A globalização centraliza lucros e espalha desemprego, cavando mais o fosso entre ricos e pobres!

OPINIÃO:

 

FATALIDADE OU NÃO?

 

Globalização   

 

 

O mundo é cada vez mais desigual. Nunca foi tão grande a desproporção entre os mais ricos e os mais pobres. A renda dos 20% mais ricos é hoje 74 vezes maior que a dos 20% mais pobres, quando em 1960 era de 30 vezes, e no auge do imperialismo do século 19 era de 7 vezes (CartaCapital - nº 123).

   

            O avanço das comunicações e a revolução da informática viabilizaram a globalização financeira que é o giro mundial de capitais, cujos principais aspectos são:

  • Negócios bilionários feitos com rapidez;

  • Difusão imediata ao mundo dessas operações.

           Milhões no mundo aplicam a fantástica soma de 20 trilhões de dólares, que daria para comprar 250 milhões de imóveis a 80 mil dólares cada um (cerca de 220 mil reais cada). Mudanças só em um por cento desse valor podem deslocar 200 bilhões de dólares (cerca de 560 bilhões de reais) e gerar abalos globais. Essa parte volátil do capital prende-se a atos de pura especulação assim como a empresa globalizada negocia mais com mercados, sem ligar para a questão do emprego. 

           Basta ver, no último caso, o exemplo da Nike: vendedora mundial de tênis e roupas. Não tem uma só fábrica, um só operário ou uma só máquina. Toda a sua produção é feita sob encomenda a outras empresas, onde o custo for menor. Num passe de mágica, pode sair de um país para outro, deixando atrás de si um rastro de miséria e fome. É o capital sem vínculo humano e sem pátria, cujo único objetivo é ganhar mercados para elevar seus lucros.

 

Evidências

 

           Esses tremores financeiros podem atacar frágeis moedas de países dependentes. Nisso está um lado ruim da globalização, cuja regra é, mais ou menos, a seguinte: para os países ricos os lucros crescentes, o capital aumentado, suas empresas protegidas; às nações pobres cabe abrir-se a importações, endividar-se, privatizar tudo, desnacionalizar suas empresas e ficar com o desemprego (são 11 milhões sem emprego no Brasil) e a miséria, "que o mundo foi feito mesmo para os países ricos" (parecem dizer). 

          É o fato econômico de mão única que privatiza ganhos  e socializa perdas para a periferia. É o jogo dos mais fortes contra os mais fracos. 

           Países endividados e dependentes vivem, em geral, na absurda condição de quem, por hipótese. tenha algo a dever com o risco de o credor poder exigir, quando o quiser, a dívida. É o perigo da "fuga" de dólares especulativos, por exemplo, a provocar quedas na taxa cambial da moeda doméstica. .

           E o lado bom da globalização? Claro que há. Porém, o lado mau anula qualquer ângulo positivo porque aquele ataca o mais essencial à vida: a sobrevivência, com a difusão do desemprego.     

 

Submissão financeira

 

           A partir da década de 90, a abertura às importações e o aumento exagerado de dívidas levaram o Brasil a uma sujeição financeira que vem  impedindo a economia brasileira de crescer nos últimos anos. O mercado externo, com suas metas, é que tem governado o País que deixa de se voltar para seus problemas básicos e passa a depender mais de dólares externos e de seus humores. Para quebrar essa submissão, basta disciplinar as importações e esticar a liquidação de dívidas no tempo, de modo a sobrar recursos para o crescimento e a prestação de serviços públicos essenciais de primeira qualidade.

           Medida desse tipo seria, com certeza, absorvida pelos credores, pois nada mais frágil que um sistema financeiro ou bancário tido como forte, porque ele se baseia na confiança de depositantes. Bastaria, por exemplo, um grande devedor dizer que não vai pagar sua dívida, que esse sistema poderia quebrar como um todo ante a falta de tal confiança. Desse modo, credores tendem a aceitar qualquer renegociação da dívida, de forma que seja assegurado seu pagamento.    Piada financeira torna bem clara essa situação.

 

Rombo externo

 

           Importações desmedidas, remessas de lucros de multinacionais, pagamentos de dívida externa e de outros itens cavam o rombo nas contas externas de países dependentes como o Brasil. As exportações não cobrem a fenda. Para tapá-la recorrem a mais dívida externa, a venda de estatais ao capital externo e, sobretudo, a dólares especulativos,  os quais fogem ao menor tremor financeiro ou fazem isso apenas para especular. Tal é a situação desses paises dependentes, sujeitos a passar por crise semelhante à da Argentina.

 

Defesa

 

           Os países atacados pela especulação sobem os juros para segurar os dólares “salvadores” que, de olho numa queda da moeda do país vítima, querem fugir para voltar depois com ganhos.  Nem sempre os fujões são detidos. 

            Juros elevados se voltam contra o próprio país agredido. Sofre a população com o custo de vida aumentado, sofrem as empresas com os custos acrescidos e sem poder competir no mercado externo onde competidores  pagam juros baixos em seus países de origem. Cai o consumo interno. Vem a quebradeira.  A dívida monstruosa do governo fica mais maior. O povo acaba pagando, mais uma vez, a conta. Beneficiados são apenas os capitais especulativos e os banqueiros que engordam mais seus lucros já obesos.

 

Dívidas

 

           São frutos financeiros "colhidos" por países pobres na safra da globalização. Eles tendem a virar colossais para o devedor, ficando, na prática, impagáveis.  Bem sabem credores disso, razão por que, em regra, procuram "administrar" o pepino e rolá-lo em bola de neve para garantir a paga dos juros (como fazem os agiotas) e a crença, a bem do sistema financeiro internacional, de que o débito vai ser pago . 

           O endividar-se tem sido usado, ao longo do tempo, como meio político de dominação do devedor, seja entre países, seja entre pessoas, por meio da  submissão financeira

 

Anedota

 

           Corre nos meios financeiros breve história, quase piada, mas de fundo real. Seguinte: "Se você deve um milhão ao banco, este tem sua vida à mão. Porém, se você deve um bilhão, você é que tem a vida do banco à mão". Entendam! 

           Ciente disso tudo, grandes devedores devem exigir um alongamento da dívida, de modo a pagá-la sem impor sacrifícios a seu povo. Nesse assunto, aliás, esses devedores devem cantar de galo, de igual para igual, em vez de ficar a cacarejar como ocorre com freqüência. Não se trata de dar calote, em absoluto, mas de renegociar a dívida com soberania. Eis aí uma boa idéia para o Presidente Lula, se quiser cumprir o que prometeu. 

 

Fatalidade?

 

           A globalização é um processo fatal na vida das nações hoje. Não pode ser evitado ou vencido. Ninguém pode escapar dele. É o que dizem. Bobagem! O Império Romano era eterno e caiu! A União Soviética era para sempre e ruiu do mesmo jeito! Os Estados Unidos eram inexpugnáveis, mas o ataque terrorista de 11 de setembro provou o contrário!

            Na Terra nada há de fatal, definitivo, inatacável, invencível, indestrutível, senão a morte!

            

Argentina

 

          Cumpriu à risca o figurino neoliberal. O capital internacional instalou-se lá. Sugou-lhes as telecomunicações, o subsolo, o petróleo, o gás, a água, a saúde, os bancos, as empresas de energia elétrica e firmas rentáveis do capital privado. Em suma, venderam  tudo, menos a Casa Rosada. Para completar,  o país se abriu às importações, debilitaram o Estado, amoleceram as relações de trabalho, tiraram direitos do trabalhador, arrocharam salários, elevaram a carga tributária e fixaram o desemprego. As dívidas subiram às nuvens. 

           Vários planos econômicos. De pacote em pacote para pagar dívidas, impuseram aos argentinos mais sacrifícios. O  fim disso foi a crise conhecida. O modelo adotado, o mesmo em voga no Brasil de FHC, quebrou o país. Até aí algo parecido com o Brasil? A diferença principal é que lá a "modernização" acabou na prática e deu no que deu. Cá, ela ainda pode está em curso.

          O sufoco dos argentinos tem, no fundo, um objetivo: poder pagar papagaios externos. É legítimo sacrificar uma gente para poder pagar dívidas? Não seria mais lógico alongar a paga destas no tempo? Não faz isso o freguês que deve muito ao bodegueiro da esquina ou ao agiota da avenida, para não ficar privado de fazer feira em casa? 

           O neoliberalismo -- que pariu essa crise -- por que não acha uma saída para ela, sem ferir a dignidade  do povo do país vizinho? Por que não concede perdão de dívidas? Países do Terceiro Mundo bem que merecem isso.

  

Reações

 

          Países, que ficaram contra o FMI e não aceitaram imposições neoliberais, cresceram muito e continuam a crescer. Exemplos: Malásia, Coréia do Sul, Rússia, China.

 

Reação mínima

           

           Nesse sentido, pode-se citar Santa Cruz do Capibaribe/PE, cuja gente, por conta própria e sem ajuda ou influência de fora, fez para si uma justa distribuição de renda por meio da sulanca, modelo econômico de sua exclusiva autoria, com reflexos em vários estados do País. Hoje seu produto já entra legalmente no Mercosul, onde já esteve por vias escusas. Esse êxito não é uma saída para o desenvolvimento fora do modelo da globalização?

 

Passividade

           

            Embora seja difícil, é possível reagir a esse determinismo econômico. O problema é que governos de países pobres aceitam logo a coisa de forma passiva assim como  quem faz uma compra a prazo como única opção, engolindo, em ambos os casos, a jogada da outra parte, sem resistir, analisar e buscar outra saída. Como não há nada de graça, depois vêm os juros que podem ser altos demais.  

Fonte de dados básicos: Folha de São Paulo, edição de 01.11.1997.

CartaCapital - revista semanal brasileira.

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Atualizada 12/02/2004