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Tiquinho era um mamute enorme que inspirava medo e muito respeito a quem o visse pela primeira vez. Mas como Tinho (seu apelido) era muito simpático e falador, todos os animais da floresta gostavam muito dele e sua presença era sempre obrigatória em todas as festas, torneios e eventos da floresta.
Tinho também era um político da oposição e como ele falava muito e bem, vivia em cima de palanques, fazendo discursos contra a política adotada pelo Leão Bill, o Rei da floresta. Ele pregava uma melhor distribuição de renda, melhores escolas e o fim da diferença de classes entre ricos e pobres. Enfim, Tinho era um socialista militante.
Mas Tinho também gostava dos benefícios que o capitalismo lhe trazia. Ele tinha um bom apartamento situado na avenida principal da floresta e onde ele morava sozinho, cercado de todos os aparelhos eletrônicos bem modernos e uma gorda poupança. Gostava também de farras noturnas e, principalmente, de viajar muito e conhecer florestas diferentes.
Tinho tinha um sonho. Ele queria viajar para Cuba e conhecer esta ilha tão famosa pelo seu sistema social socialista e pelas belezas naturais.
Finalmente após inúmeras tentativas, chegou a hora de Tinho realizar o seu sonho e ele embarcou todo feliz em um jato (de uma companhia aérea capitalista, pois no avião russo ele não confiava), máquina fotográfica japonesa pendurada no pescoço, mochila jeans do Cantão, tênis Reebok, boné da MBA e um caderninho de notas e caneta Mont Blanc para anotar com detalhes todas as entrevistas que ele pretendia fazer com o povo do local.
Logo que chegou Tinho ficou fascinado pelas cores tão vivas da ilha. Mas, com o passar dos dias, ele começou a perceber que também lá havia uma grande diferença de classes, onde os turistas e estrangeiros tinham acesso a locais e bens mais luxuosos, onde o povo de uma forma geral não podia entrar. Algumas coisas fascinaram Tinho, como a organização, os hospitais, que apesar de tão pobres quanto os que ele conhecia na sua floresta, funcionavam direitinho, e as escolas, sem greves e com professores sempre.
Mas a saudade do feijão com arroz foi batendo, e Tinho sentia falta do jeitinho brasileiro, do jabá com jerimum, de poder falar livremente contra o Rei Leão e, principalmente, da liberdade de poder ir e vir, viajar para lá e para cá sem problema algum com a polícia nem com o governo.
Tinho logo voltou, para alegria de todos os seus amigos saudosos. Só que agora ele estava mais compreensivo, menos radical em seus pontos de vista políticos, e brigando menos com seu amigo Bill, o Rei Leão, seu adversário só na política. Ele voltou então, à sua vidinha de antes, sendo o centro das atenções nas rodas de amigos, bebendo seu vinho francês, contando das belezas naturais e das "chicas" cubanas, e como sempre, é claro, não dando chance para ninguém mais falar, pois o hábito de falar pelos cotovelos ele não perdeu.
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