Era uma vez um bosque encantado chamado Zalinus. Nele habitavam os mais diversos seres. Era, na verdade, um bosque bastante movimentado. Todos os dias acontecia alguma coisa por ali. E quando isso não ocorria naturalmente, os seus moradores tratavam logo de arrumar um acontecimento qualquer que lhes animasse o dia.

Alguns dias eram de calmaria, parecia que todos os seres estavam recolhidos maquinando mais traquinagens, brincadeiras, festejos. Mas, na verdade, nesses dias eles estavam em seus esconderijos, se divertindo com outro passatempo. Todos os moradores de Zalinus possuiam uma caixa mágica que os permitia se comunicar entre si. Quando não se viam pessoalmente se sentavam em frente à caixa e ficavam se divertindo, zoando uns com os outros.



Quando acontecia de todos se encontrarem na clareira ... ninguém aguentava tanto barulho !!!

No bosque morava uma duendina chamada Dralaman, muito acanhada, tímida, super envergonhada ... gostava de olhar tudo de longe. Se divertia observando os demais fazendo bagunça.



Um certo dia a fada Cate, que apesar de atrapalhada, era muito simpática, viu Dralaman quietinha no seu canto. Aquilo para Cate era o fim !!! Imaginem, só observar ! Tinha de participar também.

E lá foi a fada Cate convencer uma duendina teimosa a entrar nas brincadeiras. Essa fada adorava reunir todo mundo, fazer festas, inventar passeios ... Conhecia todo mundo no bosque e era muito querida por lá. Mas Dralaman insistia em ficar no seu cantinho. Ela relutava muito em sair da toca em que morava. Apesar de que, vez por outra, a fada tanto chateava Dralaman que esta acabava atendendo aos apelos dela.



Um dia Cate foi acordar Dralaman que adorava dormir encolhidinha na toca. Bateu e bateu na porta ansiosa. Cate acordava muito cedo e não entendia porque alguns seres gostavam de dormir até tão tarde, em vez de aproveitar a vida, ter mais tempo para participar de brincadeiras.

Quando Dralaman enfim acordou e abriu a porta, Cate foi logo entrando, falando sem parar:

- Dralaman se arrume ! Organizei um encontro do pessoal. Só os mais chegados, pode deixar. Sei que você é tímida, vive com essa mania de se esconder pelos cantos, atrás das árvores, debaixo das pedras ... Vai pouca gente: só umas 40 ou 50 !!!

- Tudo isso ?! Dralaman se assustou: É muita gente !!!

- Que nada, foi logo retrucando Cate impaciente. Só irão os meus amigos mais chegados.

- E quem são eles, perguntou a duendina já nervosa com esse convite. Não conheço ninguém nesse bosque. Só você !!!

- Mas você é muito chata mesmo, Cate se impacientou, apesar de ir enumerando alguns dos amigos com os olhos brilhando:

Uz, a bruxa resmungona.
Are, o amigo anjo que se perdeu no bosque e desistiu de procurar o caminho de volta.
Sem, o elfo de orelhas pontiagudas que nunca aparece por inteiro, mas fica atrás das árvores paquerando as mocinhas do bosque. Ele até me confidenciou que já lhe viu passar pela clareira uma vez e que achou que você tinha belas pernas !
Um passarinho rabugento que ainda não te apresentei.
Cris-antemã, uma florzinha muito simpática e que pode até te dar umas dicas sobre uma dessas enrolações burocráticas em que você vive metida.
Tem muito mais gente: um lobo, um gnomo, um sapo, um gigante que trata dos seres doentes do bosque ...
Até a irmã da Lua que mora lá do outro lado do bosque se comprometeu a vir !!!

Dralaman pensou, pensou, mexeu nos cabelos ... e respondeu:

- Vou não ! Vai você e depois me conta o que aconteceu e me mostra as fotos.

Cate se impacientou de novo e foi saindo da toca de Dralaman contrariada:

- Você é a duendina mais boboca que já conheci !

O tempo passou e as vezes Dralaman se deixava apresentar a alguém. Ia perdendo a timidez aos poucos, mas sua toca continuava sendo seu lugar preferido, onde ela se entretia com sua caixa mágica que tanta diversão lhe proporcionava.

Numa de suas andanças por Zalinus, Dralaman se deparou com uma moça bonita olhando para sua caixa mágica e resmungando. Dralaman se assustou quando a viu pegar da vassoura fazendo como se fosse atacar a caixa.

- Faz isso não ! Dralaman gritou, pela primeira vez se pronunciando a alguém sem ter sido convidada. É uma caixa mágica tão bonita e útil, continuou, por que você quer quebrá-la ?

A moça olhou para aquela duendina pequenininha e intrometida e começou a resmungar:

- Essa porcaria não funciona direito, vive apagando sozinha, nem me obedece aos comandos.

Ela gritava tanto que atraiu outros moradores, curiosos para ver o que se passava. Alguns não se aproximaram, mas Cate, a fada que nada temia em Zalinus, foi logo se adiantando:

- Se preocupa não Dralaman, é só a Uz, a bruxa resmungona. Quando algo a desagrada fica assim atacada ...

Dralaman se assustou: uma bruxa ! Nunca tinha visto uma, apesar de saber que existiam algumas ali pelo bosque. Isso era uma novidade para a duendina envergonhada. Ficou pensando enquanto mexia nos cabelos: mas é uma moça tão bonita ... pensei que bruxas fossem feias, verruguentas, mas essa não é nada disso.

Enquanto Cate e Uz discutiam Dralaman foi mexer na caixa mágica. Tanto remexeu que ela acabou ficando perfeita. Chamou Uz e mostrou o que tinha conseguido.

Uz só resmungou, mas a partir daí Dralaman foi percebendo que quando nada a contrariava, ela ficava sendo uma bruxa muito simpática e de boa conversa. Vez por outra dava uma bronca em Dralaman, chamando-a de tola, que não aproveitava as oportunidades que o destino apresentava. Mas a duendina era por natureza tão teimosa que nem ligava para nada disso que a bruxa dizia ...

Dralaman tinha poucos amigos por ali, mas gostava muito de todos eles. Sabia que eram amigos com os quais podia sempre contar e que era bem vinda quando os encontrava. Alguns amigos eram verdadeiros tesouros que viviam no cofre do seu coração.

A vida no bosque continuava a correr. E os seres que lá habitavam ficavam sempre a matutar:

- Com que novidade a fada Cate vai nos surpreender agora ?      


Malandra - 01/07/99



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