<%@ Language=VBScript %> Privatizações - versos livres

 

OPINIÃO:

Cadê a prestação de contas das privatizações? O gato comeu?

 

Privatizações

 

 

(encham os carrinhos)

 

 

 

 

 

O privatizar fraterno

usa o cobre faturado 

em serviço básico.

Mas isso é em tese;

noutro país acontece.

Cá, o ouro das vendas

paga dívidas eternas

e tapa vastas fendas

em externas faturas.

   

Pra mera casa vender

exige-se do vendedor

ou de seu procurador

a devida assinatura

em capaz escritura.

Quem escritura firmou

ou procuração passou

a inquilinos do poder,

provisórios gestores,

para vender estatais 

como se vendem flores?

Se o menos é proibido,

o mais seria permitido?

 

Acaso o efetivo dono

de citadas empresas,

de impostos derivadas,

não é mesmo o povo?

Alguém vender pode 

algo fora de sua parte 

sem o devido autorizo

e botar a mão no alheio?

 

O merceeiro bobo

vende a astuto lobo

peças de porcelana

a preço de banana,

recebe moeda podre

como se fosse cobre,

faz e engole dívidas

e, contando até três,

empresta ao freguês

dinheiro em excesso,

carente ao progresso

do escasso empório.

 

É o jogador alienando

sua casa de morada

pra pagar uma fatia 

da dívida assumida,

feita no verde pano!

 

Vinte mil na casa aplica

que antes da reforma

uns sessenta mil valia,

vende-a, em seguida,

por mil vezes trinta,

deixando dentro no cofre

mil e duzentos em cobre. 

Isso é erro de vendedor,

venda de final de feira

ou ardil de comprador?

 

Cassam liminares

de Juízes regulares

para realizar vendas

de riquezas do País.

Juízes de apoio

estariam no erro,

e estrelas do topo

estariam no acerto? 

 

Se capital estrangeiro

vem a torrão brasileiro,

por que não veste mais

fantasias de pedreiro,

de investimento novo,

de passados carnavais?

Por que iludir o povo

com disfarces batidos

de arquitetos sabidos

de projetos concluídos?

 

Com vendas realizadas,

ao invés do previsto recuo,

houve forte avanço claro

de dívidas acumuladas,

engordadas na usura

da badalada abertura.

Vazantes de dólares

são mais caudalosas

com envios regulares

de privatizadas gulosas.

Ao invés de amortizar,

as intenções de fato

do privatizar intenso

seriam mesmo elevar

o endividar-se imenso?

 

Firmas estrangeiras

compram no exterior,

demitem brasileiros

e aceitam estrangeiros;

Nativas, sem comprador,

entram na quebradeira,

fabricando desemprego,

gerando desassossego,

fome, dor e choradeira.

 

No País do carnaval

não tem mais guarida

estatal bem nacional,

mas possui acolhida

estatal estrangeira

na compra enxerida

de estatal brasileira.

 

Rima tem privatizar

com desnacionalizar

e com desempregar.

Seria só coincidência

de idêntica desinência

ou rima até nos fatos

como miam os gatos?

 

A avaliação alarmante

do privatizar dominante

aponta para prejuízo

no dinheiro recebido,

no benefício prometido

que não foi cumprido,

no desemprego havido.

Seria a conta invertida

da globalização sabida?

  

Se até bem popular

pode ser privatizado,

há profecia diferente

da do beato penitente:

sertão não vai virar mar

nem mar vai virar sertão,

mas público será privado

e privado será particular?

 

E quando acabar tudo,

enfim, o que vai à leilão?

Correr a investir não vão

com vistas à produção?

Por que não fazer agora,

sem prazo, sem demora?

 

Veja-se o exemplo vivo

da alegre Terra do Tango,

indo por bitola  neoliberal,

fez o que o FMI disse,

vendeu de ponta a ponta,

menos a Casa Rosada,

 e, de pacote em pacote,

 recolheu o caos social!

Não pode, enfim, o Brasil

seguir o mesmo caminho,

revivendo o pais vizinho!

 

Há prestações de contas, 

fajutas ou verdadeiras,

mas contas divulgadas,

do giro de grana do povo

em poder de cada governo. 

Cadê as contas prestadas

de empresas privatizadas?

Quanto montante rolado!

Qual foi o total arrecadado,

em que o ouro foi aplicado?

Isso seria perna de cobra,

ninguém sabe, ninguém viu,

teria ficado na caixa-preta

ou seria assunto pra psiu!?

A tal lei de encargo fiscal,

de olho em servidor público,

não vê essa omissão capital

ou faz vista grossa no caso? 

 

Privatizada muita coisa,

a mentira se fez concreta:

grana não foi empregada

no bem do serviço público,

preço, ao invés de nanico

como dizia a propaganda,

assumiu ares de acavalado. 

Em tripla cilada caiu o povo:

venderam a preço de banana,

 metal tomou chá de sumiço

e cobram preço de gasolina,

fazendo de negócio da China

as galinhas dos ovos de ouro.

 

Gente com pouca grana,

com salário arrochado,

não aceita serviço caro

de privatizada gulosa

como as de telefonia

que caem em agonia.

Seria o próprio tiro

saindo pela culatra?

Mas sendo o serviço

do tipo essencial mesmo

como a luz de cada dia,

recusar não se pode:

ou se cai no calote 

ou em boca de macaco.

 

Por alguns trocados

venderam a CILPE

que findou nas mãos 

da megaPARMALAT.

Uma se tinha estouros,´

pipocos domésticos,

o Estado submergia.

A PARMA chega agora

com rombo internacional

de 17,5 bilhões de dólares,

que o Brasil, sem capital,

submergir jamais pode

nem pra cobrir tem lata.

O leite foi derramado, 

o tiro saiu pelo avesso.

 

Neste arremedo de verso

pode haver duros enganos

no jeito sem jeito do verso,

mas no vender duvidoso

erros têm acontecido,

reais deslizes cabeludos,

a chocar bolsos humanos,

de pequenos a graúdos!

Um erro vem da fatalidade

de não ter do verso a arte;

outro vem do vendeiro rude

ou de mera intencionalidade?

 

FIM

Recife, janeiro/2002

Beato penitente - Antônio Conselheiro, da Guerra de Canudos (1897).

CILPE - Companhia de Industrialização de Leite de Pernambuco.

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Revisada em 14/04/2004