quis apresentar o escritor aos nossos psis e aos não-psis
também.
Além disso, o livro é uma aula de "Leitura".
Penso também ser uma aula de
"Escuta". Traz conhecimento, mas de uma forma cifrada,
assim como a análise
ou a música. É também um dos objetivos da
revista: cifrar, trazer enigmas,
fazer pensar.
Desta forma, os neologismos (espígrafe, divã flutuante)
passam a compor o
cenário provocando o leitor. Dizem sem dizer, na palavra
que falta ou com
uma imagem intrigante. Tem arte nesse tipo de transmissão,
ou seja, ela
conta bastante com a leitura do outro pra se completar.
Tem também texto sério.
Tem bobagem.
Tem nonsens e pode até se fazer um pas-de-sens, como diz
Lacan, um "passo de
sentido".
Tem quadrinhos, lugar lúdico onde podemos rir com significantes
do cotidiano
do mundo psi.
Curvo = E da interseção da net com a psicanálise?
Como é, está essa relação?
Atendimento, como é isso? Outro dia um amigo me abordou
pergunta a esse
respeito... Posso aproveitar este espaço para responder
a referida pergunta
a mim solicitada...?
Scalzo = Claro! Sobre atendimento on-line, concordo com Elisa
Sayeg, nossa
colaboradora, que trata o assunto de forma clara e precisa em
um texto do
jornal do CRP (linkado à Art_Lit_Psi): não se pode
oferecer esse tipo de
serviço, a não ser de forma experimental, já
que não temos ainda certeza da
eficácia. Nesse mesmo texto ela aborda as dificuldades
práticas e de sigilo
do meio. Eu, particularmente, não me interesso por esse
tipo de pesquisa,
pois sou mais o tête-à-tête, sem web-intermediários.
Curvo = Então, onde entra a internet pra psicanálise
e a psicanálise pra
internet?
Scalzo = Acho que a primeira relação é mais
fácil de se responder.
Identifico dois vetores principais:
1 -divulgação de informações em revistas,
bibliotecas, bancos de dados,
web-sites pessoais (homepages) e sites de organizações
institucionais e 2 -
listas de mails. A facilidade de divulgação de informações
contribui tanto
para a pesquisa em uma área especificissíssima quanto
para nos darmos conta
da quantidade de diferentes mundos psis ou mesmo lacanianos existem.
É um
instrumento que nos dá a informação sobre
o grão de areia e a visão
panorâmica do deserto. Temos acesso a uma tese de um fulano
da cidade de tal
pois temos a referência exata que alguém nos deu
e ao mesmo tempo caímos sem
querer (-querendo, como diria o Chaves e apoiaria Freud) em um
novo
horizonte, nunca dantes web-navegado.
Poder consultar essa biblioteca imensa é uma revolução.
Outra é a famosa
"lista". A "lista" é revolucionária?
Creio que sim. Além de compartilhar
informações em comunidades, ela também pode
agir como catalisador de
processos políticos. Gostaria de lembrar que catalisadores
não alteram
quimicamente a reação, mas agem no tempo, acelerando
ou retardando a mesma.
Curvo = Poderia citar um exemplo para clarear melhor esse discurso
para o
meu leigo-leitor de olhar obliquo, desacomodado em sua confortável
poltrona?
Scalzo = ok! Vejamos um exemplo, sem citar nomes, para não
se transformar em
uma leitura partidária. Imaginem uma instituição
formada por membros. No
caso de uma crise e posterior separação de membros,
com a internet, os
membros que "saem" tem muito mais chances de compartilhar
idéias, obter
apoio ou críticas. Digamos que eu queira abandonar uma
certa comunidade e
propor uma outra, que pode até ser parecida, ou não.
Sei lá, não importa.
Bem, saio de uma reunião irritadíssima com algum
bate-bota, decido romper
com a tal instituição e fundar uma outra, escrevo
um mail contando o porquê
da decisão, aperto um botão e lá está:
milhares de pessoas têm, quase
imediatamente, meu comunicado. Isso tudo é hipotético,
viu, pessoal...
Curvo = E antes da net, como era o procedimento normal?
Scalzo = Vamos ver a hipótese contrária: antes das
listas de mails. Eu
teria que: 1-redigir meu texto, 2-fotocopiá-lo (mil cópias?
mais?), 3- ter
acesso aos endereços dos membros da comunidade, 4-comprar
mil envelopes, 5-
selar (haja grana!) 6- ir até o correio 7- enviar. Alguns
dias depois, a
bola passaria para quem recebeu. Que fazer? Poder-se-ia: 1- achar
válida e
apoiar a decisão, tendo assim que passar pela maratona
das mil cópias xerox
+ correio, 2- achar válida e apoiar a decisão mas
não ter coragem ou grana
pra manifestar minha opinião para toda a comunidade e,
então, mandar meu
apoio somente para quem me mandou o mail, 3-achar válida
e apoiar a decisão
mas não ter coragem ou grana pra manifestar minha opinião
e não fazer nada,
4- achar um absurdo o mail da desertista e passar pela maratona
das mil
cópias xerox + correio, gastando a maior nota pra dizer
que não aprovo, 5-
achar que não é bem assim e querer argumentar, mostrando
seu ponto de vista
pros outros membros da comunidade e passar pela maratona das mil
cópias
xerox + correio, gastando a maior nota pra dizer que dessa coisinha
e assim
por diante.
Curvo = O que você sublinharia como mais relevante, nisso
tudo?
Scalzo = O fato de ter que "passar pela maratona das mil
cópias xerox +
correio, gastando a maior nota" para participar da conversa,
apoiar ou
desapoiar é mais que relevante, pode ser impeditivo. Já
com a lista,
qualquer pensamento que passar por perto do teclado, se em um
momento de
entusiasmo, o autor do mesmo o materializa na máquina de
mails e aperta o
botão do "enviar"....Voilá: toda a comunidade
sabe o que penso que penso. Em
uma semana posso contar com apoio ou com a repulsa, até
mesmo com o pouco
caso interestadual, nacional, internacional! Pessoas se reunem
em torno da
nova causa, uma nova comunidade facilmente se organiza. O que,
no tempo do
correio, levaria muito mais tempo, talvez nem acontecesse...
Terezinha Curvo é Psicanalista e fundadora do MPC.
e-mail: tcurvo@zaz.com.br ( 321 0900 )
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