As Catedrais góticas não são apenas o produto de especulações puramente intelectuais, mas representam o sucesso do conúbio entre o espírito e o trabalho manual. Naquela época remota, a distância conceitual entre a praxe e a teoria não era tão acentuada como no mundo contemporâneo, sendo que na Idade Média o homem ainda possuía a coragem da fé, entendida como procura de um encontro com a divindade. O pensamento medieval tinha uma percepção extremamente religiosa da vida e do mundo. Deus era tido como a fonte de toda a sapiência, e a teologia era considerada a mais importante das disciplinas. Nesse contexto cultural, o pensamento místico ficava totalmente integrado e entrelaçado com os conhecimentos esotéricos da Tradição, a doutrina secreta que desvenda os mistérios do Universo.
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Simbolicamente, nas Catedrais a dimensão vertical enfatizava o impulso da Terra para o Céu. Todavia, do ponto de vista esotérico, esse percurso podia ser interpretado no sentido oposto, isto é da superfície da Terra em direção de seu seio. Destarte, com a finalidade de reforçar a simetria entre o Céu e a Terra, nos subterrâneos de muitas Catedrais foram cavados poços cuja profundidade correspondia à altura do pináculo mais alto. Além disso, uma fração significativa de Catedrais foi erguida em lugares considerados sagrados por religiões mais antigas, lugares onde existiam pontos de relevância particular na concentração da energia terrestre. Recentemente, cientistas britânicos confirmaram que em muitos desses sítios se encontram mananciais ou rios subterrâneos cuja fluência gera campos electromagnéticos caracterizados por efeitos ainda parcialmente desconhecidos.
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Assim como nas construções megalíticas das antigas civilizações, o culto da pedra era praticado nas Catedrais góticas. A indeformabilidade e a resistência da pedra fez com que esse material fosse retirado em abundância das montanhas e utilizado como elemento primário na edificação das obras. Os construtores eram conscientes de que essa intervenção podia, de alguma forma, alterar o equilíbrio do cosmo. Por isso o assentamento da primeira pedra, que marcava também o início do percurso de edificação espiritual dos próprios construtores, era uma cerimonia religiosa realizada sob a orientação de um astrônomo, pois a Terra era tida como um corpo vivente que não podia ser profanado impunemente.
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A cruz é bem mais antiga que o próprio cristianismo, sendo tal forma venerada pelos antigos Celtas. Em época pré-cristã ela representava a árvore da vida mas, progressivamente, passou a significar a árvore do sacrifício de Jesus. Por isso as Catedrais incorporaram esse símbolo em termos estruturais: a planta, em forma de cruz latina, tinha o abside orientado ao leste, na direção do sol nascente. Um portal ficava ao norte (onde aparentemente tudo é obscuridão) e era gravado com símbolos iniciáticos. O portal principal, ao leste, tinha baixos-relevos mostrando cenas do juízo universal. Ao sul uma grande rosácea deixava entrar a luz solar em todo seu esplendor. |
Simbolicamente a rosácea se refere ao sol (ou "roda de fogo") que, na mitologia céltica, marcava os tempos cíclicos na vida dos seres humanos. Por outro lado, a rosácea é também uma rosa estilizada associada, na antiga Grécia, ao culto de Afrodite, deusa do amor. Todavia, passando através do culto de Isis, a sensualidade expressa pela rosa tornou-se mais espiritual, sendo que os iniciados, comendo algumas rosas, sublimavam seus instintos carnais começando um processo de regeneração interior. Foi assim que a rosa passou a ser incorporada na tradição cristã onde representa a Virgem Maria, a Rosa Mística. Na iconografia cristã a rosa, com todas suas pétalas abertas, simbolizava também o cálice que recolheu o sangue de Cristo, ou seja o Santo Graal.
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Além das rosáceas, grandes vitrais coloridos iluminavam as Catedrais. A luz tinha um significado espiritual para os fiéis que, mergulhados numa claridade rutilante, se sentiam participantes de uma única energia cósmica criadora. Quanto aos iniciados, eles percebiam a luz como a antítese das trevas junto às quais formava o primeiro dos dez pares de opostos que, na filosofia pitagórica, dominam o mundo.
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Nas esculturas das Catedrais eram representados tanto animais reais como seres mitológicos e fantásticos. Embora sereias, centauros, cavalos alados, etc. fossem claramente de origem pagã, a presença deles na iconografia medieval era justificada por se tratar de produtos intemédios da Gênese. Contudo, as criaturas que apareciam com maior freqüência nas pinturas e nas esculturas eram aquelas que constituíam o tetramorfo e simbolizavam, também, os quatro evangelistas: o leão, a águia, o boi e o anjo. A escolha do número quatro não foi casual, pois decorre de uma ordem quatrenária presente na natureza: quatro estações, quatro fases lunares, quatro pontos cardeais, etc. Outrossim, o quatro foi inserido na arquitetura sagrada de civilizações distantes no espaço e no tempo como os Maya, os Egípcios, os Etruscos e os Celtas. Na cultura clássica esse número está ligado à
tetraktys pitagórica
enquanto, no âmbito do judaismo corresponde às quatro letras que formam o nome de IEVE
(yod, hé, vav, hé).
No esoterismo, os animais do tetramorfo tinham o significado seguinte:
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