Este projeto tem como figura principal o músico Luciano de Moraes, que compôs todas as faixas e tocou a maior parte dos instrumentos. Sua intenção é a "mistura de rítmos e sons do sertão e do cerrado com música urbana". Quando eu ouço um trabalho que se propõe a este tipo de mistura, procuro saber inicialmente pra que lado as músicas pendem mais, já que tem grupos que fazem música pop e colocam uma violinha aqui e outra ali pra dar um toque regional. Este não é o caso de Chovendo na Serra, cujo acento é predominantemente interiorano.
    O rítmos são tipicamente regionais, e reforçam esta "linguagem" a percussão tocada por Willians Rizze e os instrumentos escolhidos por Luciano: viola de cocho, rabeca e viola de Queluz ganham destaque, enquanto a guitarra e o baixo elétrico aparecem menos, o que dá a algumas músicas uma característica rústica interessante.
    Muskitim e a faixa-título, que abrem o CD, tem cara de festa popular, com o marcante som da viola de Queluz que está em quase todas as faixas. Em seguida vem Kim, uma música mais bucólica, mineira, contemplativa e com uma bela melodia. No mesmo clima segue Guardei minha viola, um belo arranjo em que a viola elétrica e o baixo casam muito bem com a percussão.
    A convivência entre instrumentos elétricos regionais fica bem marcante em Mergus Octosetaceus, que começa com viola de cocho, mas termina com uma presença maior da viola elétrica e a guitarra fazendo a mesma melodia que, no início, era feita pela rabeca.
    Noite é talvez a que menos evoca atmosferas do campo com suas melodias, mas não chega a destoar do conjunto do CD. E é uma bela canção, com solos de bandolim e guitarra emocionais e bem colocados.
    É bom ressaltar que este CD foi inteiramente gravado e mixado em casa e a qualidade do trabalho é muito boa. A capa também foi feita por Luciano, e é este o único item que poderia ter recebido um cuidado maior.
    Nas onze músicas de Chovendo na Serra, Luciano de Moraes consegue seu intento de unir música de raiz, Clube da Esquina e sonoridades modernas, dosando muito bem cada elemento de seu caldeirão (ou melhor, sua panela de barro) de influências. Mesmo o uso de efeitos, como wah wah e flanger, é bem administrado, sempre a serviço da canção. Um ótimo trabalho.
    O site do projeto Brazmusic tem fotos, alguns mp3 pra baixar e lá você também pode encomendar o CD pra receber pelo correio.

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