<%@ Language=VBScript %> Ginásio de Limoeiro - Pernambuco (depoimento)

Pelo Ginásio de Limoeiro, nascido nos anos 30, passaram muitas figuras ilustres de ontem e de hoje

 

SAUDADES, MUITAS SAUDADES

 

Ginásio de Limoeiro

 

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               Em março de 1959,  chegava o autor a Limoeiro/PE, vindo do Recife onde dera baixa da Polícia Militar do Estado. Viera a convite do padre Nicolau Pimentel por  indicação do padre José Aragão Araújo, para ser professor de Matemática do Ginásio de Limoeiro, que era na época uma espécie de universidade do ensino médio no interior do estado, tão elevado era seu conceito. Seu corpo docente era dos melhores.

               Abaixo, foto do Ginásio na década de 60. À frente,  um grupo de alunos internos. No alto do prédio, a inscrição "Gymnasio de Limoeiro", grafia da época (anos 30) de sua construção. Hoje funciona no local uma escola estadual, com porta de entrada no muro já descaracterizada. Cabe à prefeitura de Limoeiro ou ao próprio estado tombar o edifício como patrimônio da História da Educação no interior de Pernambuco, a fim de´preservar sua aparência externa.  Sua breve história é contada noutro local.

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Sem roupa

              Chegara de tanga ao Ginásio, em matéria de vestuário. O padre Nicolau logo lhe adiantou uma grana para comprar o “enxoval” de professor. O ex-aluno João Aquino de Moura o levou às Casas José Araújo, da cidade, para adquirir o desejado. Durante bom tempo o paciente João Aquino o esperou, sem nada reclamar, a fim de que ele pudesse se prover de meia dúzia de calças e de outras tantas camisas. 

Latim

              O Ginásio (onde hoje é uma escola estadual) ficava bem em frente à estação de trem, já demolida (estupidamente). Tinha uns 600 alunos, sendo 150 internos. O chefe de disciplina e vice-diretor era o professor George Miguel Pereira. Funcionava de manhã com os cursos primário e ginasial. Tinha mais, anexo, um curso de Contabilidade (2º ciclo), à noite, onde o autor cursava a primeira série. A surpresa veio logo do padre Nicolau: 

              ─       Você vai ensinar Matemática a sete séries do ginasial, mas vai ter que pegar Latim também para três primeiros anos, que não tem professor para a matéria.

             ─    Mas padre, eu não sei nada de Latim. Não fui seminarista. Só estudei um ano essa matéria. E, além disso, fui mau aluno – ponderou o novo professor.

               ─    Bobagem! Eles sabem menos do que você porque nunca viram Latim. Não tem problema. Só é você aprender as quatro declinações.

              Não teve  outro meio senão aceitar o desafio, pois queria segurar a chance, a primeira depois que deixou a vida militar.

Banquete

              O emprego era bom, pois vinha com casa, salário razoável e comida boa. Esta era na casa do padre no térreo em anexo ao lado. Nunca tinha visto tanta fartura e variedade no ramo! Hoje deve ser difícil achar coisa parecida. O padre comprava comida para 150 internos, reservando o filé em todos os sentidos para casa dele. João, o cozinheiro, craque na cozinha, iniciava e dona Maria, irmã do padre, fazia o resto. Cada dia era para o autor uma festa, um banquete. Nos seus 23 anos, como se deliciava à mesa naquele tempo! Tinha de se controlar para não comer demais. Dormia no primeiro andar, em quarto dividido com Lindolfo Cabral Pimentel, professor de Inglês e sobrinho do padre Nicolau.

Grilos

              A coisa ia bem, mas muitos alunos não engoliam esta realidade: como pode um aluno que estuda a 1ª série de Contabilidade (um ano na frente do ginásio) ser professor do ginasial? Era natural o questionamento. Isso o obrigava a estudar mais. Ainda bem que tinha o tempo a seu favor.

             Os alunos foram mais longe. Vigiavam-no como discípulo de Matemática para conferir sua nota. Não podia tirar menos de dez, viu logo. Esse era seu grilo. Em dias de entrega de provas um monte deles se punha perto para checar quanto tirou.

Caridade

            No primeiro ano tudo bem. No segundo, porém, o professor Frazão, funcionário do Banco do Brasil, deu uma prova de quatro quesitos com uma questão muito trabalhosa. Matou três questões, mas quando chegou à tal o negócio engrossou. Havia cometido um erro que, nervoso, tentava descobrir. A essa altura, os colegas dele já pediam o adiamento da prova, com uns dez minutos para acabar o tempo.  Frazão,  ao ver a apreensão dele, falou a toda a turma: 

              Como vocês estão achando a prova muito difícil, ela fica adiada para a próxima semana.

              Foi salvo pelo gongo! Tivesse tirado menos de dez, poderia ter sido um desastre. Frazão fez-lhe uma caridade. Salvou seu conceito e talvez seu emprego. Ficou a dever essa dívida a esse mestre. Depois, a nota maior veio até o final do curso, para felicidade sua.

 União

             Foi muito feliz como professor. A união dele com alunos e colegas foi perfeita. Pouco menos jovem do que os primeiros, foi amigo deles em bate-papos sobre namoradas e assuntos diversos, colega de cinema (no velho Cine São Luiz que estava sempre para cair, mas que nunca caiu), de encontros em bares. na praça e em festas no Colombo e no Centro (clubes sociais da cidade). Desse tempo guarda gratas lembranças. A foto abaixo mostra o autor, de pé à esquerda, com alunos do Ginásio, colegas seus (ele também foi aluno), na Praça da Bandeira.

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             Mais de quarenta anos depois, os alunos daquele tempo estão hoje dispersos. O reencontro com algum deles é sempre uma festa de saudades. Não é possível citar o nome de todos eles, mas ele deixa aqui o nome de dois para representar os demais, os quais revê com certa freqüência:  

Depois

            Outros caminhos seguiu o jovem professor de Matemática. Virou bancário do Banco Brasil. Entrou na universidade aos 30 anos. Tornou-se auditor fazendário e deixou de ser professor.  Aposentou-se e agora dobrou o cabo dos sessenta.

           Sob o ponto de vista de realização pessoal, ter ensinado no Ginásio de Limoeiro durante um triênio, no verdor dos anos, foi o que mais lustrou seu modesto currículo. Foi, sem dúvida, sua cátedra, sua glória maior no curto período de magistério.

 

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Revisada em 23/04/2004

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